Política de Privacidade

domingo, 30 de junho de 2024

CORDEL: A PELEJA DO CÉREBRO COM O CORAÇÃO (FRAGMENTO) - MARCUS LUCENA - COM GABARITO

 Cordel: A peleja do Cérebro com o Coração – Fragmento

            Marcus Lucena
O Cérebro e o Coração
Um dia marcaram encontro
E como dois violeiros
Pelejaram num confronto
Pra disputar qual dos dois
Pra vida estava mais pronto

Essa história agora eu conto
Meu leitor sinta e entenda
Com o coração e o cérebro
Pra que você compreenda
Que essa briga é verdadeira
Não é invenção ou lenda

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkWoFCHj8LQifxqpDgQ13Ze_-TJyzalGqcSQK3Xp_ZKCdcbrOoZ3_3JYDCyHhN617tfNAdEmE7GzKlXftcQBst4wsMN8ALpC1V9eIDUadwywA6liCPZ3K8abhZu_VQe1G3zL7sJ67neiG0gYO35a76enax1TbrpQjyetegbLuLUoBusUHq8-jrQLZ-a_Y/s320/CORA%C3%87%C3%83O.jpg


O Cérebro abriu a contenda
Dizendo pro Coração
Eu fiz o homem crescer
Ter lucidez e razão
Graças a mim ele pôde
Dominar a criação

Retrucou o Coração
Cérebro, deixe de heresia
A evolução da vida
Antes de ti já existia
Antes de um cérebro pensar
Um coração já batia

Isso de nada valia
Faltava minha influência
A vida era primitiva
Sem matemática ou ciência
Eu cheguei e dei a ela
O poder da consciência

É muita maledicência
Também muita pretensão
Chegar por último e querer
Ser dono da evolução
Cérebro, você só existe,
Por causa do coração

Sou a fonte da razão
Em mim nasce o pensamento
Sou o pai da inteligência
Da criação, do invento,
Dou ao homem lucidez
A competência e o talento

Já eu, sou o sentimento,
Que eleva a sabedoria
Eu tenho cinco sentidos
Trabalhando noite e dia
Pra dotar a existência
De prazer, sonho, magia.

[...]

Sou o cérebro pensador
Moro dentro da cabeça
Ponto mais alto do corpo
Pra que ele não se esqueça
Sou eu quem comanda ele
É bom que ele me obedeça

Cérebro, não se aborreça,
Sou a fonte da ternura
Moro no meio do peito
Onde a alma se depura
Nem acima nem abaixo
No equilíbrio da altura

És um músculo sem postura
Disso eu nunca me esqueço
Bomba de bombear sangue
Contigo não me aborreço
É pobre a sua função
Mas tem valor, reconheço.

Sou músculo e não lhe obedeço
Bato à sua revelia
Se eu parar a vida acaba
Cessa a sua serventia
Reconheço o seu valor
Mas tu, não é o meu guia.

[...]

Coração, eu dou a meta
Que o homem deve alcançar
Você com seu romantismo
Só serve pra atrapalhar
Vive no mundo da lua
Só presta para sonhar

És vaidoso sem par
Orgulhoso e prepotente
Tu queres controlar tudo
Vives sempre descontente
És pai de qualquer estudo
Mas és chamado “de mente”

Que trocadilho indecente
Demente és tu coração
Que bates descompassado
Comprometendo a pressão
Ao ficar apaixonado
E sofrer uma traição

Feliz é o coração
Que de amor adoece
O cérebro é tão racional
Que o amor não lhe apetece
Eu tenho a maior razão
A que a razão desconhece

Coração, ao que parece
Essa nossa discussão
Nos dá a chance sagrada
Para a valorização
Do trabalho de nós dois
Se for feito em união

Eu te dou de coração
Minha sensibilidade
Se você me emprestar
Sua criatividade
Juntaremos nossas forças
Pro bem da humanidade

Te dou essa qualidade
De ti quero a emoção
Quero a sensibilidade
O sonho, o amor, a paixão
Para o homem ser feliz
Depois da nossa união

Sinto com toda emoção
Que a discussão chega ao fim
Com a gente se entendendo
E se completando enfim
Porque coração e cérebro
Não são Abel e Caim

Você não sente sem mim,
Não penso sem teu bater
Você me entende, eu te entendo
É melhor a gente ser
Dois parceiros que precisam
Um do outro pra viver

Eu não paro de bater
Tu não paras de pensar
Quando eu precisar de ti
Te peço pra me ajudar
Ao precisares de mim
Te dou o que lhe faltar

Meu amigo, o coração
Ao cérebro falou bonito
Razão é muito importante
Com emoção, sem conflito
Um dá suporte pro outro
Sem confronto e nem atrito

Lá no cérebro ecoa um grito
Una-se à lógica a paixão
Com a junção dessas forças
Encontramos emoção
Na vida ao buscar apoio
Na ordem que deu o joio
Ao trigo na evolução.

