domingo, 3 de agosto de 2025

MÚSICA(ATIVIDADES): TROPICÁLIA LIXO LÓGICO - TOM ZÉ - COM GABARITO

 Música (Atividades): Tropicália Lixo Lógico

             Tom Zé

A pureza Chapeuzinho
Passeando na floresta
Enquanto Seu Lobo não vem:
Mas o Lobo entrou na festa
E não comeu ninguém.

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBbIV2eWktJmZluO5l12fEk8jC3oD-t6ts4b7R-r0YZJUfhyphenhyphenfieNq3bkPp5kb255l1TD0GA8J279fcnMQ5P3D4bU0DDmKE9-RVer9M3KbSH_8Q3Hj5WoE2sVhsYDQKGH62eWwZmBaHjj_dJTXwNiGIVwqxpNtm1z-3Z_YBFHrr6WeW2IrhS56QT5nliY8/s320/ab67616d0000b2732fa7da9beb47f795fd6beda1.jpg


Era uma tentação,
Ele tinha belos motes,
O Lobo Seu Aristotes:
Expulsava todo incréu
Ali do nosso céu

Não era melhor, tampouco pior,
Apenas outra e diferente a concepção
Que na creche dos analfatóteles regia
Nossa moçárabe estrutura de pensar
Mas na escola, primo dia,
Conhecemos Aristotes,
Que o seu grande pacote
De pensar oferecia

Não recusamos
Suas equações
Mas, por curiosidade, fez-se habitual
Resolver também com nossas armas a questão -
Uma moçárabe possível solução
Tudo bem, que legal,
Resultado quase igual,
Mas a diferença que restou
O lixo lógico

Aprendemos a jogá-lo
No poço do hipotalo*.
Mas o lixo, duarteiro,
O córtex invadia:
Caegitano entorta rocha
Capinante agiu.

Composição: Tom Zé. Tropicália lixo lógico, 2012. Gravadora independente.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 328-329.

Entendendo a música:

01 – Qual é a crítica central que Tom Zé faz à "pureza" e à entrada do "Lobo" na festa no início da música?

      No início da música, Tom Zé utiliza a metáfora da "pureza Chapeuzinho / Passeando na floresta / Enquanto Seu Lobo não vem" para representar uma visão ingênua ou idealizada da cultura e do pensamento. A "pureza" pode ser interpretada como uma forma de pensamento ocidental dominante, talvez o racionalismo cartesiano ou a lógica aristotélica, que busca a ordem e evita o caos. A entrada do "Lobo" – que não "comeu ninguém" – é uma reviravolta irônica. Esse "Lobo" é, na verdade, "Seu Aristotes", uma personificação da lógica aristotélica e do pensamento ocidental racional. A crítica central é que essa imposição de uma lógica "pura" ou hegemônica, embora não seja destrutiva no sentido literal ("não comeu ninguém"), tenta expulsar ou silenciar outras formas de pensar ("Expulsava todo incréu / Ali do nosso céu"), especialmente as que não se encaixam em seus moldes.

02 – Como a música apresenta a relação entre a "concepção" "moçárabe" de pensar e o "pacote de pensar" de Aristóteles?

      A música apresenta a relação entre a "concepção" "moçárabe" de pensar e o "pacote de pensar" de Aristóteles como um confronto de sistemas de lógica e raciocínio. A "moçárabe estrutura de pensar" refere-se a uma forma de conhecimento híbrida, que emerge da mistura de culturas (como a árabe e a ibérica na Península Ibérica durante a Idade Média), caracterizada por sua flexibilidade e talvez uma menor rigidez lógica. Em contrapartida, o "pacote de pensar" de Aristóteles representa a lógica ocidental formal, com suas "equações" e regras bem definidas. Tom Zé sugere que, embora não recusem as equações de Aristóteles, há uma curiosidade e uma necessidade de resolver questões "com nossas armas", ou seja, com a própria lógica moçárabe. O resultado, embora "quase igual", revela uma "diferença que restou" – o "lixo lógico". Isso indica que a lógica ocidental não é a única nem a superior, e que outras formas de raciocínio, mesmo que consideradas "impuras" ou "ilógicas" por ela, são válidas e necessárias.

03 – O que Tom Zé quer dizer com "lixo lógico" e como ele se relaciona com a ideia de "Tropicália"?

      O "lixo lógico" é a diferença que resta quando se tenta aplicar a lógica aristotélica (ocidental e racional) a uma realidade que não se encaixa perfeitamente nela. É aquilo que é descartado, considerado irracional, absurdo ou sem sentido pelas regras estabelecidas. Para Tom Zé, esse "lixo" não é desprezível; ao contrário, ele é valorizado e se torna a essência da "Tropicália". O movimento tropicalista defendia a antropofagia cultural, a apropriação e a digestão de elementos diversos (nacionais, estrangeiros, populares, eruditos) para criar algo novo e autêntico, que muitas vezes desafiava as categorizações e as lógicas estabelecidas. O "lixo lógico" é justamente a riqueza da contradição, da ambiguidade e do sincretismo que define a identidade brasileira, algo que a lógica pura tenta descartar, mas que o Tropicalismo abraça como fonte de criatividade e verdade.

04 – Qual é o significado de "Aprendemos a jogá-lo / No poço do hipotalo" e o que acontece quando "o lixo... o córtex invadia"?

      A frase "Aprendemos a jogá-lo / No poço do hipotalo" sugere que, em algum momento, as formas de pensar consideradas "ilógicas" ou "desviantes" foram suprimidas ou relegadas às áreas do cérebro associadas a funções mais primitivas, emoções ou inconsciente (o hipotálamo). É como se houvesse um esforço para reprimir ou esconder aquilo que não se encaixa na lógica dominante. No entanto, o poema afirma que "Mas o lixo, duarteiro, / O córtex invadia". O córtex é a parte do cérebro associada ao raciocínio, à linguagem e à consciência. Isso significa que o "lixo lógico" – as formas de pensar não convencionais, a criatividade, a irreverência, o hibridismo – não pode ser contido. Ele irrompe, toma conta do pensamento racional e o subverte. Essa invasão é uma vitória do pensamento não-linear e da cultura híbrida sobre a lógica cartesiana, resultando em novas formas de expressão e percepção.

05 – Como as últimas linhas, "Caegitano entorta rocha / Capinante agiu", personificam a ideia do "lixo lógico" em ação?

      As últimas linhas, "Caegitano entorta rocha / Capinante agiu", são uma personificação vibrante da ideia do "lixo lógico" em ação, usando neologismos e nomes próprios para ilustrar essa subversão.

      "Caegitano entorta rocha": "Caegitano" é uma fusão de Caetano Veloso e Gilberto Gil, figuras centrais do Tropicalismo. "Entorta rocha" sugere um poder transformador, quase mágico, que desafia a rigidez e a solidez da lógica estabelecida ("rocha"). É a ideia de que a criatividade e a irreverência tropicalista são capazes de moldar e redefinir a realidade, quebrando paradigmas.

      "Capinante agiu": "Capinante" remete à ação de "capinar", de limpar ou cortar mato, mas aqui ganha um sentido de ação direta e talvez inesperada, "agindo" de forma transformadora. Pode também ser uma alusão a Capinam, outro artista ligado ao movimento.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário