Poema: CONFISSÃO
Carlos
Drummond de Andrade
Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.
Do que restou, como compor um homem
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?
Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido –
que se esfacelou na asa do avião.
Carlos Drummond de
Andrade. Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.
Fonte: Linguagem Nova.
Faraco & Moura. 5ª série – 17ª ed. 3ª impressão – São Paulo – Editora Ática
– 2003. p. 516.
Entendendo o poema:
01 – Qual é a principal
confissão do poeta no poema?
A principal
confissão do poeta é que ele não amou o suficiente seus semelhantes, nem a si
mesmo. Ele reconhece suas falhas em expressar amor e compaixão.
02 – Como o poeta descreve
suas ações em relação ao amor e à generosidade?
O poeta descreve
suas ações como superficiais e insuficientes. Ele menciona que "deu sem
dar" e "beijou sem beijo", indicando uma falta de verdadeira
entrega e sinceridade.
03 – Qual é o significado da
metáfora do "cego que esconde os olhos debaixo do catre"?
A metáfora sugere
que aqueles que evitam enfrentar a realidade ou esconder suas imperfeições são
cegos em sentido figurado, incapazes de ver e agir com clareza e honestidade.
04 – O que o poeta questiona
ao refletir sobre o que restou de suas experiências?
O poeta questiona como pode compor um
homem com as experiências que restaram e tudo o que isso implica de suave,
incluindo risos, entrega, amor e piedade. Ele reflete sobre a complexidade da
condição humana.
05 – Qual é o único ser que o
poeta admite ter amado no poema?
O único ser que o
poeta admite ter amado é um pássaro que "vinha azul e doido" e se
esfacelou na asa de um avião. Esse amor é apresentado de forma trágica e
efêmera.
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