LUCENA, Marcus. A peleja do cérebro com o coração. Disponível em: www.ablc.com.br/a-peleja-do-cerebro-com-o-coracao. Acesso em: 10 de ago. 2019.

Entendendo o cordel:

01 – Qual é o tema central do cordel "A peleja do Cérebro com o Coração"?

      O tema central é a disputa simbólica entre o Cérebro e o Coração, representando a razão e a emoção, e a importância do equilíbrio entre os dois.

02 – Como o Cérebro inicia a contenda com o Coração?

      O Cérebro inicia a contenda afirmando que fez o homem crescer, ter lucidez e razão, e dominar a criação.

03 – Qual é a resposta do Coração ao Cérebro no início da contenda?

      O Coração retruca dizendo que a vida já existia antes do cérebro, pois antes de um cérebro pensar, um coração já batia.

04 – O que o Cérebro alega ter trazido para a humanidade?

      O Cérebro alega ter trazido a consciência, a matemática, a ciência, e a capacidade de criação e invento.

05 – Como o Coração descreve sua própria importância na vida humana?

      O Coração se descreve como a fonte do sentimento, da sabedoria, e da sensibilidade, trabalhando para dotar a existência de prazer, sonho e magia.

06 – Onde o Cérebro e o Coração dizem morar, respectivamente?

      O Cérebro diz morar dentro da cabeça, o ponto mais alto do corpo, enquanto o Coração diz morar no meio do peito, onde a alma se depura.

07 – Qual é a crítica do Cérebro ao Coração sobre sua função no corpo humano?

      O Cérebro critica o Coração dizendo que ele é apenas um músculo que bombeia sangue e que sua função é pobre.

08 – Como o Coração defende sua importância em relação ao Cérebro?

      O Coração defende sua importância afirmando que se ele parar, a vida acaba e o cérebro deixa de ter serventia, reconhecendo a importância mútua.

09 – O que o Cérebro e o Coração decidem ao final da disputa?

      Eles decidem que, ao se unirem, podem combinar razão e emoção para o bem da humanidade, valorizando o trabalho de ambos sem conflito.

10 – Qual é a mensagem final do cordel sobre a relação entre o Cérebro e o Coração?

      A mensagem final é que o Cérebro e o Coração devem ser parceiros que precisam um do outro para viver, combinando lógica e paixão para alcançar a felicidade e a evolução humana.

 

ROMANCE: NOITE DOS CAPITÃES DA AREIA - (FRAGMENTO) - JORGE AMADO - COM GABARITO

 Romance: NOITE DOS CAPITÃES DA AREIA – Fragmento

                 Jorge Amado

        A grande noite de paz da Bahia veio do cais, envolveu os saveiros, o forte, o quebra-mar, se estendeu sobre as ladeiras e as torres das igrejas. Os sinos já não tocam as ave-marias que as seis horas há muito que passaram. E o céu está cheio de estrelas, se bem a lua não tenha surgido nesta noite clara. O trapiche se destaca na brancura do areal, que conserva as marcas dos passos dos Capitães da Areia, que já se recolheram. Ao longe, a fraca luz da lanterna da Porta do Mar, botequim de marítimos, parece agonizar. Passa um vento frio que levanta a areia e torna difíceis os passos do negro João Grande, que se recolhe. Vai curvado pelo vento como a vela de um barco.  É alto, o mais alto do bando, e o mais forte também, negro de carapinha baixa e músculos retesados, embora tenha apenas treze anos, dos quais quatro passados na mais absoluta liberdade, correndo as ruas da Bahia com os Capitães da Areia. Desde aquela tarde em que seu pai, um carroceiro gigantesco, foi pegado por um caminhão quando tentava desviar o cavalo para um lado da rua, João Grande não voltou à pequena casa do morro. Na sua frente estava a cidade misteriosa, e ele partiu para conquistá-la. A cidade da Bahia, negra e religiosa, é quase tão misteriosa como o verde mar. Por isso João Grande não voltou mais. Engajou com nove anos nos Capitães da Areia, quando o Caboclo ainda era o chefe e o grupo pouco conhecido, pois o Caboclo não gostava de se arriscar. Cedo João Grande se fez um dos chefes e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam para planejar os furtos. Não que fosse um bom organizador de assaltos, uma inteligência viva. Ao contrário, doía-lhe a cabeça se tinha que pensar. Ficava com os olhos ardendo, como ficava também quando via alguém fazendo maldade com os menores. Então seus músculos se retesavam e estava disposto a qualquer briga. Mas a sua enorme força muscular o fizera temido. O Sem-Pernas dizia dele:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_z48oqB_avKudqKeibgk5_x1QmnVUCPWEKGb2JrOStzU3LfK1jwCS2bJrigFCWOe61OUupPpbgsoSg7q2xTZY9EHAZ2DjHH-sFJeq98mOa8bd3ZCRzt99HbrSeW2MjsgxIYW7UA8gLrp1MtM4RGnMvboaxomWGcsfPdLtQ_8kq-AnYUuboSAmtXaHTqs/s320/Capit%C3%A3es_da_Areia_(filme).jpg


        — Este negro é burro mas é uma prensa…

        E os menores, aqueles pequeninos que chegavam para o grupo cheios de receio tinham nele o mais decidido protetor. Pedro, o chefe, também gostava de ouvi-lo. E João Grande bem sabia que não era por causa da sua força que tinha a amizade do Bala. Pedro achava que o negro era bom e não se cansava de dizer:

        — Tu é bom, Grande. Tu é melhor que a gente. Gosto de você — e batia pancadinhas na perna do negro, que ficava encabulado.

