Reportagem: A casa do pedreiro virou biblioteca
Morador
de São Gonçalo, no Rio, bateu de porta em porta para receber livros
Carlos Leite mal consegue ler, mas os
livros mudaram sua vida. Dois anos atrás, ele fazia uma construção para uma pessoa
que ia se desfazer de seis volumes de uma enciclopédia. Leite pediu para ficar
com eles. Assim nasceu um sonho.
Ele decidiu bater de porta em porta na
cidade da Baixada Fluminense, pedindo livros indesejados às pessoas. Nenhuma
contribuição era pequena demais. Amigos foram convencidos a ajudá-lo. A
biblioteca, que abriu as portas em março de 2004, tem 10 mil volumes de todo
tipo.

Para Leite, porém, os livros são um
mistério. De família pobre, ele abandonou a escola no terceiro ano e hoje, aos
51, é analfabeto funcional. Mas sabe a importância dos livros. “Pode ser tarde
para mim, um pedreiro, mas não para outros”.
Assim floresceu a paixão que tem
consumido seu tempo livre e transformou sua casa numa biblioteca pública, gratuita
e aberta à vizinhança pobre neste subúrbio do Rio. Quem visita a casa de Leite
encontra garotos fazendo a lição no que era seu quarto. Adultos folheiam
títulos no que era a sala. Um festival de brochuras e livros sobre quase todo
assunto imaginável, alguns em estado lamentável, cobre todo espaço disponível
das paredes.
O espaço para os livros é tão precioso
que Leite e a companheira, Maria da Penha, se mudaram para um quartinho nos
fundos. “Este é o único espaço que temos para dormir. Os livros nos chutaram
para fora. Se não tomarmos cuidado vão nos chutar para fora deste quartinho
também”.
Um grande cartaz pintado à mão no
telhado da casa anuncia: Biblioteca Comunitária, Rua 18. O que Maria da Penha e
Leite fizeram é notável quando se considera o desafio que é criar o hábito de
ler num país com um dos níveis mais baixos de leitura do mundo. O americano e o
inglês médios leem 5 livros por ano. Na França, 7. No Brasil, menos de 2.
Os brasileiros são prejudicados pela
falta de acesso. Autoridades dizem que quase 1 mil dos 5500 municípios do país
não têm biblioteca pública. Um estudo de 2001 estima que 16% da população têm
75% de todos os livros no Brasil. Além disso, o analfabetismo continua alto,
com 16 milhões de brasileiros com mais de 15 anos incapazes de ler ou escrever.
O governo brasileiro lançou uma série
de iniciativas para melhorar a situação, inclusive com redução de impostos e
campanha para criar bibliotecas. Mas Leite e Maria da Penha não quiseram
esperar.
O Estado de S. Paulo,
5/10/2005.
Fonte: Livro –
Português: Linguagem, 8ª Série – William Roberto Cereja, Thereza Cochar
Magalhães, 4ª ed. – São Paulo: Atual Editora, 2006. p. 21.
Entendendo a reportagem:
01 – Qual a profissão de
Carlos Leite e como surgiu a ideia da biblioteca?
Carlos Leite é
pedreiro. A ideia da biblioteca surgiu quando ele recebeu seis volumes de uma
enciclopédia de um cliente e decidiu pedir mais livros de porta em porta.
02 – Qual a situação de Carlos
Leite em relação à leitura e escrita?
Carlos Leite é
analfabeto funcional, ou seja, tem dificuldade em ler e escrever, pois
abandonou a escola no terceiro ano.
03 – Como a comunidade local
utiliza a biblioteca de Carlos Leite?
A biblioteca é utilizada por crianças
para fazerem lição de casa e por adultos para leitura, tornando-se um espaço
comunitário importante.
04 – Qual o impacto da
biblioteca na vida de Carlos Leite e sua companheira, Maria da Penha?
A biblioteca
transformou a casa do casal, que precisou se mudar para um quarto nos fundos
para acomodar os livros.
05 – Qual a importância da
biblioteca de Carlos Leite em relação ao cenário de leitura no Brasil?
A iniciativa de Carlos Leite é notável em
um país com baixos índices de leitura e dificuldades de acesso a livros e
bibliotecas.
06 – Quais os desafios
enfrentados pelo Brasil em relação ao acesso à leitura, segundo a reportagem?
O Brasil enfrenta
desafios como a falta de bibliotecas públicas em muitos municípios, a
concentração de livros nas mãos de poucos e o alto índice de analfabetismo.
07 – Quais as ações do governo
brasileiro para melhorar o acesso à leitura?
O governo
brasileiro tem lançado iniciativas como redução de impostos e campanhas para
criar bibliotecas, buscando reverter o cenário de baixa leitura no país.
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