sexta-feira, 17 de outubro de 2025

CONTO: EPÍLOGO - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Epílogo – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        Quando Emília voltou para onde se achavam os meninos, viu-os em preparativos para o regresso. Estavam com uma fome danada.

        — E o Visconde? — indagou ela. — Apareceu?

        — Está aqui, sim — respondeu Pedrinho —, mas nega a pés juntos que haja furtado o Ditongo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5OVxcOUtOSXSSFGudIozgbN_-2bD6yIXIVTG7mBgxEzqRqh2TTUHtPIKg_RafJGZqK0l8soRC52pdKLGfxvLA_RuH993VmHUru0l16G1yYj36onfomZPzLDkBOc8W1OfCNYtzK9Hlpo_5ENli0ZBX3Dfz2x6ou-IqDz7wOThDSeCTBK7_yVFxRyOQ_G4/s320/eMILIA.jpg


        Emília aproximou-se do velho sábio, que tinha uma bochecha inchada de dor de dente.

        — Então, onde está o Ditongo, Senhor Visconde? — interpelou ela, de mãozinha na cintura e olhar firme.

        O pobre fidalgo pôs-se a tremer, todo gago.

        — Eu... eu...

        — Sim, o senhor mesmo! — disse Emília com vozinha de verruma. — O senhor raptou o Ditongo Ão e escondeu-o em qualquer lugar. Vamos. Confesse tudo.

        — Eu... eu... — continuava o fidalgo, que não sabia lutar com a boneca.

        Emília refletiu uns instantes. Depois agarrou-o e fê-lo abrir a boca à força. O Ditongo furtado caiu no chão...

        — Vejam! — exclamou Emília, vitoriosa. — Ele tinha escondido o pobre Ditongo na boca, feito bala. Que vergonha, Visconde! Um homem da sua importância, grande sábio, ledor de álgebra, a furtar Ditongo...

        — Eu explico tudo — declarou por fim o Visconde, muito vexado. — O caso é simples. Desde que caí no mar, naquela aventura no País da Fábula 8 fiquei sofrendo do coração e muito sujeito a sustos. Ora, este Ditongo me fazia mal. Sempre que gritavam perto de mim uma palavra terminada em Ão, como Cão, Ladrão, Pão e outras, eu tinha a impressão dum tiro de canhão ou dum latido de canzarrão. Por isso me veio a ideia de furtar o maldito Ditongo, de modo que desaparecessem da língua portuguesa todos esses latidos e estouros horrendos.  Foi isso só. Juro!

        Emília ficou radiante de haver adivinhado.

        — Eu não disse? — gritou para os meninos. — Eu não disse que devia ser isto?

        E para o desapontadíssimo fidalgo:

        — Pegue o Ditongo e vá botá-lo onde o achou. Você não é Academia de Letras para andar mexendo na língua...

        Meia hora mais tarde já estavam todos no sítio, contando ao Burro Falante o maravilhoso passeio pelas terras da Gramática.

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual era a condição física do Visconde de Sabugosa no momento em que Emília o reencontrou, e qual era a sua atitude em relação à acusação de furto?

      O Visconde estava com uma bochecha inchada de dor de dente e, apesar disso, negava a pés juntos que tivesse furtado o Ditongo.

02 – Como Emília conseguiu, de forma vitoriosa, provar que o Visconde havia de fato escondido o Ditongo "Ão"?

      Emília agarrou o Visconde e fê-lo abrir a boca à força. O Ditongo furtado caiu no chão, pois ele o tinha escondido "na boca, feito bala."

03 – Qual foi a explicação completa do Visconde para o "crime" de ter furtado o Ditongo?

      O Visconde explicou que, desde que caíra no mar na aventura no País da Fábula, ficou sofrendo do coração e sujeito a sustos. O Ditongo "Ão" o fazia mal porque as palavras que o continham (como Cão, Ladrão ou Pão) lhe davam a impressão de um "tiro de canhão ou dum latido de canzarrão."

04 – Qual era o objetivo final do Visconde ao tentar remover o Ditongo "Ão" da língua portuguesa?

      O único objetivo dele era fazer com que "desaparecessem da língua portuguesa todos esses latidos e estouros horrendos" que o assustavam.

05 – Qual foi a ordem final de Emília ao Visconde e qual o argumento que ela usou para criticar a sua intromissão na língua?

      Emília ordenou que ele pegasse o Ditongo e fosse botá-lo onde o achou. Ela o repreendeu dizendo: "Você não é Academia de Letras para andar mexendo na língua...".

 

 

 

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