        João Grande vem vindo para o trapiche. O vento quer impedir seus passos e ele se curva todo, resistindo contra o vento que levanta a areia. Ele foi à Porta do Mar beber um trago de cachaça com o Querido-de-Deus, que chegou hoje dos mares do sul, de uma pescaria. O Querido-de-Deus é o mais célebre capoeirista da cidade. Quem não o respeita na Bahia? No jogo de capoeira de Angola ninguém pode se medir com o Querido-de-Deus, nem mesmo Zé Moleque, que deixou fama no Rio de Janeiro. O Querido-de-Deus contou as novidades e avisou que no dia seguinte apareceria no trapiche para continuar as lições de capoeira que Pedro Bala, João Grande e o Gato tomam. João Grande fuma um cigarro e anda para o trapiche. As marcas dos seus grandes pés ficam na areia, mas o vento logo as destrói. O negro pensa que nessa noite de tanto vento são perigosos os caminhos do mar.

        João Grande passa por debaixo da ponte — os pés afundam na areia — evitando tocar no corpo dos companheiros que já dor mem. Penetra no trapiche. Espia um momento indeciso até que nota a luz da vela do Professor. Lá está ele, no mais longínquo canto do casarão, lendo à luz de uma vela. João Grande pensa que aquela luz ainda é menor e mais vacilante que a da lanterna da Porta do Mar e que o Professor está comendo os olhos de tanto ler aqueles livros de letra miúda. João Grande anda para onde está o Professor, se bem durma sempre na porta do trapiche, como um cão de fila, o punhal próximo da mão, para evitar alguma surpresa.

        Anda entre os grupos que conversam, entre as crianças que dormem, e chega para perto do Professor. Acocora-se junto a ele e fica espiando a leitura atenta do outro.

        João José, o Professor, desde o dia em que furtara um livro de histórias numa estante de uma casa da Barra, se tornara perito nestes furtos. Nunca, porém, vendia os livros, que ia empilhando num canto do trapiche, sob tijolos, para que os ratos não os roessem.  Lia-os todos numa ânsia que era quase febre. Gostava de saber coisas e era ele quem, muitas noites, contava aos outros histórias de aventureiros, de homens do mar, de personagens heroicos e lendários, histórias que faziam aqueles olhos vivos se espicharem para o mar ou para as misteriosas ladeiras da cidade, numa ânsia de aventuras e de heroísmo. João José era o único que lia correntemente entre eles e, no entanto, só estivera na escola ano e meio. Mas o treino diário da leitura despertara completamente sua imaginação e talvez fosse ele o único que tivesse uma certa consciência do heroico das suas vidas.

        Aquele saber, aquela vocação para contar histórias, fizera-o respeitado entre os Capitães da Areia, se bem fosse franzino, magro e triste, o cabelo moreno caindo sobre os olhos apertados de míope. Apelidaram-no de Professor porque num livro furtado ele aprendera a fazer mágicas com lenços e níqueis e também porque, contando aquelas histórias que lia e muitas que inventava, fazia a grande e misteriosa mágica de os transportar para mundos diversos, fazia com que os olhos vivos dos Capitães da Areia brilhassem como só brilham as estrelas da noite da Bahia. Pedro Bala nada resolvia sem o consultar e várias vezes foi a imaginação do Professor que criou os melhores planos de roubo. Ninguém sabia, no entanto, que um dia, anos passados, seria ele quem haveria de contar em quadros que assombrariam o país a história daquelas vidas e muitas outras histórias de homens lutadores e sofredores. Talvez só o soubesse Don’Aninha, a mãe do terreiro da Cruz de Opô Afonjá, porque Don’Aninha sabe de tudo que Iá lhe diz através de um búzio nas noites de temporal.

        João Grande ficou muito tempo atento à leitura. Para o negro aquelas letras nada diziam. O seu olhar ia do livro para a luz oscilante da vela, e desta para o cabelo despenteado do Professor. Terminou por se cansar e perguntou com sua voz cheia e quente:

        — Bonita, Professor?

        Professor desviou os olhos do livro, bateu a mão descarnada no ombro do negro, seu mais ardente admirador:

        — Uma história zorreta, seu Grande — seus olhos brilhavam.

        — De marinheiro?

        — É de um negro assim como tu. Um negro macho de verdade.

