História: Teseu contra o Minotauro
Texto I
[...]
-- Viemos aqui para morrer, não para
sermos desonrados!
-- Quem é você, que ousa me fazer
advertências? – gritou Minos. – Está esquecendo que sou rei da poderosa Creta?
E se isso não bastar, fique sabendo que sou filho de Zeus, pois parece que você
não sabe!
Em seguida olhou o céu, ergueu os
braços para o alto e gritou:
– Zeus, meu pai, por favor, mostre quem
eu sou!
E então, imediatamente, um raio brilhou
no céu sem nuvens, sinal de que Zeus reconhecia seu filho.
Teseu ficou surpreso, mas nem naquela
hora perdeu sua coragem:
– Se isso tem tanta importância – disse
– então eu devo dizer que também sou filho de Poseidon!
Minos não acreditou nele:
-- Se você é filho de Possêidon, então
poderá me trazer isto aqui de volta!
E tirou seu anel, lançando-o em
seguida, com força, bem longe, no meio do mar profundo.
Imediatamente, Teseu, dando um
mergulho, desapareceu nas águas profundas. Passou-se um bom tempo sem que ele
reaparecesse. Todos diziam que ele devia ter se afogado, e Minos acrescentou:
-- Que pena! O Minotauro vai comer um a
menos!
Porém Ariadne, a filha de Minos, que
também estava entre os presentes, encobriu o rosto e secretamente enxugou suas
lágrimas. Prestara atenção em Teseu desde o primeiro momento, e a ousadia dele a
havia comovido. De imediato, um forte amor se aninhou dentro dela enquanto uma
flecha de Eros, o filho alado da deusa Afrodite, trespassava-lhe o coração. Dessa
maneira, agora estava sofrendo com a dor pelo desaparecimento do brilhante e
valoroso jovem.
Teseu, contudo, não estava perdido.
Assim que mergulhou na água, golfinhos o apanharam e conduziram sem demora até
o palácio do deus mar, Possêidon, o Abalador da Terra, irmão de Zeus e nada
inferior em força ao deus que detém os raios em suas mãos.
Em um trono majestoso, que parecia uma
imensa concha, sentava-se o deus que governava as ondas. Ao seu lado estava a
belíssima Anfitrite, esposa do eminente deus. Perto deles encontravam-se Triton
e muitas outras divindades marinhas.
Possêidon recebeu Teseu com alegria e,
assim que ouviu o porquê de ele ter descido ao seu reino aquático, ordenou a
Triton que corresse para trazer o anel. O deus marinho não demorou a voltar, juntamente
com uma multidão de Nereidas. Uma delas trazia o anel e o entregou a Teseu.
Imediatamente então. Anfitrite colocou sobre os cabelos dele uma coroa de ouro
e Possêidon, que percebera que Teseu não devia se demorar mais, ordenou a
Triton e às Nereidas que o conduzissem à praia.
Teseu saiu do mar no momento em que
todos se preparavam para ir embora. De repente alguém gritou:
-- Teseu! Teseu voltou!
Ao vê-lo, Minos não ousava crer em seus
próprios olhos! Além de Teseu não ter se afogado, usava uma coroa na cabeça,
toda de folhas de ouro! Mas o rei de Creta ficou ainda mais surpreso quando se
aproximou e recebeu dele o anel que havia lançado ao mar. Percebera agora que
Teseu não era um mortal comum, e teve medo dele. Por isso, disse ao seu séquito:
-- Esse deve ser o primeiro a ser
comido pelo Minotauro!
Escutando as palavras de seu pai, Ariadne
ficou mortificada. Tinha pena de todos os rapazes e moças, mas ouvir tais
palavras sobre Teseu era como se um punhal lhe atravessasse o coração.
[...]
Menelaos Stephanides.
Teseu, Perseu e outros mitos. São Paulo: Odysseus, 2000. p. 97-100.
Texto
II
Com o novelo escondido debaixo do
braço, Ariadne correu para encontrar Teseu:
– Sou filha de Minos – disse-lhe. – Meu
nome é Ariadne e, por mais estranho que possa lhe parecer, não quero que você pereça.
Preferiria morrer, se você morresse!
Teseu ficou surpreso. Lembrou-se,
contudo, de que havia pedido a ajuda de Afrodite e compreendeu prontamente.
Olhou Ariadne. Era belíssima, como uma deusa. Admirou a coragem dela, ficou
maravilhado com sua beleza e também se apaixonou por ela de imediato.
-- Não vim aqui para morrer – respondeu
– e sim para matar o Minotauro!
