quarta-feira, 9 de abril de 2025

ARTIGO DE OPINIÃO: NOVOS ÓDIOS - (FRAGMENTO) - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Novos ódios – Fragmento

           Luís Fernando Verissimo

        O racismo cresce e assusta na Europa, onde estive durante o último mês e pouco. Acontece um tétrico torneio de violência entre etnias e grupos – brancos contra negros e árabes, árabes contra negros e judeus, neonazistas contra negros, árabes, judeus e o que estiver pela frente. Racismo não é novidade no continente, e nem é preciso invocar a velha tradição anti-semita e o seu paroxismo nazista. Na Europa desigual que emergiu da II Guerra Mundial, portugueses, espanhóis, italianos, gregos e outros em fuga das regiões mais pobres eram discriminados onde procuravam os empregos que não tinham em casa, e o problema dos magrebinos na França é anterior à II Guerra. Mas todos integraram-se de um jeito ou de outro no país escolhido ou voltaram aos seus próprios países economicamente recuperados, e o velho racismo foi solucionado, ou pelo menos amenizado, pelo tempo e o progresso. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiASj1l8ro-iAZ3-U2KDEhksm_y_gyBbjRHPpAeVPkWlAGAv6ghC8XxehqlXxWr2KG5xSxRnxY3wGFTZRqvKQgfdx2bPRL4pGqzZ9OtTee5TD-oPFZa2uyAx8HplA2G8g5-ThJBozwTL3zLufsE3JZ63poH2aJ6amZ2_t02vjPUanBABpmjhbG5SKRgCJQ/s320/NEGRO.jpg


O que assusta no novo racismo é a ausência de qualquer solução parecida à vista. Ele é econômico como o outro, claro. Existe na sua grande parte entre jovens marginalizados e sem perspectiva. Mas envolve cor e religião e ódios culturais novos, ou – no caso de judeus e muçulmanos – ódios antigos importados. E o tempo só piora o novo racismo. Caso curioso é o do futebol, que deveria estar contribuindo para o entendimento racial, mas ajuda a deteriorá-lo. Não há grande clube europeu que não tenha um bom número de jogadores negros, que são ídolos das suas torcidas, mas alvos dos insultos raciais das torcidas adversárias – que esquecem seus próprios ídolos negros na hora do xingamento. É nos estádios de futebol que tem havido os piores incidentes raciais. Na França fazem campanhas contra o preconceito e a violência, e contra as novas manifestações do anti-semitismo, que tem sido uma infecção recorrente na história da Europa cristã. A luta parece em vão num mundo que, quanto mais cosmopolita fica, mais se retribaliza.

        [...]

Luís Fernando Veríssimo. O Estado de São Paulo, 31/3/2005.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 183.

Entendendo o artigo:

01 – Qual a principal preocupação de Luís Fernando Verissimo ao observar a Europa?

      A principal preocupação é o crescimento do racismo e da violência entre diferentes grupos étnicos e religiosos, um fenômeno que ele chama de "tétrico torneio de violência".

02 – Como o autor compara o racismo atual na Europa com o racismo do passado?

      Verissimo aponta que o racismo na Europa não é novidade, mas que o racismo do passado, que discriminava imigrantes europeus, foi amenizado pelo tempo e pelo progresso econômico. O novo racismo, por outro lado, envolve ódio racial e religioso, e não apresenta soluções óbvias.

03 – Qual o papel do futebol nesse contexto, segundo o autor?

      O futebol, que deveria ser um espaço de união e entendimento racial, paradoxalmente, tem se tornado palco de manifestações racistas, com torcidas insultando jogadores negros, mesmo quando seus próprios times contam com ídolos negros.

04 – Quais são os fatores que contribuem para o "novo racismo" na Europa?

      O novo racismo é impulsionado por fatores econômicos, como a marginalização de jovens sem perspectiva, e por ódios culturais e religiosos, tanto novos quanto antigos, como o antissemitismo.

05 – Qual a conclusão do autor sobre a luta contra o racismo na Europa?

      Verissimo expressa uma visão pessimista, sugerindo que a luta contra o racismo parece em vão em um mundo que, apesar de se tornar mais cosmopolita, também se retribaliza, ou seja, se divide em grupos com identidades fechadas e hostis a outros grupos.

 

 

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