        — Tu conta?

        — Quando findar de ler eu conto. Tu vai ver só que negro…

        E volveu os olhos para as páginas do livro. João Grande acendeu um cigarro barato, ofereceu outro em silêncio ao Professor e ficou fumando de cócoras, como que guardando a leitura do outro. Pelo trapiche ia um rumor de risadas, de conversas, de gritos. João Grande distinguia bem a voz do Sem-Pernas, estrídula e fanhosa. O Sem-Pernas falava alto, ria muito. Era o espião do grupo, aquele que sabia se meter na casa de uma família uma semana, passando por um bom menino perdido dos pais na imensidão agressiva da cidade. Coxo, o defeito físico valera-lhe o apelido. Mas valia-lhe também a simpatia de quanta mãe de família o via, humilde e tristonho, na sua porta, pedindo um pouco de comida e pousada por uma noite. Agora, no meio do trapiche, o Sem-Pernas metia a ridículo o Gato, que perde todo um dia para furtar um anelão cor de vinho, sem nenhum valor real, pedra falsa, de falsa beleza também.

        [...].

AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 3. ed. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 30-33.

Entendendo o romance:

01 – Qual é o ambiente descrito no início do fragmento?

      O ambiente descrito no início do fragmento é a grande noite de paz da Bahia, com destaque para o cais, os saveiros, o forte, o quebra-mar, as ladeiras e as torres das igrejas. O trapiche é um ponto central da narrativa.

02 – Quem é João Grande e qual é sua história?

      João Grande é um menino negro de treze anos, alto e forte, que vive em liberdade com os Capitães da Areia desde que seu pai morreu em um acidente. Ele é um dos chefes do grupo, respeitado por sua força, mas não é conhecido por sua inteligência.

03 – Qual é a relação de João Grande com Pedro Bala?

      Pedro Bala, o chefe dos Capitães da Areia, tem uma relação de amizade e respeito com João Grande. Pedro Bala aprecia a bondade de João Grande e frequentemente diz que gosta dele por sua bondade, e não apenas por sua força.

04 – Quem é o Querido-de-Deus e qual é seu papel na história?

      O Querido-de-Deus é um célebre capoeirista da Bahia, respeitado por todos. Ele ensina capoeira a João Grande, Pedro Bala e o Gato, e aparece na história para trazer novidades e continuar as lições de capoeira.

05 – Como é descrita a relação de João Grande com o Professor?

      João Grande admira o Professor e frequentemente observa sua leitura. O Professor, por sua vez, respeita João Grande e é chamado para contar histórias. João Grande é o mais ardente admirador do Professor e se encanta com as histórias que ele conta.

06 – Quem é o Professor e qual é sua importância no grupo dos Capitães da Areia?

      O Professor, cujo nome é João José, é um membro dos Capitães da Areia que lê e conta histórias para o grupo. Ele é respeitado por seu conhecimento e imaginação, e frequentemente ajuda a criar planos de roubo. É o único que lê correntemente entre eles, apesar de ter estudado por apenas um ano e meio.

07 – Qual é a principal característica física e emocional de João Grande?

      João Grande é fisicamente alto e forte, com músculos retesados e treze anos de idade. Emocionalmente, ele é descrito como um protetor dos menores e uma pessoa boa, embora não seja muito inteligente.

08 – Como é a rotina noturna no trapiche, segundo a narrativa?

      A rotina noturna no trapiche inclui os meninos se recolhendo para dormir, conversas e risadas entre os membros do grupo. O Professor fica lendo à luz de uma vela, e João Grande, embora durma perto da porta, frequentemente vai observar o Professor lendo.

09 – Quem é o Sem-Pernas e qual é seu papel no grupo?

      Sem-Pernas é um menino coxo, conhecido por ser o espião do grupo. Ele tem a habilidade de se infiltrar nas casas das famílias, passando-se por um bom menino perdido. No trapiche, ele é conhecido por suas brincadeiras e conversas altas.

10 – Qual é a importância das histórias contadas pelo Professor para o grupo?

      As histórias contadas pelo Professor são importantes porque transportam os Capitães da Areia para mundos diversos, despertando a imaginação e o desejo de aventuras e heroísmo nos meninos. As histórias também ajudam a fortalecer o senso de comunidade e camaradagem entre eles.

