sexta-feira, 4 de agosto de 2017

TEXTO:UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA -ZIRALDO - QUESTÕES OBJETIVAS COM GABARITO

TEXTO - UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA

         Era uma vez uma professora maluquinha. Na nossa imaginação, ela entrava voando pela sala (como um anjo) e tinha estrelas no olhar. Tinha voz e jeito de sereia e vento o tempo todo nos cabelos (na nossa imaginação). Seu riso era solto como um passarinho. Ela era uma professora inimaginável. Para os meninos, ela era uma artista de cinema. Para as meninas, a Fada Madrinha. […] 
           Como todos sabem, os três mosqueteiros eram quatro. Só que nós — a turminha que vai contar a história — éramos cinco: Athos, Porthos, Aramis, Dartagnan e Ana Maria Barcellos Pereira, a chefa.[…] 
        Nós tínhamos acabado de descobrir o segredo das letras e das sílabas; já sabíamos escrever nossos nomes, ler todos os letreiros das lojas, os cartazes do cinema, as manchetes dos jornais e os títulos dos anúncios nas revistas, quando ela chegou em nossas vidas. 
       Quando ela entrou pela primeira vez na nossa sala e falou que ia ser nossa professora naquele ano, todas as meninas quiseram ser lindas e todos os meninos quiseram crescer na mesma hora para poder casar com ela.
      A primeira chamada que ela fez foi assim: mandou cada um de nós escrever o nome de outro aluno. O nome por inteiro. “Grande vantagem saber escrever seu próprio nome!” — ela brincou. Depois, embaralhou os nomes de todos nós e mandou que a gente arrumasse tudo direitinho na exata ordem do ABC. 
      Ela conquistou tão depressa todos nós que, logo, logo, já havia meninas chorando no seu colo. Os meninos não entendiam nada. Havia segredos que pertenciam somente a elas, e eram tantos que a professora acabou inventando um código para trocar bilhetinhos secretos com as meninas. […] 
     Com ela não tinha castigo. Tinha julgamento. Se um lá fizesse alguma coisa que parecesse errada, ela convocava o júri. Um aluno para a acusação, outro para a defesa. O resto da turminha era o corpo de  Jurados… A gente adorava julgamentos. No final do ano, quando já líamos tudo, ela achou melhor que as defesas e as acusações fossem feitas por escrito. É que o júri era muito barulhento. […]
     Quando as aulas começaram, no ano seguinte, não era ela que estava sentada na cadeira, atrás da mesa, sobre o estrado, diante do quadro negro. Era uma doce senhora de olhos severos e com a voz de quem comandava um pelotão. 
      Logo no primeiro dia de aula, a turma ficou toda de castigo. A professora havia apanhado um menino lendo um livro de histórias em plena aula e resolveu olhar embaixo da carteira de cada um. […] 
      Tivemos todos que ficar depois da aula e escrever cem vezes, cada um, a frase: “Prometo prestar atenção nas lições e não ficar me distraindo na hora da aula”. […] 
    Meu Deus, quantos anos se passaram! Nós todos, seus alunos, somos hoje, muito, muito mais velhos do que aquela professorinha. Estamos todos, agora, com idade bastante para ser seus avós, se ela tivesse ficado, para sempre, do jeitinho que está fotografada em nossa memória, aprisionada no tempo. Aqui estamos nós de volta, quase todos. Alguns foram nos deixando pelo caminho, até mesmo na infância, pois sobreviver não era muito fácil no meio da pobreza da nossa pequena cidade. Os outros — cujos pais tinham emprego e salário — chegaram até esse dia, com jeito e cara de vitoriosos, e estão aqui, digamos, dentro deste livro — os Mosqueteiros do Rei à frente —, prontos para matar todas as saudades…
                                        Ziraldo. Uma professora muito maluquinha.
                                                      São Paulo, Melhoramentos, 1995.

A partir da leitura atenta do Texto I, faça as questões propostas.

1ª QUESTÃO: “Seu riso era solto como um passarinho.” 
O vocábulo grifado transmite ideia de comparação e só não seria substituído adequadamente por:
       A - ( ) semelhante a.
       B - ( ) tal qual.
       C - ( ) que nem.
       D - (X) diferente de.

2ª QUESTÃO: Uma característica que não pode ser atribuída à professora maluquinha é a de ser:
       A - ( ) confidente.
       B - ( ) sorridente.
       C - (X) idosa.
        D - ( ) encantadora.

3ª QUESTÃO: “… ela achou melhor que as defesas e as acusações fossem feitas por escrito.” 
Com que objetivo a professora propôs tal mudança?
       A - ( ) Permitir que todas as acusações fossem consideradas.
       B - (X) Amenizar o barulho produzido pelo júri.
       C - ( ) Gastar mais tempo durante os julgamentos.
       D - ( ) Selecionar apenas as defesas para serem lidas.

4ª QUESTÃO: Sobre os alunos da professora maluquinha, é inadequado afirmar que:
          A - (X) todos tiveram uma infância farta e feliz.
         B - (  ) inicialmente, enfrentaram dificuldade de se concentrarem na aula da professora que a substituiu.
     C - ( ) alguns conseguiram se reunir após a fase adulta e serem personagens de um livro cheio de recordações.
       D - ( ) eternizaram a lembrança da professora maluquinha ainda bem jovem em suas memórias.

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