sábado, 26 de fevereiro de 2022

CRÔNICA: HISTÓRIA DE UMA FLOR - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 Crônica: História de uma flor

             Carlos Drummond de Andrade

     Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.

       Trouxe-a para casa e a coloquei num copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e uma flor não é para ser bebida.

  Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor a sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.

        Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la.

        Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer.

        Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde nascera. O porteiro estava atento e repreendeu-me:

        – Que ideia a sua, de vir jogar lixo neste jardim!

Carlos Drummond de Andrade. In: Jornal do Brasil, 21 out. 1979.

              Fonte: Língua Portuguesa – Linguagem & Vivência – Siqueira & Bertolin – 7ª série – Ensino Fundamental – 1ª ed. 2004. p. 37-8.

Entendendo a crônica:

01 – “História de uma flor” é uma narrativa em que o autor também é personagem. Retire do texto e anote o que comprove essa afirmação.

      (EU) “Furtei uma flor (...)”. A narrativa é feita na 1ª pessoa do singular.

02 – O narrador trata a flor como se fosse uma pessoa. Reconheça no texto algumas passagens em que isso ocorre.

      “Logo senti que ela não estava feliz. Passei-a para um vaso e notei que ela me agradecia”.

03 – Em vez de ter usado o verbo furtar, o narrador poderia ter usado o verbo roubar? Por quê?

      Não, porque ele se apoderou da flor furtivamente, escondidamente. Roubar geralmente supõe violência. A pessoa roubada presencia o fato.

04 – Segundo o texto, o porteiro considerou lixo a flor morta. Qual a intenção do autor ao querer depositá-la no jardim?

      Sentiu-se culpado por tirar a vida da flor. Quis devolvê-la, pois ali era o seu lugar.

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