 

CONTO: O MISTÉRIO DA CASA VERDE - (FRAGMENTO 3) - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

 Conto: O mistério da casa verde – Fragmento 3

            Moacyr Scliar

        No qual eles se apresentam ao hóspede da Casa Verde

        O dia seguinte foi difícil para os quatro. Pedro Bola foi tirado da cama à força pelo irmão mais velho, mas adormeceu de novo na mesa do café. Arturzinho cochilou três vezes nas aulas da manhã e teve de ser advertido pelos professores. André movia-se como um zumbi. Mesmo o dedicado Leo teve dificuldade em fazer o exame de inglês, no qual habitualmente se saía bem. Por tudo isso, quando se encontraram, à noite, estavam num péssimo humor. Pedro Bola queria mesmo desistir daquela história: é muito trabalho para arranjar um clube. Além disso, a ideia de enfrentar de novo o maluco — seu diagnóstico já estava feito — não lhe agradava em nada. Em vão Arturzinho tentava animar os companheiros. Leo, ainda que cansado, o acompanharia. Mas Pedro Bola e André, irritados, relutavam em entrar na casa. Por fim Arturzinho saiu-se com uma fórmula conciliadora: — Eu e o Leo entramos, vocês esperam aqui. Se tudo der certo com o homem, chamamos vocês, continuamos com nosso plano. Se não der certo, desistimos.


Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpzsguklorpQS0Yr9IPZNxAPONzLddK2FG-VQpCkqFNg26V2uac6IwB4WlPrrJ3a91icc_oxsLRZetvJzze50Pyk09v75Zr9ZikW3NFsXpg2pVWVajbPc4KKhDRjScOV_wvFzLKuj1e7UGRYvkAsRt_z92W4x9aQPTwHhYupzHJedjR-YdLWdeIaAkWs8/s320/CASA.jpg

        Todos de acordo, Arturzinho e Leo embrenharam-se de novo no matagal. Quando chegaram aos fundos da casa, uma surpresa: a abertura que tinham feito na noite anterior estava fechada com tábuas. Colocadas sem dúvida pelo estranho morador.

        — Está certo — observou Arturzinho. — O homem tem o direito de se proteger. Experimentou as tábuas: não estavam fixas. Sem muito esforço, conseguiu afastá-las, empurrando-as junto com os tijolos que as calçavam. Leo olhava-o, sem dizer nada.

        Arturzinho hesitou; agora também ele estava obviamente apreensivo. Mas não era de desistir:

        — Que diabos — gritou —, já que chegamos até aqui vamos em frente. E meteu-se pelo buraco na parede. Leo seguiu-o.

SCLIAR, Moacyr. O mistério da casa verde. São Paulo: Editora Ática, 2000. p. 25.

Entendendo o conto:

01 – Quais foram as dificuldades enfrentadas pelos quatro personagens no dia seguinte?

      Pedro Bola foi tirado da cama à força pelo irmão mais velho, mas adormeceu de novo na mesa do café. Arturzinho cochilou três vezes nas aulas da manhã e foi advertido pelos professores. André movia-se como um zumbi. Leo teve dificuldade em fazer o exame de inglês, no qual habitualmente se saía bem.

02 – Qual foi a reação de Pedro Bola ao encontro com o hóspede da Casa Verde?

      Pedro Bola queria desistir da história, achando que era muito trabalho para arranjar um clube, e a ideia de enfrentar o homem, que ele considerava um maluco, não lhe agradava.

03 – Como Arturzinho tentou resolver a relutância de Pedro Bola e André em entrar na casa?

      Arturzinho propôs uma fórmula conciliadora: ele e Leo entrariam na casa, enquanto Pedro Bola e André esperariam. Se tudo corresse bem, eles chamariam os outros; caso contrário, desistiriam.

04 – O que os meninos encontraram quando chegaram aos fundos da casa?

      Eles descobriram que a abertura que haviam feito na noite anterior estava fechada com tábuas, provavelmente colocadas pelo estranho morador.

05 – Qual foi a reação de Arturzinho ao ver que a abertura estava fechada?

      Arturzinho observou que o homem tinha o direito de se proteger e, ao perceber que as tábuas não estavam fixas, conseguiu afastá-las e abrir a passagem novamente.

06 – Como Leo reagiu durante a tentativa de Arturzinho de abrir a passagem?

      Leo observava Arturzinho sem dizer nada, acompanhando suas ações.

07 – Qual foi a atitude de Arturzinho após conseguir abrir a passagem?

      Arturzinho, mesmo apreensivo, decidiu continuar e entrou pelo buraco na parede, seguido por Leo.

ROMANCE: ROMEU E JULIETA (FRAGMENTO) - JOÃO MARTINS DE ATAÍDE - COM GABARITO

 ROMANCE: ROMEU E JULIETA – Fragmento

                    João Martins de Ataíde

Vou contar neste romance

a desdita de Romeu

Na sua curta existência

de tudo que padeceu

foi a lenda mais tocante

que a nossa imprensa escreveu

Essa história é conhecida

em quase toda nação

no teatro e no cinema

tem causado sensação

deixando amarga lembrança

no mais brutal coração

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinl7-ytKcAbYwPJ_I7OS1CGOE5Vt63DjzcnUAUUnRZqOfOcn9-iV0TGlv08orc8SEDrxUXCv0lpaJ2GpuMRT8JIHGp71mQTCs6mCu1TxeYlRABY84ekrFFO5DWs4F8wgWxuI3qzXfQpN_Oyh_Ow-3BvJWkOiznaLkQDhO0qM9vjBlF_Q46UB6qI7WCN8k/s320/romeujulieta.jpg


O que sofreu Julieta

o ente que tiver lido

todo seu padecimento

como foi acontecido

depois de cinco ou seis anos

inda não está esquecido

Verona, antiga cidade

da província italiana

foi berço de Capuleto

aquela raça tirana

que odiava a Montéquio  

família honesta e humana

[...]

