Poema: Nunca não ser ninguém nem nada
Paulo Henriques Britto
Nunca não ser ninguém nem
nada,
porém deixar-se estar no tempo
como se a vida fosse água,
como quem boia à flor da água
sem rumo, sem remo, sem nada
além de sono, tédio e tempo,
senhor de todo o espaço e o
tempo,
munido só de pão e água
e, sem precisar de mais nada,
beber sua água enquanto é
tempo.
E, depois, nada.
BRITTO, Paulo
Henriques. Macau. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 25.
Fonte: Língua
Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem.
Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição.
São Paulo, 2016. p. 134.
Entendendo o poema:
01 – O primeiro verso do poema
é construído a partir de uma negação. Transforme-o em um conselho ou
recomendação ao leitor. Para isso, suprima o advérbio não e inicie sua
frase com o antônimo de nunca.
Sempre ser alguém
e tudo.
02 – A conjunção adversativa
porém (segundo verso) introduz uma nova ideia que modifica o que é dito pelo eu
lírico no primeiro verso. Que ideia é essa?
Embora o eu
lírico defenda que é preciso sempre ser alguém e procurar ser tudo (na vida),
isso deve ser feito de maneira natural e leve (sem prepotência ou arrogância).
03 – Como você já estudou, a
rima não é o único recurso sonoro presente em um poema. Repetições de palavras,
de frases e de versos – denominadas recorrências – também são recursos comuns
nesse gênero textual.
a) Anote no caderno as palavras que se repetem no poema de Britto.
No poema, há repetições das palavras “nada”, “tempo” e “água” no
final dos versos (com exceção da última estrofe, em que aparece a palavra
“água” no meio do penúltimo verso) e da palavra “sem”, no segundo verso da
segunda estrofe e no último verso da terceira estrofe.
b) Você observa alguma regularidade nessas recorrências?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: o poeta faz um jogo que
consiste em variar a ordem em que as palavras aparecem no final dos versos.
c) Que função têm essas recorrências para a construção dos sentidos do poema?
Há varias possibilidades de respostas. Sugestão: Mesmo repetidas, as
palavras “nada”, “tempo” e “água” surgem e ressurgem ganhando novos sentidos em
cada estrofes.
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