Relato: História de Vinícius Campos de Oliveira
"Tudo começou na verdade...
f... com o meu irmão, meu irmão mais velho, né? Ele começou a trabalhar no
aeroporto Santos Dumont primeiro do que eu, antes de mim, é... como engraxate,
porque já tinha uns outros... outros amigos ali da área...
Teve um momento, um dia, em que eu tava
dentro do saguão, e aí por um acaso o Walter Salles, né?, o diretor do filme,
ele tava... é... ia pegar uma ponte aqui pra São Paulo e... resolveu parar na
lanchonete pra fazer um lanche e ele era o último da fila, mas, evidentemente,
eu não sabia quem era o Walter Salles é... e eu... mas eu o vi de longe, no
fi... no final da fila, pensei “ah, vou chegar até esse rapaz pra ver se eu
consigo engraxar o sapato dele, né?” e quando eu fui me aproximando, eu percebi
que ele tava de tênis. E... eu falei “ah, bom, de tênis não... não dá pra fazer
o serviço, né?”. E aí na hora que eu dei as costas pra ir embora, eu parei pra
pensar cinco segundos e falei “ah, acho que eu vou voltar lá e pedir pra esse
cara me pagar um sanduíche”. Foi quando eu voltei e perguntei se ele podia me
pagar um hambúrguer, tal, uma Coca-cola. Ele falou “claro”. E, aí, depois que
ele terminou de comer, ele foi falar comigo, né?, perguntar se eu queria...
fazer um teste pra um filme. É... eu falei “ah, claro, tudo bem”, mas eu não
sabia o que era, né? Ele perguntou se eu conhecia cinema, se eu já tinha feito
alguma coisa. E eu falei: “não, não sei o que que é. E eu nunca fui ao cinema
também, então não tenho ideia do que cê... esteja falando”. Ele falou: “bom,
então se você puder ir nesse lugar, nesse dia, nessa data, nesse horário, você
vai lá fazer um testezinho e a gente conversa melhor”.
Eu voltei pra casa, contei pra minha
mãe a história, a situação, ela não tinha entendido nada, porque também ela não
sabia o que era, não entendia da coisa. Ficou superpreocupada porque era um
momento em que... é... tava muito forte a coisa de... de... raptar crianças e
aí vender os órgãos, essa coisa toda. Esse negócio tava saindo direto na mídia,
e... e aí eu não fui. Simplesmente esqueci e os dias passaram, até que um dia,
também fim da tarde, eu andando do lado de fora do aeroporto, me para uma Kombi
do lado e aí descem duas pessoas, perguntando se eu era o Vinícius. E eu falei:
“ah, sou, sou eu, sim”. E, aí, que eles contaram a história do Walter: “A gente
veio aqui a pedido do Walter, estamos o dia inteiro te caçando no aeroporto.
Ele quer que você faça o teste” e... foi quando tudo deu certo. Acabou dando
certo e, aí, a gente começou a filmar o Central, enfim, é... antes de filmar eu
conheci a Fernanda, claro, ensaiei um pouco com ela pra pegar intimidade e...
foi quando aconteceu o Central."
Disponível em: http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/a-carta-inerente-3085. Acesso em: 2 out. 2015.
Fonte: Língua
Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem.
Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição.
São Paulo, 2016. p. 195-197.
Entendendo o relato:
01 – As informações temporais
são parte importante de um relato.
a) Escreva no caderno os fatos que marcam o início e o final do período abarcado pelo relato de Vinícius.
Início: trabalho no aeroporto como engraxate; final: início das
filmagens.
b) Explique a função da referência ao irmão mais velho no início do texto.
A referência ao irmão explica por que Vinícius passou a trabalhar no
aeroporto onde foi visto pelo diretor de cinema.
c) Que expressões temporais foram empregadas para indicar o momento da ação central desse relato? Elas são precisas?
As expressões “um momento, um dia”, que não são precisas.
02 – O relato narra o encontro
do falante com o diretor de cinema Walter Salles.
a) Que informações justificam o uso de “evidentemente” no trecho “mas, evidentemente, eu não sabia quem era o Walter Salles?
Na continuação do relato, Vinícius informa que nunca tinha ido ao cinema
nem tinha qualquer intimidade com a área e, portanto, não teria como reconhecer
o diretor.
b) Que imagem do diretor o ouvinte constrói a partir do relato? Como ela é construída?
A de um jovem generoso e simples. A imagem é construída pela
descrição física do diretor, que calçava tênis e é chamado de “rapaz”, o que
evidencia sua simplicidade e juventude, e por seu comportamento, pois atendeu
ao pedido do menino, o que mostra sua generosidade.
03 – Como a condição
financeira do falante é evidenciada ao longo do relato? Por que ela ganha
destaque?
O falante
menciona que trabalhava como engraxate, assim como seu irmão, o que indica ser
ele de família pobre, algo confirmado pelo fato de pedir o lanche a um
desconhecido e por jamais ter ido ao cinema. trata-se de uma informação
importante para entendermos o efeito, na vida do falante, daquele encontro com
o jovem diretor.
04 – No último período do
relato, o tom de voz do falante vai progressivamente diminuindo e ele termina a
fala em um tom bastante baixo. O que isso pode significar?
O relato tem por foco o momento em que o
garoto foi descoberto pelo diretor e convidado a fazer o teste e não a
explicação sobre as filmagens, que constitui uma informação menos relevante
dentro do recorte específico que ele propôs. Assim, o tom de voz baixo parece
indicar que o relato está sendo concluído.
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