ATAÍDE. João Martins de. Romance de Romeu e Julieta. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/CordelFCRB/18036. Acesso em: 7 set. 2019.

Entendendo o romance:

01 – Qual é o tema principal do romance "Romeu e Julieta" de João Martins de Ataíde?

      O tema principal do romance é a trágica história de amor entre Romeu e Julieta, destacando o sofrimento e a desdita de Romeu durante sua curta existência.

02 – Por que a história de Romeu e Julieta é considerada uma das mais tocantes?

      A história é considerada uma das mais tocantes porque aborda o amor verdadeiro e trágico entre dois jovens que enfrentam enormes obstáculos e desavenças familiares, causando grande impacto emocional tanto no teatro quanto no cinema.

03 – Como a história de Romeu e Julieta tem sido recebida ao longo dos anos?

      A história tem sido amplamente conhecida e apreciada em diversas nações, causando sensação no teatro e no cinema, e deixando lembranças amargas até mesmo nos corações mais brutais.

04 – Qual o impacto da história de Julieta em quem a lê?

      O impacto é tão profundo que, mesmo depois de cinco ou seis anos, quem leu sobre o sofrimento de Julieta não consegue esquecer o padecimento que ela enfrentou.

05 – Qual é o cenário principal da história de Romeu e Julieta?

      O cenário principal é Verona, uma antiga cidade na província italiana, que é descrita como o berço dos Capuletos, uma família tirana que odiava os Montéquio, uma família honesta e humana.

06 – Como são descritas as famílias Capuleto e Montéquio no fragmento?

      Os Capuletos são descritos como uma raça tirana que odiava os Montequios, que são retratados como uma família honesta e humana.

07 – Qual é a importância de Verona na história de Romeu e Julieta?

      Verona é a cidade onde se desenrola a história de Romeu e Julieta, sendo o berço da família Capuleto e o local onde o conflito entre as duas famílias se intensifica, influenciando diretamente o destino trágico dos protagonistas.

 



 

PRÓLOGO: ROMEU E JULIETA - WILLIAM SHAKESPEARE - COM GABARITO

 PRÓLOGO: ROMEU E JULIETA

                    William Shakespeare

(Entra o Coro)

Coro
Duas casas, iguais em seu valor,

Em Verona, que a nossa cena ostenta,

Brigam de novo, com velho rancor,

Pondo guerra civil em mão sangrenta.

Dos fatais ventres desses inimigos  

Nasce, com má estrela, um par de amantes,

Cuja derrota em trágicos perigos

Com sua morte enterra a luta de antes.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8TJ9TdVX9TDIMa30SDnSGkso5Z-GMUcj-36K5odWJ7xK0cOKc3xOiBG_XVhzt9tFJTaRRx5V2qTxo4LQ_FNMquHwrbomVpHb46GsFeDDzKnTcQtBGjZHA3apOtY_dKQG7sUvJaXCpjFB6dMroMnnGYB64yska3LQ_RFiKcQTAlsMTYiADtdCBTO66fN4/s320/rOMEU.jpg


A triste história desse amor marcado

E de seus pais o ódio permanente,

Só com a morte dos filhos terminado,

Duas horas em cena está presente.

Se tiverem paciência para ouvir-nos,

Havemos de luta pra corrigir-nos. (Sai.)

SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

Entendendo o prólogo:

01 – Qual é o cenário principal onde a história de "Romeu e Julieta" se passa?

      A história se passa em Verona, uma cidade na Itália.

02 – Quantas casas (famílias) principais estão em conflito em Verona?

      Duas casas principais estão em conflito.

03 – Qual é a natureza do conflito entre essas duas famílias?

      As duas famílias estão envolvidas em uma velha rivalidade que resultou em uma guerra civil sangrenta.

04 – Qual é o destino dos amantes nascidos dessas famílias inimigas?

      Os amantes, nascidos de famílias inimigas, são descritos como tendo uma má estrela e acabam morrendo tragicamente.

05 – O que a morte dos amantes provoca nas relações entre as duas famílias?

      A morte dos amantes coloca fim ao ódio permanente entre as duas famílias.

06 – Quanto tempo a peça "Romeu e Julieta" dura em cena, segundo o Coro?

      A peça dura duas horas em cena.

07 – O que o Coro pede ao público no final do prólogo?

      O Coro pede paciência ao público para ouvir a história e sugere que a peça tentará corrigir o que é apresentado.







