Artigo de Opinião:(Des)Conectar
Rosely Sayão
Muitas pessoas criticam essa nossa
mania de ficarmos o tempo todo conectados para nos comunicar com filhos,
conhecidos, colegas de trabalho, amigos e parentes. Programas de mensagens
instantâneas em aparelhos celulares fazem enorme sucesso, talvez por serem de
baixo custo e permitirem a formação de grupos de família, de pais de alunos da
classe do filho, de amigos, de colegas que realizam algum trabalho, de chefes e
seus auxiliares diretos, de alunos com seus professores etc.
Alguns locais, como restaurantes, por
exemplo, incentivam, de modo bem-humorado, seus frequentadores a renunciar aos
aparelhos enquanto lá estão para uma refeição compartilhada.
Mas esses recursos não têm conseguido
abalar nosso apego a esse tipo de comunicação. Creio até que a coluna cervical
de muita gente anda reclamando por causa disso. E como o que pode provocar
mudanças é mais a ação do que a falação, conto a você, caro leitor, a
experiência vivida por uma amiga.
Ela é uma dessas pessoas quase viciadas
em comunicação a distância e internet, com suas redes variadas. Tanto que
passou a sentir-se culpada por ver seu tempo com os filhos ser engolido por sua
dedicação ao celular. Resolveu, então, com o marido e os três filhos, ter um
final de semana em que ficariam totalmente desconectados.
Encontraram um hotel que não tinha
sinal de celular nem de internet, e para lá foram, tanto animados quanto
temerosos, para viver dois dias inteiros sem conexão alguma, a não ser entre
eles, e diretamente, olho no olho. Logo na chegada, colocaram todos os
aparelhos em uma caixa, que só seria aberta ao final da estadia.
E aí começou uma aventura. No início,
foi difícil, reconheceu ela, mas aos poucos eles se envolveram entre si: leram
livros, contaram histórias, divertiram-se com jogos de tabuleiro, conversaram.
Ela disse que o marido, os filhos e ela
gostaram tanto da experiência de "desconectar para conectar" que
adotaram o ritual de guardar os aparelhos de todos em uma caixa pelo menos por
algumas horas nos finais de semana.
Considerei essa uma boa sugestão para
famílias com filhos que se sentem distantes dos pais. Nem sempre crianças e
jovens conseguem perceber o quanto é bom trocar ideias e afetos com os pais e
conviver com eles para fortalecer o vínculo, porque também estão muito
envolvidos com suas traquitanas tecnológicas e com as redes sociais.
Mas, quando eles descobrem –ou
redescobrem– que o relacionamento com os pais e os irmãos, fora das questões
administrativas do cotidiano, lhes faz bem, eles se entregam, e o resultado
costuma ser visível no humor e até mesmo na busca de uma maior proximidade.
Se nós não dermos a eles oportunidades
e chances de se tornar mais sensíveis aos relacionamentos interpessoais
humanizados, a vida deles certamente será mais árdua, mais difícil, mais
áspera. Algumas horas desconectados nos finais de semana podem lhes fazer um
bem enorme!
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (Publifolha)
Matéria publicada na Folha de São Paulo, 24 de
Março de 2015.
Entendendo o texto
1. Na
opinião da autora, o uso de celular é saudável para as relações entre as pessoas?
Por quê?
Não, pois,
segundo ela, o uso exagerado de celulares ocupa muito nosso tempo e nos afasta
das pessoas.
2. Releia o seguinte
trecho. “Creio até que a coluna cervical de muita gente anda reclamando por
causa disso”?
a)
Qual a figura de linguagem presente nele?
Justifique sua resposta.
Personificação,
pois é atribuída à cervical uma caraterística humana.
b)
O que se pode inferir dessa afirmação
feita pela autora do artigo no trecho?
É possível
inferir que usar o celular exageradamente pode ocasionar dores, pois ficamos
com a cervical voltada para baixo.
3. Relacione as colunas de acordo com o
sentido das palavras destacadas.
a)
Companhia ( d ) para viver dois dias.
b)
Ausência ( b ) dois dias inteiros sem conexão alguma
c) Tempo ( f ) eles se
envolveram entre si
d)
Finalidade ( c) no início, foi difícil
e)
Modo ( e) divertiram-se com jogos
f)
Posição entre dois limites (a) conviver
com eles
4.
Identifique se as palavras destacadas nestes dois trechos do artigo
classificam-se em preposições, em combinações ou em contrações.
a)
Encontraram um hotel que não tinha sinal de celular nem de
internet, e para lá foram, tanto animados quanto temerosos, para viver
dois dias inteiros sem conexão alguma, a não ser entre eles, e
diretamente, olho no olho. Logo na chegada, colocaram todos os
aparelhos em uma caixa, que só seria aberta ao final da
estadia.
Preposições: de, de, para,
para, sem, a, entre, em; Combinações: ao; Contrações: no, na, da
b)
E aí começou uma aventura. No início,
foi difícil, reconheceu ela, mas aos poucos eles se envolveram entre
si: leram livros, contaram histórias, divertiram-se com jogos de
tabuleiro, conversaram.
Preposições: entre, com, de;
Combinações: aos; Contrações: no.
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