quarta-feira, 8 de maio de 2024

CRÔNICA: GUERREIROS DOS MALOTES - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Guerreiros dos Malotes

                 Walcyr Carrasco

 Quatro horas da tarde. Estou subindo a avenida Rebouças e observo a montanha de carros à minha frente. Trânsito lento. Lentíssimo. Ouço música. De repente, sinto uma pancada no carro. Um motoboy acaba de arrasar com meu espelho. Nem se digna olhar para trás. Continua ondulando por entre os carros paralisados. Dá vontade de descer e persegui-lo. Não seria nem para reclamar o espelho de volta. Mas para exigir respeito. No mínimo, um pedido de desculpas. Tarde demais. Ele está longe. Eu, sem retrovisor.

Já sei. Vão acabar dizendo que tenho obsessão pelos problemas de trânsito.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-up1hlIFv1jC-K9R912hOAFEPpjsggMbSkjccO7_2IHsZ4K2O5STCwi6OaTjYB3QtrYH6x_7bcWu5meo3ppuEo94m6vrHDaKwX-GE-_ys9lRUHlinqa-2DPrxqFwqmpGh4oxcnIS5CdRNCMezhDbpsLFf0I74v5i_l6He2O-SrIBhyphenhyphenkUCiEQWR5B0a1g/s1600/REBOU%C3%87AS.jpg

Que durmo pensando em semáforos, assim como tenho pesadelos com minha barriga. Pode ser. Ando louco com os motoboys. Nada mais prático do que usar moto numa cidade como a nossa. Motoboys são uma categoria à parte. Encolhem se para passar entre os carros, atravessam as ruas em diagonal. Pintura raspada é detalhe sem importância. Outro dia uma amiga conversava comigo de janela aberta, o braço para fora. Ouviu um barulhinho, instintivamente puxou o braço. Por um triz não perdeu o cotovelo.

— Ei! Toma cuidado! — gritou.

Como sempre, o rapaz nem diminuiu a velocidade para conferir.

Quando o trânsito flui, também não é fácil. As motos parecem surgir do nada. Cortam pela direita, atravessam na frente, empinam para a esquerda. Sair no Itaim-Bibí domingo à noite é arriscadíssimo. O motivo: a maré de motoboys entregando pizzas. Paulistano que se preza adora uma pizza aos domingos. O Itaim-Bibi possui uma das maiores concentrações de devoradores de pizza do planeta. Pelo menos é o que me contou um morador do bairro. É uma correria total, para que as pizzas cheguem quentinhas. Enquanto isso, os transeuntes correm para não ser atropelados pelas calabresas, margheritas e mussarelas. Às vezes ocorrem tragédias. A família senta-se à mesa, os estômagos ronronam. Abre se a caixa. O presunto da meia portuguesa rolou sobre a meia mussarela. Â família passa parte do jantar arrumando o presunto e capturando as azeitoninhas pretas que se espalharam pela tampa toda. Motoboys têm seus truques. Um deles me explicou:

— E mole cortar ônibus. Presto atenção ao motor. Se está baixinho, é que ainda está pegando passageiro, e eu entro em cima. Se o barulho aumenta, danou-se!

Bela filosofia de vida, não?

Um amigo teve o capo atingido por um apressadinho. Desceu do carro pronto para pegar o número da chapa, fazer ocorrência. Todos os motoboys que passavam por perto perderam a pressa. Pararam em torno, ameaçadores. Unidos.

— Que foi aí?

O motorista passou de vítima a agressor. Em cinco segundos a história era outra. Começaram a ameaçar. Meu amigo refugiou-se no carro, antes que apanhasse.

E uma profissão sofrida. Não se ganha muito, trabalha-se no sol e na chuva. Existe uma complacência a respeito do assunto, devido à questão social. O que se lucra com isso? Entre eles, defendem-se como se pertencessem a uma tribo guerreira. Dirigir moto parece despertar esse tipo de reação. O sujeito se sente cavalgando um corcel árabe pelas dunas do deserto. Mesmo que esteja apenas entregando um malote de burocráticas cartas comerciais. Por baixo do capacete vive um tuaregue. Um beduíno prestes a enfrentar a guarda do sultão e resgatar uma odalisca do harém. Mas e eu, como fico? Só quero sair de um lugar e chegar inteiro a outro. Meu sonho é dirigir sem ter um infarto em cada cruzamento. A salvo dos guerreiros dos malotes.

 Entendendo o texto

 01. Qual é o incidente que acontece com o carro do autor enquanto ele está no trânsito?

a) Um pneu furado.

b) Uma colisão traseira.

c) Um arranhão na pintura.

d) O retrovisor é danificado por um motoboy.

    02. Qual é a reação do motoboy após danificar o retrovisor do carro do autor?

          a) Ele pára para  pedir desculpas.

          b) Ele continua seu caminho sem se importar.

          c) Ele volta para consertar o estrago.

          d) Ele chama a polícia para resolver a situação.

    03. Por que o autor menciona ter pesadelos com sua barriga no início da crônica?

          a) Ele se preocupa com sua saúde.

          b) Ele faz uma analogia entre suas preocupações e o trânsito.

          c) Ele tem medo de dirigir.

          d) Ele teme a má alimentação.

    04. O que o autor observa sobre os motoboys em relação ao trânsito?

          a) Eles obedecem rigorosamente às regras de trânsito.

          b) Eles são rápidos e eficientes para se locomover na cidade.

          c) Eles frequentemente causam acidentes e ignoram os outros motoristas.

          d) Eles preferem usar carros em vez de motos.

    05. O que acontece quando o trânsito flui, de acordo com o autor?

          a) As motos desaparecem.

          b) As motos parecem surgir repentinamente.

          c) Os carros se movem lentamente.

          d) As ruas ficam vazias.

    06. Qual é a situação específica que torna arriscado sair no Itaim-Bibí domingo à noite?

          a) A presença de pedestres distraídos.

          b) A alta concentração de motoboys entregando pizzas.

          c) O trânsito intenso de carros.

          d) O fechamento das ruas para eventos.

   07. Como os motoboys identificam se podem cortar um ônibus, de acordo com um deles?

         a) Pela cor do ônibus.

         b) Pelo motor do ônibus.

         c) Pelo barulho do motor do ônibus.

         d) Pela velocidade do ônibus.

    08. O que acontece quando um amigo do autor tenta resolver um acidente envolvendo um motoboy?

         a) O motoboy pede desculpas imediatamente.

         b) Os motoboys que passam ameaçam o amigo.

         c) A polícia intervém rapidamente.

         d) O autor convence os motoboys a resolverem pacificamente.

    09. Como o autor descreve a profissão de motoboy?

          a) Lucrativa e confortável.

          b) Difícil e pouco remunerada.

          c) Despreocupada e relaxante.

          d) Segura e estável.

   10. Qual é o sentimento do autor em relação aos motoboys ao final da crônica?

          a) Admiração pelo seu trabalho árduo.

          b) Incompreensão pela sua maneira de conduzir.

          c) Solidariedade por suas dificuldades.

          d) Frustração e desejo de evitar conflitos.

 

 

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