-- Isso ninguém pode – disse Ariadne –
E no entanto algo me diz que você conseguirá... Mas de qualquer maneira não
poderá ver de novo a luz do sol, porque quem entra no Labirinto não consegue
encontrar a saída. Foi por isso que vim vê-lo. Tome este novelo. Quando entrar
no Labirinto, amarre a ponta do fio junto à entrada e siga em frente, desenrolando-o.
É a única maneira de você não se perder. Na volta, enrolando de novo o fio,
encontrará a porta. Quero apenas que depois disso você não me deixe em Creta,
pois meu pai poderia até mesmo me matar! [...]
O herói ficou entusiasmado. – Obrigado,
grande deusa! Disse quando se viu sozinho. E pela manhã, quando o colocaram no
Labirinto, amarrou o fio na entrada, conforme Ariadne lhe havia dito, e
prosseguiu, desenrolando o novelo. O caminho dentro do Labirinto era
interminável e inimaginavelmente confuso. Ora ia por lá, ora por aqui, ora
voltava para trás, depois de novo para frente, e pela direita, pela esquerda,
para cima e para baixo... E assim Teseu caminhou por muito tempo até que, de
repente, onde menos esperava, viu o Minotauro diante de si!
A luta com a fera imediatamente teve
início. O terrível monstro investia com os chifres contra Teseu. O jovem herói,
porém, muito ágil, foi para o canto para se proteger, golpeando-o no flanco com
a espada. Porém o golpe pouco dano causou ao Minotauro, que investia mais e
mais. Mas sempre Teseu conseguia desviar-se das investidas da fera; e assim,
não sofreu nada.
Até que, num dado momento, a fera,
visivelmente extenuada, quis tomar fôlego. Teseu não perdeu a oportunidade.
Imediatamente a agarrou pelos chifres e com uma força inacreditável atirou-a no
chão e enfiou depressa a espada em seu peito. E esse foi o seu fim! Não seriam
mais necessárias outras vítimas para o monstro do Labirinto!
O herói olhou o cadáver do Minotauro,
enxugou o suor da testa e pensou: “Agora só me resta encontrar a saída”. E
começou a sair, enrolando de novo o fio do novelo. E felizmente ele tinha
aquele novelo, porque, ao passo que algo lhe dizia que devia seguir por um
lado, o fio o conduzia por outro. E quando novamente achava que determinado
caminho era o certo, o fio seguia por outro. Perplexo, Teseu não podia entender
por que o fio o conduzia por entre passagens tão inacreditáveis, até que, certa
hora, viu de repente a saída diante de si.
-- Se não tivesse esta linha, estria
perdido – disse – Ariadne me salvou!
E eis que a linda moça o esperava na
saída. Estava sozinha. Felizmente, Mimos não havia se preocupado em colocar
sentinelas, pois pensava ser totalmente dispensável.
Chorando de alegria, a filha de Minos
caiu nos braços de Teseu. E este não tinha palavras para agradecer-lhe. Apenas lhe
entregou o novelo, o “fio de Ariadne”, como ficou conhecido desde então.
[...]
Idem, p. 103-5.
Fonte: Livro-
PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª
edição - Atual Editora – 2002 – p. 14-9.
Entendendo a história:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Afrodite: a deusa do amor, também conhecida como vênus.
·
Apreensivo: preocupado, receoso.
·
Extenuado: cansado, enfraquecido.
·
Flanco: um dos lados do corpo.
·
Mortificada: atormentada, muito preocupada.
·
Nereidas: na mitologia grega, ninfas marinhas filhas de Nereu.
·
Possêidon: o deus do mar, também conhecido como Netuno, responsável
pelos terremotos, motivo pela qual é chamado de o Abalador da Terra.
·
Perecer: morrer.
·
Séquito: conjunto de pessoas que acompanham outra(s).
·
Trespassar: atravessar, furar.
·
Zeus: o pai dos deuses e dos homens, também conhecido como Júpiter
ou Jove.
02 – As ações e atitudes de
Teseu demonstram que ele é diferente dos homens comuns. Que fatos ocorridos no
encontro entre Teseu e Mimos comprovam essa afirmação?
Teseu ousa se
dirigir ao rei e repreendê-lo; além disso, aceita o desafio do rei e lança-se
ao mar, em busca do anel.
03 – Leia o boxe abaixo, que
fala da origem de Teseu.
A
VERDADEIRA ORIGEM DE TESEU
Havia muitos anos Egeu era casado, mas
não conseguia ter filhos com sua esposa.
Desesperado, pede ajuda à feiticeira
Medéia, que lhe promete um filho sob algumas condições.
Depois disso, certa noite Egeu vai
visitar Piteu, rei de Trezena, e se embebeda com vinho que o amigo lhe oferece.
Na manhã seguinte, quando acorda,
percebe que passara a noite com Etra, filha de Piteu, e acredita que é ela a
escolhida para lhe dar um filho.
