Poema: Liberdade
Paul
Éluard
Nos meus cadernos de escola
Nas carteira e nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome
Em toda página lida
Em toda página em branco
Pedra papel sangue ou cinza
Escrevo teu nome
Em toda imagem dourada
E nas armas dos guerreiros
Ou nas coroas dos reis
Escrevo teu nome
Na floresta e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
Nos ecos da minha infância
Escrevo teu nome
Nas maravilhas da noite
No pão branco da manhã
Nas estações em noivado
Escrevo teu nome
Em todo farrapo azul
No tanque de água mofado
No lago da lua viva
Escrevo teu nome
Nos campos e no horizonte
Nas asas dos passarinhos
E nos moinhos da sombra
Escrevo teu nome
Em todo sopro da aurora
No mar e em cada navio
Na montanha adormecida
Escrevo teu nome
Na branca espuma das nuvens
Nos suores da tormenta
Na chuva densa e enfadonha
Escrevo teu nome
Nas formas resplandecentes
Nos sinos de várias cores
Em toda verdade física
Escrevo teu nome
Nos caminhos acordados
E nas estradas vistosas
Ou nas praças transbordantes
Escrevo teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome
Na fruta cortada ao meio
Do meu espelho e meu quarto
No leito concha vazia
Escrevo teu nome
No meu cão guloso e terno
De orelhas que estão em guarda
Nas suas patas sem jeito
Escrevo teu nome
Na minha porta de entrada
Nos objetos familiares
Nas ondas de fogo lento
Escrevo teu nome
Em toda carne cedida
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome
Na vidraça das surpresas
E nos lábios sempre atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome
Nas ausências sem desejo
Na solidão toda nua
Nesta marcha para a morte
Escrevo teu nome
Na saúde que retorna
No período que passou
Nas esperanças sem eco
Escrevo teu nome
E ao poder de uma palavra
Reconheço minha vida
Nasci para conhecer-te
E chamar-te
Liberdade.
In: Poemas da
liberdade. Coletânea de Edmundo Moniz. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,
1967. p. 7-9.
Fonte: Linguagem
Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 124-7.
Entendendo o poema:
01 – Quantas estrofes tem o
poema?
Possui 21
estrofes.
02 – A quem o poeta se
dirige?
A liberdade.
03 – Na segunda estrofe, que
sinal de pontuação deveria ocorrer, se fosse seguida à risca a gramática
normativa?
A vírgula, entre
os termos da enumeração: pedra, papel, sangue.
04 – Que efeito resulta da
não-utilização desse sinal?
Os termos parecem
se fundir numa única coisa.
05 – Que palavra da quarta
estrofe revela que se trata de um adulto lembrando a infância?
Ecos.
06 – No poema há várias
antíteses, ou seja, imagens ou ideias que se opõem, como, por exemplo: “página
lida/página em branco”; “noite/pão branco da manhã”; “sopro da aurora/montanha
adormecida”. Na 6ª estrofe (21-24), identifique a antítese de “tanque de água
mofado”.
“Lago da lua
viva”.
07 – O elemento água está
presente em toda a 9ª estrofe (versos 33-36). Explique.
Há referência a
espuma, nuvens, suor, chuva.
08 – Leia este verso da 10ª
estrofe e explique a expressão destacada: “Em toda verdade física/Escrevo teu nome”.
Todas as coisas fisicamente concretas de
que trata o texto.
09 – Identifique elementos
não-físicos onde o poeta pretende escrever o nome que invoca.
Entre outros:
“maravilhas da noite”; “vidraça das surpresas”; “ausências”; “solidão”; “marcha
para a morte”; “saúde”; “perigo”; “esperanças”.
10 – Qual a finalidade que o
poeta atribui à sua própria vida?
Conhecer a
liberdade, confissão que faz na penúltima estrofes.
11 – O poema tem rima? e
ritmo?
Não apresenta
rimas, mas apresenta ritmo.
12 – Identifique o refrão.
“Escrevo teu
nome”.
13 – Nesse contexto, como
você entendeu o verbo escrever?
Resposta pessoal
do aluno.
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