domingo, 3 de agosto de 2025

MÚSICA(ATIVIDADES): MARACATU ATÔMICO - CHICO SCIENCE - COM GABARITO

 Música (Atividades): Maracatu Atômico

             Chico Science

O bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor
E toda a fauna, a flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte, tem arte, tem arte
E aqui passa com raça eletrônico, maracatu atômico

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Mamauê

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp_QVpzByJ_85TSkVKGmzJJK4fFdobnJhMsOfAyVQ03fplydxWubwUEkiAYkYgiLhCpG-rQK6xMVjXeFx5ZW8OQxRIdzq0vQkYKamKrrcNhbNCEaMKe5Jq6b_IwyHopgIpMg9G0VaZf1zP_LHpAJ1oi5IaiGEAN29HPRZewj11PmSm4K1Ufkl9T7uR298/s320/maxresdefault.jpg


Atrás do arranha-céu, tem o céu, tem o céu
E depois tem outro céu sem estrelas
Em cima do guarda-chuva, tem a chuva, tem a chuva
Que tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê

No meio da couve-flor, tem a flor, tem a flor
Que além de ser uma flor tem sabor
Dentro do porta-luva, tem a luva, tem a luva
Que alguém de unhas negras e tão afiadas esqueceu de pôr

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê

No fundo do para-raio, tem o raio, tem o raio
Que caiu da nuvem negra do temporal
Todo quadro-negro, é todo negro, é todo negro
E eu escrevo seu nome nele só pra demonstrar o meu apego

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê

O bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor
E toda a fauna, a flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte tem arte, tem arte
E aqui passa com raça eletrônico maracatu atômico

Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê.

Composição: Chico Science; Jorge Mautner; Nelson Jacobina. Maracatu atômico. In: Chico Science & Nação Zumbi. Afrociberdelia, Sony Music, 1996.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 330-331.

Entendendo a música:

01 – Qual é a principal característica da linguagem utilizada na letra de "Maracatu Atômico" e como ela contribui para o tema da música?

      A principal característica da linguagem em "Maracatu Atômico" é a repetição de palavras e sons, criando um ritmo hipnótico e um jogo de palavras que mescla elementos cotidianos e oníricos. Essa repetição, como em "o bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor" ou "no meio da couve-flor, tem a flor, tem a flor", não é apenas estilística; ela contribui para o tema da reinterpretação e da descoberta do extraordinário no ordinário. Ao repetir e fragmentar as frases, Chico Science destaca as partes de um todo, revelando belezas e particularidades que passariam despercebidas. Essa técnica reflete a proposta do movimento Manguebeat, de misturar o arcaico e o tecnológico, o orgânico e o industrial, o popular e o erudito, criando uma "estética da lama" que vê riqueza na hibridez.

02 – De que forma a música "Maracatu Atômico" representa a fusão de elementos tradicionais e modernos, característica do Manguebeat?

      "Maracatu Atômico" é uma representação exemplar da fusão de elementos tradicionais e modernos, pilar do Manguebeat. Essa fusão é explícita na própria expressão "maracatu atômico": o maracatu evoca a tradição cultural pernambucana, com suas raízes africanas e seu forte caráter popular e ritualístico, enquanto "atômico" remete à modernidade, à energia, à tecnologia e, por vezes, à disrupção. A letra reforça essa junção ao descrever um "porta-estandarte" que "tem arte" e passa "com raça eletrônico, maracatu atômico", evidenciando a inserção de elementos tecnológicos na tradição. Além disso, as imagens poéticas misturam o natural ("fauna, flora", "beija-flor", "chuva") com o urbano e tecnológico ("arranha-céu", "porta-luva", "para-raio", "quadro-negro"), criando uma paisagem sonora e lírica que celebra a coexistência desses mundos.

03 – Analise o refrão "Manamauê, auêia, aê / Manamauê, auêia, aê / Manamauê, auêia, aê / Mamauê". Qual é sua função e o que ele evoca?

      O refrão tem uma função percussiva e mântrica na música. Ele evoca os cantos e os rituais do maracatu e de outras manifestações culturais afro-brasileiras, que frequentemente utilizam vocalizações rítmicas e repetitivas para criar uma atmosfera de transe e coletividade. A ausência de um significado literal claro nessas sílabas reforça sua dimensão sonora e rítmica, transportando o ouvinte para um universo que transcende a lógica racional. Ele serve como um elemento de coesão, unindo as diferentes imagens e ideias apresentadas nas estrofes e reforçando a identidade cultural arraigada do maracatu, mesmo em sua versão "atômica".

04 – Que tipo de sensações ou ideias são provocadas pelas imagens sensoriais da música, como "gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las" ou "couve-flor, tem a flor... tem sabor"?

      As imagens sensoriais da música, como "gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las" e "couve-flor, tem a flor... tem sabor", provocam uma sensação de descoberta e encantamento com o detalhe e o inusitado. Elas estimulam a percepção multissensorial, misturando o visual ("gotas lindas", "flor" da couve-flor) com o paladar ("vontade de comê-las", "tem sabor"). Essas descrições inusitadas e quase sinestésicas realçam a beleza e a riqueza presentes em elementos cotidianos, convidando o ouvinte a olhar para o mundo com um novo olhar, valorizando o que é muitas vezes ignorado. Refletem a capacidade de Chico Science de transformar o prosaico em poético, o trivial em surpreendente, e de encontrar uma lógica própria, a "lógica da lama", que revela as maravilhas ocultas no universo simples.

05 – Como a música "Maracatu Atômico" expressa a visão do artista sobre a complexidade da realidade brasileira, onde o "micro" e o "macro" se encontram?

      A música "Maracatu Atômico" expressa a visão do artista sobre a complexidade da realidade brasileira através da constante interconexão entre o "micro" e o "macro". O poema lírico transita de detalhes singelos como "o bico do beija-flor" e "gotas tão lindas" para grandezas como "toda a fauna, a flora" e "o céu". O cenário urbano do "arranha-céu" se conecta ao infinito do "céu sem estrelas", e o íntimo ("alguém de unhas negras... esqueceu de pôr") encontra seu paralelo no universal ("toda a fauna, a flora grita de amor"). Essa alternância constante entre o particular e o geral, o detalhe e o panorama, demonstra que a riqueza e a complexidade do Brasil residem nessa intersecção e sobreposição de realidades. A "geleia geral" ou o "maracatu atômico" é, portanto, a manifestação dessa multiplicidade, onde cada pequeno elemento contém um universo, e o todo é a soma de detalhes surpreendentes e contraditórios.

 

 

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