quinta-feira, 3 de agosto de 2017

FÁBULA: O MACACO E O GOLFINHO - ESOPO - COM GABARITO

FÁBULA: O MACACO E O GOLFINHO
                   ESOPO

        Na antiguidade, os navios eram pequenos barcos a remo ou à vela, e as viagens, é claro, uma grande aventura. O tempo não contava: ao embarcar, era impossível prever a duração da viagem... 
   Para se entreterem nessas grandes travessias, os viajantes recorriam a tudo o que fossem capazes de imaginar: uns jogavam dados ou xadrez, outros dormiam todo o tempo, alguns conversavam entre si ou com a tripulação, e ainda havia os que levavam consigo seus bichos de estimação para fazer companhia: cachorros, macacos ou corvos amestrados. 
      Um mercador ateniense emigrado da Sicília – que, na época, chamava-se Magna Grécia – fizera fortuna em poucos anos. E decidira regressar à pátria para gozar a riqueza. Enquanto esperava que carregassem sua bagagem para o interior do navio, reparou em um marinheiro fenício que passava por ali com um macaco ao ombro.
       — Ei, moço! – chamou. – O que esse seu simpático bichinho sabe fazer?        O outro achou graça:
     — Khala? Esse é o mais esperto macaco da face da Terra! Trepa no mastro do navio e me avisa quando avista alguma embarcação. Além disso, sabe dançar quando ouve música. Quer ver? 
      Sem esperar resposta, tirou uma flauta do bolso e começou a tocar uma música típica do seu país. 
     Khala saltou, imediatamente, para o chão e começou a dançar, dando várias cambalhotas e até um salto mortal.
     — Quanto você quer por ele? – perguntou o mercador, sem muito interesse, para o preço não vir. Muito alto.
        — Uma mina ateniense não bastaria, pois, além de ele ser muito esperto, gosto demais dele ... – o outro se fez de rogado, para fazer seu produto valer mais. 
        Depois de alguma discussão, o marinheiro deu o preço:
        — Cem dracmas.
      — Cem dracmas! – exclamou o mercador, roxo e gago, de raiva. – Você deve estar maluco! 
     Depois de regatear, as cem dracmas reduziram-se a quatro e logo uma moeda de prata trocada de mãos, ao mesmo tempo em que o macaco trocava de dono.
       — Adeus, Khala! – suspirou o fenício. – Odeio me separar de você, mas é preciso...– e, passando a cordinha no pescoço do macaco, entregou-o ao mercador, acrescentando: — É um bichinho muito especial, você vai ver. Boa viagem!
        — Adeus, marinheiro, e obrigado! 
     E os dois, o macaco e o mercador, começaram a subir a prancha que servia de ponte entre o navio e o cais. 
       Khala era obediente e não reclamou.
   O fenício tinha razão: já no primeiro dia, Khala tornara-se o grande divertimento da tripulação e dos passageiros: saltava, dançava, trepava no mastro e apanhava comida das mãos das pessoas. Não parava um minuto. 
       Naquele mês de julho, o tempo estava maravilhoso. O mar apresentava-se liso e calmo, e a viagem corria agradável, sem atropelos. 
      No décimo dia, porém, quando o navio preparava-se para dobrar o último cabo, um forte vendaval levantou-se, com vento a noroeste, e o céu cobriu-se de nuvens negras. A pequena embarcação balançava terrivelmente. Todos receavam que ela não fosse aguentar ou que, a qualquer momento, batesse nos rochedos. 
       O capitão mandou que todos os passageiros fossem para o porão. 
       Ao preparar-se para obedecer, o mercador percebeu que não via Khala.
       — Onde você está, Khala? – chamou, apreensivo. – Khala! Khala!
     Em cima do mastro, Khala, animadíssimo, fazia seu melhor número. Por não ter medo da tempestade, saltava, corri, dançava, parecendo muito alegre com aquilo que lhe parecia uma festa... 
     O mercador nem teve tempo de abrir a boca, uma onda mais violenta ainda abateu-se sobre a popa do navio, que se empinou, permanecendo suspenso sobre a crista da onda, voltando a cair de popa. Ouviu-se um estrondo: o mastro partira-se, caindo de lado sobre a ponte. Quebrou os cabos que o prendiam e perdeu-se na fúria das águas. Khala caiu de cabeça para baixo e, por um longo momento, ficou parado, bebendo água, bebendo, bebendo...
       Estava quase morto, quando ouviu uma voz que dizia:
        — Suba nas minhas costas.
     Ele só entendeu por ter sido criado por marinheiros e estar habituado à linguagem do mar, pois era um golfinho que assim lhe falava, naquela estranha mistura de ruídos e assobios. 
      Embora se sentisse desfalecendo, Khala apressou-se em obedecer: 
    Como é bom respirar! Agora, sim, o macaco voltara à superfície e podia conversar com o amigo que lhe salvara a vida:
    — Obrigado! Eu não sei o que teria acontecido comigo, se não fosse você...Ou melhor, até sei! – disse Khala.
      — De nada! Você vai para Atenas? – perguntou o golfinho.
      — Vou.
      — Você é ateniense?
     — Ateniense? – surpreendeu-se o macaco. – Acho que esse idiota pensa que eu sou um homem... – e continuou, em voz alta: - Sim, sou. E ateniense de uma das melhores famílias!
     — Ah, sim? – o golfinho não parecia muito surpreso. – E a quem tenho a honra de transportar na minha garupa?
     — Filostrato, filho de Pisandro, neto de Timóteo, bisneto de Electeu e de Licurgo.
     — Estranho... – pensou o golfinho. — Nunca tinha ouvido falar... – e perguntou em voz alta: — E o que você faz na vida?
   — Vivo de rendas. Possuo casas, terrenos e navios. Ah, estava me esquecendo: também sou animador...
    — Animador? – pensou o golfinho. – Não deveria ser “armador”? Hum, deve ser algum espertinho...  Espere, que já vamos ver ... – e em voz alta perguntou:  — Se você é animador, deve conhecer bem o Pireu, não é verdade? 
     Já envolvido por suas próprias mentiras, Khala nem parou para pensar, pois, se o tivesse feito, teria se lembrado de que Pireu é o nome do porto de Atenas. Com grande entusiasmo, exclamou: 
     — Pireu! Pireu! Você também conhece aquele grande malandro? Uma pessoa fantástica, divertidíssima... Sabia que ele não anda bem ultimamente?
       — Sério? Você tem certeza? – o golfinho fingiu interesse.
       — Absoluta! – respondeu o macaco.
      — Pois eu tenho certeza é de outra coisa! – disse, com raiva, o golfinho, diante de tamanho descaramento. – Tenho certeza é de que você, se quiser voltar a ver o seu querido amigo Pireu, vai ter de ir a nado! 
   E o golfinho sacudiu as costas, derrubando Khala na água e desaparecendo num mergulho rápido, sem ouvir os desesperados pedidos de socorro do macaco.

