terça-feira, 15 de abril de 2025

CONTO: O GANSO DE OURO - IRMÃOS GRIMM - COM GABARITO

 Conto: O ganso de ouro

            Irmãos Grimm

        Era uma vez um homem que tinha três filhos. Os dois mais velhos eram tidos como inteligentes e espertos, ao passo que o caçula, todos o consideravam um bobalhão e só o chamavam de João Bocó.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjM1FssXPgNWCNwhx-J1oAyf-JWdjzlFsGDQMZBw7TqJ_bgE6s9SKOVsyUpRQZ_IY9swrWxpdQr-7p7cVj9O3A7LIs5sRtSp3HyQs3Zb3g1s_A1W2esUs9Y-w-_6pNTd7CI2pCczh1ZVDu2M3Y-fqPTyzHIukzzFHEcW0LOPNK2l6HkiWCRARVQjgx6fw4/s320/Simpleton_finds_The_Golden_Goose_-_Project_Gutenberg_eText_15661.jpg

        Um dia, o filho mais velho precisou ir buscar lenha na floresta. A mãe lhe preparou um lanche com um delicioso bolo e uma garrafa de vinho, para que ele não sentisse fome nem sede.

        Quando ia entrando na mata, o moço encontrou um velho grisalho que lhe desejou bom-dia e pediu:

        -- Por favor, me dê um pedacinho do seu bolo e um gole de sua garrafa. Estou morrendo de fome e sede.

        -- Era só o que faltava! — respondeu ele com maus modos. — Se eu lhe der, o que é que sobra para mim? – e, dando-lhe as costas, afundou-se na mata. Mais adiante, quando começou a golpear uma árvore, errou o golpe e feriu-se no braço. Então foi obrigado a voltar para casa, sem trazer um cavaquinho que fosse, sem desconfiar que o acontecido foi por artes do velho grisalho, que era mágico.

        No dia seguinte, o segundo filho foi à floresta buscar lenha. Também para ele, a mãe preparou um bom lanche com bolo e vinho e, assim como aconteceu ao irmão, quando entrou na mata, encontrou o velho grisalho que lhe pediu um pedaço de bolo e um gole de vinho.

        -- Essa é boa! Pensa que vou repartir com um velho vagabundo o que posso comer sozinho? – respondeu o rapaz continuando a andar.

        E não teve melhor sorte que o irmão. Mal começou a golpear uma árvore, a lâmina — por alguma magia que o velho fez – resvalou e o feriu no pé. E lá se foi ele de volta para casa, mancando, sem trazer sequer um galhinho seco.

        No outro dia, João Bocó pediu ao pai que o deixasse buscar lenha na mata.

        -- De jeito nenhum! – respondeu ele. – Se seus irmãos se machucaram, o que acontecerá a um bobo e desastrado como você?

        Mas João Bocó tanto amolou, que o pai acabou cedendo.

        -- Está bem, vá! Se lhe acontecer alguma coisa, tanto melhor! Quem sabe se assim você toma jeito!

        E ele partiu para a floresta, levando de lanche apenas um pãozinho e uma garrafa de água. Lá chegando, encontrou o mesmo velho grisalho que lhe disse “bom dia” e pediu um pedacinho de bolo e um gole de vinho.

        -- Só tenho um pãozinho e uma garrafa de água. Mas o que é meu é seu. Vamos comer juntos – e sentando-se num tronco caído, João Bocó abriu a sacola. Então arregalou os olhos surpresos. O que encontrou dentro dela foi um saboroso bolo e uma garrafa de vinho. “Como a mãe foi boazinha!”, pensou, sem se dar conta de que aquilo foi magia do velho. Comeram os dois com grande apetite e o velho disse:

        -- Quem tem um bom coração, como você, e não hesita em dividir com os outros o pouco que tem, bem merece uma sorte melhor. Está vendo aquela árvore ali adiante? Entre suas raízes, encontrará um presente meu que o fará muito feliz – assim falando, desapareceu.

        João Bocó correu para a árvore e encontrou aninhado entre suas altas raízes uma beleza de ganso, cujas penas eram de ouro puro. Com ele debaixo do braço, resolveu sair pelo mundo em busca de aventuras, em vez de voltar para casa onde era tão pouco querido. Andou, andou e, à tardezinha, chegou a uma estalagem, onde resolveu passar a noite.