De fato, nove meses depois Etra dá à
luz Teseu. Porém a criança era, na verdade, filha de Etra e Possêidon, deus do
mar, pois Egeu realmente não podia ter filhos.
O Teseu de ouro
(1880), H. J. Draper.
a) Que informação do boxe explica por que Teseu é tão bem recebido por Possêidon?
A informação de que Teseu ra,
na verdade, filho de Possêidon.
b) Qual é, então, a razão de Teseu ser tão diferente dos homens comuns?
Teseu era filho de um deus.
04 – Nas religiões cristã,
judaica e muçulmana, Deus é considerado um ser que está acima dos homens e não
se mistura com eles nem se envolve diretamente em seus problemas. Observe o
comportamento dos deuses da mitologia grega citados no texto: Possêidon, Afrodite,
Eros e Zeus.
Esses deuses gregos têm comportamento semelhante ao que tem o Deus das religiões cristã, judaica e muçulmana? Justifique sua resposta com exemplos do texto.
Não; os deuses da
mitologia grega brigam entre si, disputam para ver quem tem maior poder,
interferem na vida dos seres humanos e até têm filhos com eles.
05 – Ariadne se apaixona por
Teseu ao conhecê-lo.
a) Que qualidade de Teseu atraiu a atenção de Ariadne?
A ousadia, conforme a afirmação do trecho “a ousadia dele a havia comovido”.
b) Por que os sentimentos de Ariadne a colocam numa situação difícil?
Porque amar Teseu e ajuda-lo significa ir contra a vontade do seu
pai.
06 – Teseu, vendo-se em
dificuldades, pede ajuda à deusa Afrodite. De fato, ele é ajudado, e a ajuda
vem por meio de Ariadne, que lhe dá o novelo de linha. Porém, essa ajuda tem
uma consequência.
a) Qual é a consequência da ajuda providenciada por Afrodite?
Teseu, ao conhecer Ariadne, apaixona-se por ela.
b) Que qualidades de Ariadne chamaram a atenção do herói?
Sua beleza e sua coragem.
07 – Vencer o Minotauro era
uma tarefa impossível para um homem comum. Nem mesmo os golpes de espada de
Teseu faziam o monstro se abalar. Entretanto, não podendo vencê-lo pela força,
o herói usou uma técnica que o levou à vitória.
a) Qual foi essa técnica?
Teseu primeiro se defendeu dos golpes do Minotauro até cansá-lo;
depois, quando este se cansou, lançou-o ao chão para cravar-lhe a espada no
peito.
b)
Veja este conjunto de qualidades que os heróis
geralmente apresentam:
valentia – honra – força – astúcia – liderança.
b) A técnica utilizada por
Teseu é exemplo de qual dessas qualidades?
É exemplo de
astúcia.
c) As demais qualidades também se aplicam a Teseu? Justifique.
Sim, Teseu era valente, forte, honrado e se impôs como líder ao
decidir combater o Minotauro e salvar a vida das sete moças e dos sete rapazes
que seriam devorados pelo monstro.
08 – Releia este trecho do
texto em estudo, observando a palavra destacada:
“De
imediato, um forte amor se aninhou dentro dela enquanto uma flecha de Eros
[...] trespassava-lhe o coração”. Que palavras poderiam substituir aninhou, nesse contexto?
Abrigou, alojou.
09 – Compare estes dois
enunciados:
“Trespassava-lhe o coração”
Beijava-lhe as mãos com carinho.
Nesses enunciados, o pronome oblíquo lhe tem valor de um pronome possessivo.
Que pronomes possessivos poderiam substituir o pronome oblíquo nos enunciados?
Seu e suas, respectivamente.
10 – Observe estas palavras
do texto e o sentido que apresentam:
Interminável: o
que não pode terminar.
Inimaginável:
o que não se pode imaginar.
a) Conclua: Que sentido tem a partícula in- colocada no início dessas palavras?
A partícula in- tem
sentido de negação.
b) Empregando in-, forme palavras com o seguinte sentido:
·
O que não se pode calcular: incalculável.
·
O que não se pode pensar: impensável.
·
O que não se pode dizer: indizível.
·
O que não se pode contar: incontável.
11 – Observe este trecho:
“[Teseu] Ora ia por lá, ora por aqui, ora
voltava para trás”.
a) O que a expressão ora... ora dá a entender sobre o comportamento de Teseu no Labirinto?
Que ele não sabia para onde ir, estava confuso sobre qual direção
tomar.
b) Escreva uma frase a respeito do comportamento do Minotauro durante a luta, empregando também ora... ora.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O Minotauro ora atacava, ora se
defendia, ora avançava, ora recuava, ora feria, ora era ferido.
Valeu aí cara
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