 

CONTO: DEPRESSA - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Conto: Depressa

            João Anzanello Carrascoza

        Eu ia correndo à vida. Aos sete, a gente é assim. Pula de um doce pra um brinquedo. De um brinquedo pra uma tristeza. Tudo rápido, no demorado da infância. O pai chegava, Olha o que eu trouxe pra você!, e abria a mão: um punhado de balas Chita! O mundo, então, era aquele sabor em minha boca, eu concentrado em mastigar, querendo outra, e mais outra, satisfeito de estar ali, fiel ao meu instante. [...]

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiFfCR1VSfBaMFJsh_Tqa1RNVNJjVB-JpVMk1j2EcKPWgoO2AL4nd7aB1vdCnw_Xduw0Zi9Kz5Z9iqvZ_i3vd17J63X3x74gmj28Yx7sqkl7f5iunSyzAqMe_OS9FJKt-_RcTDAoIAqmSQBN5DXKUY9Ds3s2CXxn4-cHIxluCKGWKD83z-uiVLQ40dmkU/s320/balas-chita-doce.png

        Assim era um dia, o outro também: eu despertava, me enfiava no uniforme e no menino que me cabia, o café da manhã vinha a mim, eu e meu irmão indo pra escola, o caminho um sobe e desce que andava em nós; na rua pensávamos no encontro com os amigos no portão; no portão já íamos rascunhando o que aprenderíamos na sala de aula; na sala de aula já recolhendo o tempo, como uma corda, pra trazer mais rápido o recreio – e nele viver pequenas alegrias. [...]

        Então, numa manhã, veio do Rio de Janeiro a tia Imaculada e com ela a prima Teresa, que eu não conhecia. Chegamos da escola, a tia na cozinha ajudava a mãe a fazer o almoço, Oi, oi, beijo em mim, beijo em meu irmão, ele já indo guardar a mochila, eu ali, e lá no quintal ela, Teresa, menina. Vi, feliz, a novidade, mas, em seguida, desvi.

        la pegar a direção do quarto, quando a tia disse, Vai falar com a sua prima, e a mãe, Deixa de ser bicho do mato, e aí eu fui, meio resignado, meio à vontade. A Teresa estava lá, calada, à sombra da mangueira. Tão calada que eu pensei, mesmo sem sermos íntimos, Ela tá triste. Eu nem sabia ler a tristeza nas pessoas. Eu ainda errava no meu olhar. Mas aí eu me acerquei, no máximo de meu quieto, como se dizendo, Oi, eu tô aqui. Ela mirava o chão, sincera com as formigas. Ergueu a cabeça. Sorriu. Na minha impaciência, eu ia correr com as palavras, oferecendo um assunto pra nós. Mas, estranhamente, senti uma calmaria, quase de sono. Olhei bem pra ela. Pra ver tudo, nos detalhes. A cor dos olhos, o nariz arrebitado, a boca bonita, os dentes brancos clarinhos, tudo o que, pra mim, era o jeito dela. E, foi aí, de repente, que eu perdi toda a pressa do mundo.

 CARRASCOZA, João Anzanello. Depressa. Em: Aos 7 e aos 40. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016. p. 7-10. 

Entendendo o conto:

01 – Qual é a principal característica da infância retratada no início do conto?

      A principal característica da infância retratada é a rapidez e a constante mudança de interesses, pulando de uma atividade para outra, como de um doce para um brinquedo.

02 – Como o narrador descreve a rotina matinal dele e de seu irmão?

      O narrador descreve a rotina matinal dele e de seu irmão como algo repetitivo: acordar, vestir o uniforme, tomar café da manhã e ir para a escola, onde já pensam nos amigos e nas atividades do dia.

03 – Quem são as novas personagens introduzidas na história e qual é a reação inicial do narrador?

      As novas personagens introduzidas são a tia Imaculada e a prima Teresa. A reação inicial do narrador à chegada de Teresa é de curiosidade seguida por um desvio, indicando uma certa hesitação ou desconforto.

04 – Qual foi a reação da tia Imaculada e da mãe do narrador ao perceberem sua hesitação em falar com Teresa?

      A tia Imaculada e a mãe do narrador encorajaram-no a falar com Teresa, com a tia dizendo para ele ir falar com a prima e a mãe pedindo para ele deixar de ser "bicho do mato".

05 – Como o narrador descreve a prima Teresa quando ele finalmente se aproxima dela?

      O narrador descreve Teresa como uma menina calada, à sombra da mangueira, olhando para as formigas, com uma expressão que ele interpretou como tristeza, embora ele não soubesse ao certo como ler as emoções das pessoas.

06 – Qual mudança ocorre no narrador quando ele começa a observar Teresa de perto?

      Quando o narrador começa a observar Teresa de perto, ele sente uma calma inesperada, quase como se estivesse sonolento, e perde toda a pressa que normalmente sentia.

07 – Qual é o significado do título "Depressa" no contexto do conto?

      O título "Depressa" reflete a rapidez com que o narrador vivia sua infância, sempre apressado em suas atividades. No entanto, ao conhecer Teresa, ele experimenta um momento de calma e desaceleração, contrastando com sua pressa habitual.