        Ora, acontecia que a dona da casa tinha três filhas, três mocinhas abelhudas que, mal viram o ganso de ouro, decidiram que, custasse o que custasse, haveriam de ter algumas de suas peninhas tão lindas. A mais velha ficou espionando e, quando viu o rapaz sair, entrou no quarto dele, aproximou-se devagarinho do ganso e agarrou-o. Foi só fazer isso, ficou com uma das mãos presas nele, sem poder se libertar. Logo depois chegou a outra e, vendo a irmã agarrada ao ganso, pensou: “Se ela pensa que as penas são só dela, engana-se!” e puxou-a pelo vestido. Com isso, ficou com uma das mãos grudada na irmã. Finalmente, com passos de lã, chegou a mais moça. As outras pediram aflitas:

        -- Pelo amor de Deus, não chegue perto de nós!

        Isso só serviu para deixar a mocinha desconfiada.

        -- Querem me passar para trás, heim? – assim dizendo, puxou a segunda das irmãs pela mão e ficou presa também. E todas as três tiveram que passar a noite ao lado do ganso.

        No outro dia bem cedo, João Bocó partiu com seu ganso debaixo do braço, sem nem ligar para as moças. As coitadas, uma presa à outra, foram obrigadas a segui-lo de um lado para outro, para cima e para baixo, onde quer que ele fosse, e como andava ligeiro o danado!

        Um padre que vinha vindo, ao ver passar aquela estranha procissão, parou boquiaberto.

        -- Mas que é isso, moças! Não têm vergonha? Onde já se viu correr assim atrás de um rapaz! — e decidido a detê-las, agarrou a última pelo braço. O resultado é que não pôde mais tirar as mãos do braço dela e, bem contrariado, teve que acompanhar o bando.

        Nesse meio tempo, o sacristão passou por ali e ficou admirado ao ver o padre correndo atrás das moças.

        -- Senhor padre! — chamou ele. — Onde vai com tanta pressa? Esqueceu que temos um batizado hoje? – e agarrou-o pela batina, ficando preso também.

        Agora eram cinco em fila atrás de João Bocó, que não dava sinais de querer parar. Mais adiante, cruzaram com dois robustos camponeses que vinham voltando da lavoura. Aos gritos, o padre pediu-lhes, por favor, que libertassem ele e o sacristão com um bom puxão.

        -- Lá vai! – disseram eles. E largando a enxada arregaçaram as mangas e agarraram o sacristão. Só o que conseguiram, foi ficarem presos também. E todos os sete, trotando atrás de João Bocó, chegaram enfim a uma cidade onde vivia uma princesa tão séria e carrancuda, que jamais alguém a viu sorrir. Em desespero de causa, o rei mandou proclamar por todo o reino que daria a filha em casamento ao primeiro que a fizesse rir.

        João Bocó soube disso e dirigiu-se ao palácio real. Mas nem precisou entrar. A princesa estava na janela, de queixo na mão, cara sombria olhando a rua. Quando viu o rapaz com toda aquela gente em fila atrás dele, as moças chorando, o padre mancando, o sacristão rezando e os camponeses reclamando, desatou a rir com tanto gosto, que parecia não poder parar mais. Então, acabou-se o encanto. Os prisioneiros de João Bocó de repente se viram livres e só pensaram em uma coisa: voltar para casa deles o mais depressa possível.

        Diante de tal sucesso, João Bocó não titubeou em reclamar a mão da princesa. Mas o rei, que não gostou nada do pretendente, depois de muito discutir concordou em dar-lhe a filha com uma condição: o rapaz tinha que trazer alguém que fosse capaz de comer todo o pão do reino.

        João Bocó pensou logo no velho da floresta e foi procurá-lo ao pé da árvore onde havia achado o ganso. O que encontrou foi um homem enorme, com a cara mais triste deste mundo. E quando perguntou a causa de tamanha tristeza, ele respondeu:

        -- Ai de mim! Estou com tanta fome que acho que vou morrer! Acabei de comer cinco fornadas de pão e fiquei na mesma! Será que vou levar a vida apertando o cinto para enganar a fome?

