Artigo de opinião: Novos ódios – Fragmento
Luís Fernando Verissimo
O racismo cresce e assusta na Europa, onde estive durante o último mês e pouco. Acontece um tétrico torneio de violência entre etnias e grupos – brancos contra negros e árabes, árabes contra negros e judeus, neonazistas contra negros, árabes, judeus e o que estiver pela frente. Racismo não é novidade no continente, e nem é preciso invocar a velha tradição anti-semita e o seu paroxismo nazista. Na Europa desigual que emergiu da II Guerra Mundial, portugueses, espanhóis, italianos, gregos e outros em fuga das regiões mais pobres eram discriminados onde procuravam os empregos que não tinham em casa, e o problema dos magrebinos na França é anterior à II Guerra. Mas todos integraram-se de um jeito ou de outro no país escolhido ou voltaram aos seus próprios países economicamente recuperados, e o velho racismo foi solucionado, ou pelo menos amenizado, pelo tempo e o progresso.

O que
assusta no novo racismo é a ausência de qualquer solução parecida à vista. Ele
é econômico como o outro, claro. Existe na sua grande parte entre jovens
marginalizados e sem perspectiva. Mas envolve cor e religião e ódios culturais
novos, ou – no caso de judeus e muçulmanos – ódios antigos importados. E o
tempo só piora o novo racismo. Caso curioso é o do futebol, que deveria estar
contribuindo para o entendimento racial, mas ajuda a deteriorá-lo. Não há
grande clube europeu que não tenha um bom número de jogadores negros, que são
ídolos das suas torcidas, mas alvos dos insultos raciais das torcidas
adversárias – que esquecem seus próprios ídolos negros na hora do xingamento. É
nos estádios de futebol que tem havido os piores incidentes raciais. Na França
fazem campanhas contra o preconceito e a violência, e contra as novas
manifestações do anti-semitismo, que tem sido uma infecção recorrente na
história da Europa cristã. A luta parece em vão num mundo que, quanto mais
cosmopolita fica, mais se retribaliza.
[...]
Luís Fernando
Veríssimo. O Estado de São Paulo, 31/3/2005.
Fonte: Livro –
Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar
Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 183.
Entendendo o artigo:
01 – Qual a principal
preocupação de Luís Fernando Verissimo ao observar a Europa?
A principal preocupação é o crescimento
do racismo e da violência entre diferentes grupos étnicos e religiosos, um
fenômeno que ele chama de "tétrico torneio de violência".
02 – Como o autor compara o
racismo atual na Europa com o racismo do passado?
Verissimo aponta
que o racismo na Europa não é novidade, mas que o racismo do passado, que
discriminava imigrantes europeus, foi amenizado pelo tempo e pelo progresso
econômico. O novo racismo, por outro lado, envolve ódio racial e religioso, e
não apresenta soluções óbvias.
03 – Qual o papel do futebol
nesse contexto, segundo o autor?
O futebol, que
deveria ser um espaço de união e entendimento racial, paradoxalmente, tem se
tornado palco de manifestações racistas, com torcidas insultando jogadores
negros, mesmo quando seus próprios times contam com ídolos negros.
04 – Quais são os fatores que
contribuem para o "novo racismo" na Europa?
O novo racismo é
impulsionado por fatores econômicos, como a marginalização de jovens sem
perspectiva, e por ódios culturais e religiosos, tanto novos quanto antigos,
como o antissemitismo.
05 – Qual a conclusão do autor
sobre a luta contra o racismo na Europa?
Verissimo expressa uma visão pessimista,
sugerindo que a luta contra o racismo parece em vão em um mundo que, apesar de
se tornar mais cosmopolita, também se retribaliza, ou seja, se divide em grupos
com identidades fechadas e hostis a outros grupos.
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