TEXTO:NARRAÇÃO
E NARRATIVAS
Contar e ouvir histórias são atividades
das mais antigas do homem. Pessoas de todas as condições socioculturais têm
prazer de ouvir e de contar histórias. Um romancista e ensaísta inglês, E. M.
Forster, chama essa atividade de atávica, isto é, transmitida desde a idade mais
remota da humanidade, ligada aos rituais pré-históricos do Homem de Neanderthl,
força de vida e de morte, conforme sua capacidade de manter acordados ou de
adormecer os membros de um grupo, nas noites dos primeiros dias... O mesmo
autor cita ainda a protagonista de As mil e uma noites, Xerazade, que se salvou
da morte contando histórias que, a cada noite, eram interrompidas em momentos
de calculado suspense, a fim de motivar a curiosidade do sultão. A tal ponto
chegou a habilidade da narradora, que, depois de mil e uma noites, o poderoso
rei não só não a mandou matar, como também apaixonou-se e com ela se casou.
Lembra o autor que todos nós somos como o sultão. Interessamo-nos intensamente
pelo desenrolar de uma história bem contada. (Estão aí as novelas de TV,
impondo a milhares de pessoas em todo o país, e até no exterior, um tipo
massificante de lazer, num horário igualmente imposto).
Todas as atividades que o
inventar/narrar, ouvir/ler histórias envolvem podem ser associadas também à
natureza lúdica do homem. O jogo é uma atividade muito presente em todas as
situações do homem em sociedade. Sob as mais diversas formas, o fenômeno lúdico
mantém um dignificado essencial. É um recorte na vida cotidiana, tem função
compensatória, substitui os objetos de conflito por objetos de prazer, obedece
a regras, tem sentido simbólico, de representação. Com realização, supõe
agenciamentos manipulações, mecanismo, movimentos, estratégias.
Constituir um enredo é começar um jogo.
O narrador é um jogador, e forma, com o leitor e o próprio texto, o que se pode
chamar uma comunidade lúdica.
No ritual de se pegar um livro para ler
ou de se sentar à volta ou diante de um narrador, uma tela de cinema ou de TV,
para ler/ouvir contar-se uma história, desenrolar-se um enredo, tal como no
exercício do jogo, há a busca de prazer, há tensão, competição, há a máscara, a
simulação, pode haver até a vertigem.
MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo.
São Paulo,
Ática, 1986. p. 7-8.
1 – Podemos dizer que a
primeira afirmação do texto é de caráter histórico?
SIM. Pois coloca a questão abordada numa
perspectiva temporal.
2 – Generalização é a
“extensão de um princípio ou de um conceito a todos os casos a que se pode
aplicar”. Podemos dizer que no início do texto é apresentada uma generalização?
Explique.
SIM. Pois os dois primeiros períodos do
texto estendem o prazer de contar e ouvir histórias ao homem de todas as épocas
e de todas as condições socioculturais.
3– Explique o significado da
palavra atávica a partir do próprio texto.
Atávico é aquilo que permanece no homem
desde as origens da espécie humana.
4– O texto se refere a E. M.
Forster para comprovar suas primeiras colocações. De que forma os fatos
indicados pelo escritor inglês se relacionam com os dois primeiros períodos do
texto?
O caráter atávico da atividade narrativa,
apontado por Forster, liga-se à afirmação de caráter histórico que abre o texto;
já a alusão a Xerazade e ao sultão relaciona-se diretamente com o segundo
período do texto, que estende a atividade narrativa a todas as camadas sociais.
O aluno deve observar como a citação das proposições de Forster está
simetricamente relacionada com o início do texto.
5 – Xerazade é
caracterizada, no texto, por duas palavras. Aponte-as e explique seus
significados.
Protagonista:
personagem principal de uma narrativa.
Narradora:
aquela que, numa narrativa, conta a história. São palavras que serão muito
utilizadas no capítulo.
6 – Qual é, na sua opinião,
a função do trecho colocado entre parênteses no final do primeiro parágrafo?
Há uma função óbvia, que é a
exemplificação; ao lado dela, percebe-se, no entanto, uma evidente intenção crítica.
Foi provavelmente essa a razão pela qual a autora optou pelo uso dos
parênteses.
7 – Relacione as ideias de suspense, história bem contada e novelas
de TV.
As novelas de TV são histórias bem contadas quando
consideradas do ponto de vista das interrupções e momentos de calculado suspense.
8 – Explique o significado
da expressão natureza lúdica a partir do próprio texto.
É a parte da natureza humana ligada ao
jogo, à brincadeira, à diversão.
9 – Qual o significado
essencial das atividades lúdicas?
É a sua capacidade de substituir os
objetos de conflito por objetos de prazer, ou seja, aquilo que, na vida
cotidiana, causa conflitos, disputas, insegurança é substituído, durante o
jogo, por motivos de alegria e fruição.
10 – Explique o último
período do segundo parágrafo, relacionando-o com o período que o antecede.
A realização dos jogos gera a necessidade
de manipulações, de mecanismos, de estratégias de ação; essa necessidade já
está anunciada no período anterior, quando se fala das regras e do valor
simbólico e representativo das atividades lúdicas.
11 – Explique o que é uma
comunidade lúdica.
É um conjunto de seres humanos e de
instrumentos empenhados num jogo. No caso do jogo narrativo, compreende o
narrador, o leitor e o próprio texto.
12 – Releia atentamente o
texto e elabore um esquema capaz de mostrar o encadeamento das ideias colocadas
pela autora. Para facilitar seu trabalho, procure extrair de cada parágrafo a
ideia ou as ideias principais. A seguir, comente a importância da palavra também no segundo parágrafo.
1º parágrafo:
“Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do homem. Pessoas de
todas as condições socioeconômicas têm prazer de ouvir e de contar histórias”.
2º parágrafo: “Todas as atividades que o
inventar/narrar... podem ser associadas também à natureza lúdica do homem”.
3º parágrafo: “Constituir um enredo é
começar um jogo”.
4º parágrafo: Nas atitudes narrativas, há
todas as manifestações típicas das atividades lúdicas.
É a palavra também que conecta os dois momentos principais do texto: Aquele em
que predomina a visão histórica e social da narração, e aquele em que a
narração é vista como atividade essencialmente lúdica.
13 – Você concorda com a
afirmação final do texto? Como tem sido sua experiência de jogador nas
comunidades lúdicas de que participa.
O aluno deve procurar refletir sobre sua
vivência como emissor e receptor de textos narrativos na prática cotidiana.
Deve-se observar que os adolescentes têm por hábito contar suas experiências
uns aos outros, às vezes em grupos que atravessam noites narrando.
PARABÉNS!!!
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