Poesia: “Carta aos Puros"
(Vinicius de Moraes)
Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros
E em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.
Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alva dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.
Ó vós, homens iluminados a néon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem-amais e vos julgais perfeitos
E vos ciliciais à ideia do que é bom.
Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos julgais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade,
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.
Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vedes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.
Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.
Ó vós que vos negais à escuridão dos bares
Onde o homem que ama oculta o seu segredo
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.
Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.
Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.
Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensais que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.
Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o bem do alheio é a melhor iguaria.
Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra...
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.
01. Quem é o eu lírico da poesia "Carta aos
Puros" de Vinicius de Moraes?
a) Um
observador crítico.
b) Um homem sem sal.
c) Um ser iluminado
a néon.
d) Um súcubo dos
sentimentos mais escuros.
02. Como o eu lírico descreve os homens aos quais se
refere na poesia?
a) Como homens de
músculos duros e sangue colorido.
b) Como homens raros
e perfeitos.
c) Como
homens sem sol, sem sal e iluminados a néon.
d) Como homens
corajosos e altruístas.
03. Qual é o sentimento principal expressado pelo eu
lírico em relação aos "Puros"?
a) Admiração.
b)
Desprezo.
c) Indiferença.
d) Solidariedade.
04. Segundo o eu lírico, como os homens descritos na
poesia se veem?
a) Como
portadores da verdade.
b) Como homens
fracos e insignificantes.
c) Como portadores
de sentimentos escuros.
d) Como homens
iluminados pela esperança.
05. Qual é a crítica central do eu lírico em relação
aos "Puros"?
a) Sua falta de
ambição.
b) Sua tendência ao
conflito e à violência.
c) Sua
falsa virtude e autoengano.
d) Sua incapacidade
de amar.
06. Qual é a analogia utilizada pelo eu lírico para
descrever a relação dos "Puros" com a esperança?
a) Como
uma bandeira aguerrida.
b) Como um túmulo do
forte.
c) Como um dom
público e gratuito.
d) Como um antônimo
da treva.
07. Como os "Puros" são caracterizados em
relação à escuridão dos bares e ao amor?
a) Eles se revelam
nas sombras, mas temem o amor.
b) Eles se
escondem da escuridão e temem o amor.
c) Eles desfrutam da
escuridão dos bares e desprezam o amor.
d) Eles evitam a
escuridão e enxergam o amor como uma fraqueza.
08. Qual é a crítica do eu lírico em relação ao
comportamento dos "Puros" diante dos sentimentos nobres?
a) Eles
maiusculizam os sentimentos nobres.
b) Eles menosprezam
os sentimentos nobres.
c) Eles ignoram os
sentimentos nobres.
d) Eles distorcem os
sentimentos nobres.
09. O que o eu lírico sugere sobre a visão dos
"Puros" em relação aos pobres e aos sentimentos nobres?
a) Eles
desvalorizam os pobres e os sentimentos nobres.
b) Eles valorizam os
pobres, mas menosprezam os sentimentos nobres.
c) Eles oferecem
esmolas aos pobres em troca de virtude.
d) Eles desprezam os
pobres, mas valorizam os sentimentos nobres.
10. Qual é a advertência final do eu lírico aos
"Puros"?
a) Eles
devem cuidar-se porque estão sendo vigiados pela Esfinge.
b) Eles devem buscar
a verdadeira pureza.
c) Eles devem
aceitar sua imperfeição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário