CRÔNICA: O preconceito racial - IV
Marcelo Pereira Surcin Desde os 12 anos, coloquei na minha
cabeça que eu poderia me dar bem no futebol. Era um sonho, eu sabia. Então, por
segurança, estudava para ser torneiro mecânico. Enquanto eu vendia pastéis em
feiras livres, meus dois irmãos capinavam o jardim dos vizinhos. Mamãe oferecia
tapetes nas ruas e papai era gari da prefeitura. A vida era difícil.
Refrigerante e frango, só aos domingos. Na escola, como eu não tinha dinheiro
para comprar doces na hora da merenda, meus amigos diziam: “Também, teu pai é
preto e lixeiro”. Até hoje me lembro de um garoto branco, o Marcos. Ele era
muito rico para os nossos padrões, mas era o único que não se incomodava com a
minha cor. Era meu melhor amigo. Trocávamos as roupas e ele deixava eu usar as
dele, muito mais caras e bonitas do que as minhas. Eu nunca ia às festas boas
do meu bairro. Tinha medo da discriminação. Sei que os grã-finos me olhavam de
maneira diferente, então procurava o povão em bailes funk. Tudo isso era triste
para mim, mas a pior decepção foi quando me apaixonei pela filha de um
marinheiro. Ele não admitia vê-la ao lado de um negro com cabelo black power. E
esse racista arruinou tudo.
Marcelo Pereira
Surcin, o Marcelinho Carioca, jogador de futebol. (Veja, 24/06/1998.)
Fonte: Livro-
PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª
edição - Atual Editora – 2002 – p. 115-7.
Entendendo o texto:
01 – No depoimento do
jogador Marcelinho Carioca, há exemplos de pessoas preconceituosas e exemplos
de pessoas sem preconceito.
a) Quais são os exemplos de pessoas sem preconceito?
O amigo Marcos e a namorada branca.
b) De acordo com o texto, a ausência de preconceitos pode aproximar as pessoas? Justifique sua resposta.
Sim. A amizade entre Marcelinho e Marcos mostra justamente que,
quando não há preconceito, podem acontecer relações verdadeiras entre as
pessoas.
c) Pelo que conta o jogador, o preconceito leva a vítima ao isolamento? Por quê?
Sim, porque a vítima fica com medo de se expor e sofrer novas
agressões, conforme mostra o exemplo das festas de grã-finos do bairro.
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