quarta-feira, 9 de abril de 2025

NOTÍCIA: CLONAGEM TERAPÊUTICA - FOLHA DE SÃO PAULO - COM GABARITO

 Notícia: CLONAGEM TERAPÊUTICA

        A crer em sinais emitidos por senadores envolvidos nos debates sobre a clonagem terapêutica, a Câmara Alta do Parlamento deverá permitir pesquisas com células-tronco, uma promessa da ciência para curar doenças degenerativas e até para restaurar órgãos e tecidos avariados. Pelo consenso que se vai formando, o Senado Federal autorizaria investigações científicas com culturas de células obtidas a partir de embriões congelados por mais de três anos em clínicas de fertilização.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizvBOXGWX9iA4zmb40wRK_EZgkYMhCIDzbRO2aZ716ozKzd-t8-6b7_H4o21e_qBVEBQEf1NlwcO4udmPhkWbXTLlCzvY48nQ9_W9jKb7Er4LplC1KowC5eGUOhpG3ZJD72K-SNkhc-SDxTVXfKiUXRC7CEoSei2KguzhVD1QcfnAonS3I1V_S4DtuX3o/s1600/TERAPUETICA.jpg


        Se for de fato essa a posição do Senado, estará configurado um avanço em relação ao projeto de lei tal como saiu da Câmara dos Deputados, que, na prática, vetava a clonagem terapêutica. Mas uma eventual modificação pelos senadores levaria o texto de volta à Câmara, onde é especialmente forte a influência do lobby evangélico-católico, responsável pela primeira vitória do obscurantismo.

        Vale notar que mesmo a proposta em cogitação no Senado está longe de poder ser considerada uma lei avançada. Ela apenas evitaria que o Brasil fosse condenado a um atraso científico do qual seria difícil se recuperar. O projeto autoriza cientistas a pesquisar sem entretanto dar-lhes as condições ideais para fazê-lo.

        Na verdade, os senadores apenas impediriam que se consumasse o absurdo maior, que seria deixar de utilizar, em pesquisas com potencial para salvar inúmeras vidas, embriões – na verdade blastocistos, isto é, emaranhados de uma centena de células – que sobraram de tratamentos de fertilização e que nunca seriam implantados num útero para originar uma gravidez.

        Outra falha na proposta em debate no Senado é que ela proibiria a produção de embriões especificamente para a pesquisa ou tratamento. Por enquanto essa limitação não oferece maiores problemas. Enquanto as investigações no campo das células-tronco são incipientes, experimentos podem ser realizados com umas poucas linhagens. No futuro, porém, se surgirem os resultados esperados, o veto à geração de embriões retiraria da clonagem terapêutica uma grande vantagem, que é a capacidade de produzir células a partir do DNA do próprio paciente, o que eliminaria completamente, acredita-se, o fenômeno da rejeição.

        O lobby evangélico-católico que se opõe à clonagem terapêutica merece, no que toca às suas crenças, profundo respeito, mas isso não significa que seus valores devam ditar as regras de uma República pluralista, laica e que valoriza a vida efetiva, atual, mais do que a mera possibilidade de vida contida num blastocisto – que, de resto, se encontra não numa trompa ou num útero, mas num tubo de ensaio, sem a menor possibilidade, portanto, de dar origem a um feto. Além disso, só se submeteriam a um tratamento que envolva células-tronco obtidas a partir de embriões pessoas que não fizessem objeções morais a essa técnica, o que basta para preservar os direitos daqueles que não a admitem.

        Viver numa sociedade multifacetada e complexa como a brasileira é administrar conflitos. Todos têm direito a suas crenças, mas as crenças de alguns não podem condenar o país ao atraso em áreas tão relevantes como a clonagem terapêutica.

Folha de São Paulo, 6/6/2004.

Fonte: Livro – Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 208.

Entendendo a notícia:

01 – Qual a principal promessa da clonagem terapêutica, segundo a notícia?

      A clonagem terapêutica promete curar doenças degenerativas e restaurar órgãos e tecidos avariados, utilizando células-tronco obtidas de embriões.

02 – Qual a diferença entre a proposta da Câmara dos Deputados e a do Senado em relação à clonagem terapêutica?

      A Câmara dos Deputados, influenciada pelo lobby evangélico-católico, vetava a clonagem terapêutica. O Senado, por outro lado, sinaliza uma abertura para pesquisas com células-tronco obtidas de embriões congelados.

03 – Qual a crítica da notícia à proposta em debate no Senado?

      A notícia critica a proposta por considerá-la limitada, já que proíbe a produção de embriões especificamente para pesquisa ou tratamento. Essa restrição pode prejudicar o desenvolvimento da clonagem terapêutica no futuro, impedindo a produção de células a partir do DNA do próprio paciente, o que evitaria a rejeição.

04 – Qual o argumento utilizado para defender a clonagem terapêutica, apesar da oposição de grupos religiosos?

      A notícia argumenta que, em uma república pluralista e laica, os valores religiosos de alguns não devem ditar as regras para toda a sociedade, especialmente em áreas de grande potencial para salvar vidas. Além disso, defende que apenas pessoas sem objeções morais se submeteriam a tais tratamentos.

05 – O que são blastocistos, e qual a sua importância no debate sobre clonagem terapêutica?

      Blastocistos são emaranhados de cerca de cem células, embriões em estágio inicial de desenvolvimento. A notícia destaca que os embriões utilizados em pesquisas são blastocistos que sobraram de tratamentos de fertilização e que nunca seriam implantados em um útero, ou seja, não tem a possibilidade de gerar um feto.

06 – Qual o risco de o Brasil não avançar nas pesquisas com clonagem terapêutica, segundo a notícia?

      O risco é que o Brasil fique para trás no desenvolvimento científico, dificultando a recuperação do atraso em relação a outros países que já investem nessas pesquisas.

07 – Qual a questão sobre a rejeição de órgãos que a clonagem terapêutica ajuda a resolver?

      A clonagem terapêutica ajuda a resolver o problema da rejeição de órgãos transplantados, pois permite a produção de células a partir do DNA do próprio paciente, eliminando a incompatibilidade imunológica.

 

 

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