domingo, 27 de fevereiro de 2022

CRÔNICA: AI, GRAMÁTICA, AI, VIDA - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

 Crônica: AI, GRAMÀTICA, AI, VIDA.

               Moacyr Scliar

        [...]
        INFÂNCIA: A PERMANENTE EXCLAMAÇÃO

        Nasceu! É um menino! Que grande! E como chora! Claro, quem não chora não mama!

        Me dá! É meu!

        [...]

        A PUBERDADE: A TRAVESSIA (OU O TRAVESSÃO)

        [...]

        — O que eu acho, Jorge — não sei se tu também achas — o que eu acho — porque a gente sempre acha muitas coisas — o que eu acho — não sei — tu és irmão dela — mas o que eu estive pensando — pode ser bobagem — mas será que não é de a gente falar — não, de eu falar com a Alice —

        — Alice tu sabes — tu me conheces — a gente se dá — a gente conversa — tudo isto Alice — tanto tempo— eu queria te dizer Alice — é difícil — a gente — eu não sei falar direito.

        JUVENTUDE — A INTERROGAÇÃO

        Mas quem é que eu sou afinal? E o que é que eu quero? E o que é que vai ser de mim?

        E Deus, existe? E Deus cuida da gente? E o anjo da guarda, existe? E o diabo? E por que é que a gente se sente tão mal?

        [...]

        Mas por que é que tem pobres e ricos? Por que é que uns têm tudo e outros não têm nada? Por que é que uns têm auto e outros andam a pé? Por que é que uns vão viajar e outros ficam trabalhando?

        [...]

        AS PAUSAS RECEOSAS (RECEOSAS, VÍRGULA, CAUTELOSAS) DO JOVEM ADULTO

        Estamos, meus colegas, todos nós, hoje, aqui, nesta festa de formatura, nesta festa, que, meus colegas, é não só nossa, colegas, mas também, colegas, de nossos pais, de nossos irmãos, de nossas noivas, enfim, de todos quantos, nas jornadas, penosas embora, mas confiantes sempre, nos acompanharam, estamos, colegas, cônscios de nosso dever, para com a família, para com a comunidade, para com esta Faculdade, tão jovem, tão batalhadora, mas ao mesmo tempo tão, colegas, tão.

        [...]

        O HOMEM MADURO. NO PONTO.

        Uma cambada de ladrões. Têm de matar.

        Matar. Pena de morte.

        O Jorge também. Cunhado também. Tem de matar. Esquadrão da morte. E ponto final. No meu filho mando eu. E filho meu estuda o que eu quero. Sai com quem eu quero.

        Lê o que eu quero. Frequenta os clubes que eu mando.

        Tu ouviste bem, Alice. Não quero discutir mais este assunto. E ponto final.

        (UM PARÊNTESE)

        (Está bem, Luana, eu pago, só não faz escândalo)

        O FINAL... RETICENTE...

        Sim, o tempo passou... E eu estou feliz... Foi uma vida bem vivida, esta... Aprendi tanta coisa... Mas das coisas que aprendi... A que mais me dá alegria... É que hoje eu sei tudo... Sobre pontuação...

                         Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar e outras crônicas. Porto Alegre: L&PM, 1995. p. 88-91.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – 2ª edição - Atual Editora -1998 – p. 194-6.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Cauteloso: cuidadoso, o que age com prudência.

·        Cônscio: consciente.

02 – O narrador-personagem associa as fases da vida a sete sinais de pontuação e, por meio deles, narra a sua história. Na 1ª parte, a infância é associada ao sinal de exclamação. De quem são as falas e o que a exclamação expressa:

a)   No 1° parágrafo?

De um adulto: do pai ou da mãe do bebê que nasceu. Expressa a alegria pelo nascimento.

b)   No 2° parágrafo?

Quem fala nesse parágrafo é a criança. O ponto de exclamação, nesse caso, sugere a convicção com que fala “É meu!”.

03 – Na 2ª parte do texto, o narrador associa a adolescência ao travessão, fazendo um trocadilho entre travessão e travessia. A que tipo de travessia se refere o narrador?