Moral: Os ignorantes têm a mania de tentar enganar quem sabe mais do que eles, mas isso quase nunca á certo.

(LIVRO FÁBULAS DE ESOPO – EDITORA PAULUS) VOCABULÁRIO:

Dracmas: nome do dinheiro usado na época.
Fenício: natural ou habitante da antiga Fenícia, região litorânea da atual Síria.
Ateniense: natural ou habitante da cidade de Atenas (Grécia).
Armador: construtor de navios.


1ª QUESTÃO: Para se distraírem em suas viagens, os marinheiros faziam várias atividades. Marque a opção que apresenta uma atividade que não foi citada no texto:
       A – ( ) Eles jogavam dados.
       B – ( ) Alguns dormiam.
      C – ( ) Outros conversavam.
      D – (X) Jogavam cartas.
      E – ( ) Levavam seus animais de estimação.

2ª QUESTÃO: “O capitão mandou que todos os passageiros fossem para o porão.”  O capitão deu essa ordem porque ...
       A – ( ) o sol estava muito forte e os passageiros passavam mal.
      B – ( ) os marinheiros estavam jogando e precisavam de espaço.
      C – (X) a embarcação corria risco de naufragar.
      D – ( ) a comida seria servida no porão.
      E – ( ) era norma do navio.  

3ª QUESTÃO: “Embora se sentisse desfalecendo, Khala apressou-se em obedecer:”  A palavra destacada poderá ser substituída, sem alterar o sentido da frase, por:
       A – ( ) agitado.
       B – (X) desmaiando.
      C – ( ) disposto.
      D – ( ) esperto.
      E – ( ) atento.

4ª QUESTÃO: Marque a opção correta:

       A – (X) “O mar apresentava-se liso e calmo, e a viagem corria agradável...” Na frase acima, o mar foi personificado.
       B – ( ) “Em cima do mastro, Khala, animadíssimo, fazia seu melhor número.” O adjetivo animadíssimo encontra-se no grau comparativo de igualdade.
       C – ( ) “Khala saltou, imediatamente, para o chão e começou a dançar...” Imediatamente é o mesmo que nervosamente.
       D – ( ) “Tenho certeza é de que você, se quiser voltar a ver o seu...” O vocábulo é classifica-se como monossílabo átono.
       E – ( ) “— Ei, moço!...” A vírgula foi usada para separar a palavra que indica uma explicação.

5ª QUESTÃO: De acordo com o Texto , o macaco conseguiu entender o que o golfinho dizia, porque:
       A – ( ) ele falava a língua dos golfinhos.
       B – ( ) entendia qualquer idioma.
       C – (X) estava habituado à linguagem do mar.
       D – ( ) viveu algum tempo entre os golfinhos.
       E – ( ) era o rei do mar.

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