 

CRÔNICA: ONDE JÁ SE VIU? TATIANA BELINKY - COM GABARITO

 Crônica: Onde já se viu?

               Tatiana Belinky

        Uma tarde de inverno, estava eu lá, na Rua Barão de Itapetininga, mexendo nas estantes de uma livraria. (Não consigo passar por uma sem entrar pra fuçar no meio dos livros. Desde que eu tinha quatro anos de idade – o que já faz muito tempo – livro para mim é a coisa mais gostosa do mundo. A gente nunca sabe que surpresa vai encontrar entre duas capas. Pode ser coisa de boniteza, ou de tristeza, ou de poesia, ou de risada, ou de susto, sei lá. Um livro é sempre uma aventura, vale a pena tentar!)


Fonte:https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fsaopaulo-40s-50s-60s.blogspot.com%2F2017%2F01%2Frua-barao-de-itapetininga.html&psig=AOvVaw0hkA3QRH-GuMW7FQWPmMM7&ust=1719869126581000&source=images&cd=vfe&opi=89978449&ved=0CBEQjRxqFwoTCOiZt_mhhIcDFQAAAAAdAAAAABAE

    Pois bem, estava eu ali, muito entretida, examinando os livros, quando de repente senti que alguém me puxava pela manga. Olhei para baixo e vi um menino – um garotinho de uns nove ou dez anos, magrelo, sujinho, de roupa esfarrapada e pé no chão. Uma dessas crianças que andam largadas pelas ruas da cidade, pedindo esmola. Ou, no melhor dos casos, vendendo colchetes ou dropes, essas coisas. Eu já ia abrindo a bolsa para livrar-me logo dele, quando o garoto disse:

        -- Escuta, dona... (Naquele tempo, ninguém chamava a gente de tia: tia era só a irmã do pai ou da mãe.)

        -- O quê? – perguntei. – O que você quer?

        -- Eu... dona, me compra um livro? – disse ele baixinho, meio com medo.

        Dizer que fiquei surpresa é pouco. O jeito do menino era de quem precisava de comida, de roupa, isso sim. Duvidei do que ouvira:

        -- Você não prefere algum dinheiro? – perguntei.

        -- Não, dona – disse o garoto, mais animado, olhando-me agora bem nos olhos. – Eu queria um livro. Me compra um livro?

        Meu coração começou a bater forte.

        -- Escolha o livro que você quiser – falei.

        As pessoas na livraria começaram a observar a cena, incrédulas e curiosas. O menino já estava junto à prateleira, examinando ora um ora outro livro, todo excitado. Um vendedor se aproximou, meio desconfiado, com cara de querer intervir:

        -- Deixe o menino escolher um livro – falei. – Eu pago.

        As pessoas em volta me olhavam admiradas. Onde já se viu alguém comprar um livro para um molequinho maltrapilho daqueles?

        Pois vou lhes contar: foi exatamente o que se viu naquela tarde, naquela livraria. O menino acabou se decidindo por um livro de aventuras, nem me lembro qual. Mas me lembro bem da minha emoção quando lhe entreguei o volume e vi seus olhinhos brilhando ao me dizer um apressado "obrigada, dona!" antes de sair em disparada abraçando o livro apertado ao peito.

        Quanto aos meus próprios olhos, estes se embaçaram estranhamente, quando pensei comigo: "Tanta criança rica não sabe o que perde, não lendo, e este pobre menino – que certamente não era um pobre menino – sabe o valor que tem essa maravilha que se chama livro!"

        Isso aconteceu há vários anos. Bem que eu gostaria de saber o que foi feito daquele menino...

BELINKY, Tatiana. Onde já se viu? Em: Olhos de ver. São Paulo: Moderna, 2015. p. 19-21. (Coleção Veredas).

Entendendo a crônica:

01 – Onde a autora estava quando encontrou o menino?

      A autora estava na Rua Barão de Itapetininga, em uma livraria.

02 – Qual era a primeira reação da autora quando o menino puxou sua manga?

      A primeira reação da autora foi pensar em abrir a bolsa para dar dinheiro ao menino e livrar-se logo dele.

03 – O que o menino pediu à autora?

      O menino pediu para a autora comprar um livro para ele.

04 – Como a autora se sentiu ao ouvir o pedido do menino?

      A autora ficou surpresa e seu coração começou a bater forte.

05 – Qual foi a resposta da autora ao pedido do menino?

      A autora disse ao menino para escolher o livro que ele quisesse, e que ela pagaria.

06 – Como as pessoas na livraria reagiram à situação?

      As pessoas na livraria observaram a cena incrédulas e curiosas, admiradas com a situação.

07 – Qual foi a reflexão final da autora sobre o acontecimento?

      A autora refletiu que muitas crianças ricas não sabem o que perdem por não lerem, enquanto o menino pobre sabia o valor que um livro tem. Ela também expressou curiosidade sobre o que teria acontecido com aquele menino nos anos seguintes.