      À travessia da infância para a fase adulta, ou seja, à adolescência.

04 – Ainda na 2ª parte do texto, o protagonista conversa com um amigo (Jorge) e sua irmã (Alice).

a)   De que assunto ele quer tratar com essas pessoas?

De assuntos sentimentais.

b)   O que o emprego constante do travessão sugere quanto ao estado emocional do protagonista?

Que ele está inseguro, não consegue se expressar com clareza e desvia o assunto central a todo instante.

05 – A 3ª parte, a da juventude, é associada ao ponto de interrogação. Qual é a relação entre esse sinal de pontuação e essa fase da vida?

      Essa é a fase dos questionamentos, do desejo de mudar o mundo e a si mesmo.

06 – Na 4ª parte, o protagonista é um jovem adulto, que está terminando a faculdade. O narrador associa essa fase à vírgula.

a)   Observe o emprego da palavra vírgula no título dessa parte. Indique uma palavra ou expressão que tenha um sentido aproximado da palavra vírgula nesse contexto.

Isto é, nada, ou/ Equivalente a dizer: “receosas nada, cautelosas”.

b)   Qual a intenção do narrador ao empregar a palavra vírgula nesse contexto?

Corrigir o que foi dito antes.

c)   No título, o narrador faz um trocadilho, chamando as vírgulas de “pausa receosas” e depois corrigindo para “pausas cautelosas” do jovem adulto. Considerando a fase que se encontra esse jovem – de fim dos estudos e de iniciação profissional –, por que considera essa fase “cautelosa”?

Porque, nessa fase, o jovem se preocupa com o futuro, com sua imagem, e, por isso, fala com cautela.

07 – Na 5ª parte, a maturidade do protagonista é associado ao ponto final.

a)   Explique a ambiguidade, isto é, o duplo sentido da frase “No ponto”, do título dessa parte.

O título sugere que todas as fases anteriores conduziam ao amadurecimento em que o protagonista agora se encontra, isto é, ele está “no ponto”.

b)   Observe a forma como a protagonista expressa suas opiniões e como se posiciona diante do que acha certo ou errado. Que relação há entre ele dizer “E ponto final” e seu modo de ser na maturidade?

Ele agora tem opiniões firmes, acabadas e não admite contestação. Ao dizer “E ponto final”, ele expressa a ideia de: “Já disse e FIM!”.

c)   Os nomes de Alice e Jorge, já mencionados na 2ª parte da vida do protagonista, reaparecem na 5ª parte. Qual é o provável parentesco existente entre o protagonista e essas outras personagens?

Alice é sua esposa, e Jorge, seu cunhado.

08 – Como você sabe, uma das funções dos parênteses é indicar uma espécie de desvio do texto central ou o acréscimo de uma informação acessória. Na 6ª parte, esse sinal de pontuação é usado em uma conversa do protagonista com Luana.

a)   Levante hipóteses: Que tipo de relação você acha que existe entre eles?

Resposta pessoal do aluno: Sugestão: Luana pode ser a sua filha e, diante de um possível escândalo dela, ele se submete à sua vontade; outra possibilidade é Luana ser um caso extraconjugal do protagonista.

b)   O que o emprego dos parênteses sugere?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Considerando-se a 1ª hipótese, sugere que o pai esteja falando baixo, sem querer chamar a atenção; considerando-se a 2ª hipótese, dá a ideia de um fato escondido, que é preciso ocultar e que não participa da história principal.

09 – O narrador intitula a última parte de “O final... reticência...”. Como você sabe, as reticências podem ter diferentes papéis e sentidos. Veja alguns deles:

·        Indicar que o sentido vai além do que foi expresso;

·        Indicar suspensão do pensamento, reflexões;

·        Indicar dúvida, hesitação;

·        Permitir que o leitor, usando a imaginação, dê continuidade ao texto.

Na sua opinião, qual ou quais dos itens acima traduzem melhor a intenção do narrador ao associar essa fase da vida a esse sinal de pontuação?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Todos esses itens são possíveis.

 

 

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