        “É o homem que eu preciso!”, pensou João Bocó. E convidou-o a ir com ele ao palácio do rei, prometendo que encontraria lá o suficiente para matar a fome por três meses. E, de fato, encontraram diante do palácio uma montanha de pão feita com toda a farinha que puderam encontrar no reino. O homem da floresta subiu em cima dela e pôs-se a comer com tal voracidade que, à tardezinha, a montanha já não existia. Então João Bocó reclamou novamente a noiva prometida.

        Mas o rei, que continuava não querendo saber de um genro que, além de pobre, tinha o apelido de João Bocó, veio com nova exigência: só daria a filha se o moço lhe trouxesse um barco que andasse tanto em terra como na água.

        João Bocó voltou à floresta e, desta vez, encontrando o velho mágico em pessoa, explicou-lhe a situação e disse o que queria.

        -- Quem ajuda os outros merece ser ajudado! – o velho disse isso, piscou o olho e desapareceu, deixando no seu lugar o barco exigido.

        Quando o rei viu o rapaz chegar com o barco navegando em chão enxuto, compreendeu que não havia mais jeito. Concedeu-lhe a mão da filha e o casamento realizou-se. Dizem que nunca houve um casal tão feliz nem alguém tão sorridente como a esposa de João Bocó.

Contos de Grimm. Adaptação de Maria Heloisa Penteado. São Paulo: Ática, 1989. p. 23-30.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 5ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 12-14.

Entendendo o conto:

01 – Como os irmãos mais velhos de João Bocó são caracterizados no início da história?

      Os irmãos mais velhos são tidos como inteligentes e espertos, em contraste com João Bocó, que é considerado um bobalhão.

02 – Qual foi a atitude dos dois primeiros irmãos ao encontrarem o velho grisalho na floresta e qual foi a consequência de suas ações?

      Ambos os irmãos mais velhos foram rudes e egoístas, negando comida e bebida ao velho. Como consequência, ambos se machucaram enquanto tentavam cortar lenha e voltaram para casa sem nada.

03 – O que João Bocó levava de lanche para a floresta e o que ele encontrou em vez disso, graças ao velho?

      João Bocó levava apenas um pãozinho e uma garrafa de água. Em vez disso, encontrou um saboroso bolo e uma garrafa de vinho, resultado da magia do velho.

04 – Qual presente mágico João Bocó encontrou na raiz da árvore e o que ele decidiu fazer com ele?

      João Bocó encontrou um ganso com penas de ouro puro. Em vez de voltar para casa, ele decidiu sair pelo mundo em busca de aventuras.

05 – O que aconteceu com as três filhas da dona da estalagem quando tentaram pegar as penas do ganso de ouro?

      As três filhas ficaram misteriosamente grudadas umas às outras e ao ganso, sendo obrigadas a seguir João Bocó.

06 – Quem mais se juntou à fila de pessoas grudadas seguindo João Bocó e por quê?

      Um padre que tentou repreender as moças, um sacristão que tentou falar com o padre, e dois camponeses que tentaram libertar o padre e o sacristão também ficaram grudados à corrente.

07 – O que fez a princesa, conhecida por nunca sorrir, rir pela primeira vez?

      A princesa riu ao ver a cena de João Bocó com toda aquela gente grudada uns aos outros, em situações engraçadas e desesperadas, seguindo-o pela rua.

08 – Quais foram as duas condições impostas pelo rei para que João Bocó pudesse se casar com a princesa?

      As duas condições foram: primeiro, João Bocó deveria trazer alguém capaz de comer todo o pão do reino; segundo, ele deveria trazer um barco que andasse tanto na terra quanto na água.

09 – Como João Bocó conseguiu cumprir a primeira condição imposta pelo rei?

      João Bocó encontrou o velho da floresta novamente, que havia se transformado em um homem faminto capaz de comer montanhas de pão, e o levou ao palácio para devorar todo o pão do reino.

10 – Quem ajudou João Bocó a cumprir a segunda condição do rei e qual foi o resultado final da história?

      O velho mágico ajudou João Bocó a cumprir a segunda condição, deixando no seu lugar o barco que andava tanto na terra quanto na água. Diante disso, o rei permitiu o casamento de João Bocó com a princesa, e dizem que eles foram um casal muito feliz.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário