terça-feira, 18 de março de 2025

CONTO: O CURURU - (FRAGMENTO) - JORGE DELIMA - COM GABARITO

 Conto: O Cururu – Fragmento

           Jorge de Lima

        Tudo quieto, o primeiro cururu surgiu na margem, molhado, reluzente na semiescuridão. Engoliu um mosquito; baixou a cabeçorra; tragou um cascudinho; mergulhou de novo, e bum-bum! Soou uma nota soturna do concerto interrompido. Em poucos instantes, o barreiro ficou sonoro, como um convento de frades. Vozes roucas, foi-não-foi, tãs-tãs, bum-buns, choros, esguelamentos finos de rãs, acompanhamentos profundos de sapos, respondiam-se.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLTMFpDgkNCR6fgA2iENHx5OvE8NauyfdWaH4ZREGjspR4HR4TfcyLkTH4xBkIaPYEw-TGPOeGfWXow4_PALfkSRYGV8myRdywiU0xy_yFmiFHnLfABXcbGSH-Tbu8OxE0gVK5BnD-H9t_kiS-vC-0G2JEPIdO09uScYmceO1BTcQx8EPY08anlt6lH2I/s320/Sapo-B-arenarum-Itapeva-1024x768.jpg


        Os bichos apareciam, mergulhavam, arrastavam-se nas margens, abriam grandes círculos na flor d’água. (…) Daí a pouco, da bruta escuridão, surgiram dois olhos luminosos, fosforescentes, como dois vagalumes. Um sapo cururu grelou-os e ficou deslumbrado, com os dois olhos esbugalhados, presos naquela boniteza luminosa. Os dois olhos fosforescentes aproximavam-se mais e mais, como dois pequenos holofotes na cabeça triangular da serpente. O sapo não se movia, fascinado. Sem dúvida queria fugir; previa o perigo, porque emudecera; mas já não podia andar, imobilizado; os olhos feiíssimos, agarrados aos olhos luminosos e bonitos como um pecado. Num bote a cabeça triangular abocanhou a boca imunda do batráquio. Ele não podia fugir àquele beijo. A boca fina do réptil arreganhou-se desmesuradamente; envolveu o sapo até os olhos. Ele se baixava dócil entregando-se à morte tentadora, apenas agitando as patas sem provocar nenhuma reação ao sacrifício. A barriga disforme e negra desapareceu na goela dilatada da cobra. E, num minuto, as perninhas do cururu lá se foram, ainda vivas, para as entranhas famélicas. O coro imenso continuava sem dar fé do que acontecia a um de seus cantores.

Jorge de Lima. Calunga; O anjo. 3. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1959. p. 160-161.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 93.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a atmosfera inicial do conto?

      O conto começa com uma atmosfera de quietude e semiescuridão, quebrada pelo surgimento do primeiro cururu na margem do barreiro. A descrição detalhada do ambiente e dos sons cria uma sensação de imersão na natureza.

02 – Como o autor descreve o som produzido pelos animais no barreiro?

      O autor utiliza uma linguagem rica em onomatopeias para descrever os sons dos animais: "bum-bum", "tãs-tãs", "choros", "esguelamentos finos de rãs", "acompanhamentos profundos de sapos". Esses sons criam um "concerto interrompido" e transformam o barreiro em um "convento de frades", sugerindo uma atmosfera ritualística.

03 – Qual é a reação do sapo cururu ao avistar os olhos luminosos na escuridão?

      O sapo cururu fica deslumbrado e fascinado pelos olhos luminosos, que o hipnotizam e o imobilizam. Ele é incapaz de fugir, mesmo pressentindo o perigo iminente.

04 – Como a serpente ataca o sapo cururu?

      A serpente se aproxima lentamente, como "dois pequenos holofotes", e abocanha o sapo cururu com um bote rápido. A boca da serpente se dilata para engolir o sapo por inteiro, em um ato de violência e voracidade.

05 – Qual é o significado da frase "Ele não podia fugir àquele beijo"?

      Essa frase utiliza uma metáfora para descrever a morte do sapo cururu. O "beijo" representa o ataque fatal da serpente, que é irresistível e inevitável.

06 – Como o autor descreve a morte do sapo cururu?

      A morte do sapo cururu é descrita de forma crua e brutal. Ele é engolido vivo pela serpente, com suas perninhas ainda se debatendo nas entranhas do predador.

07 – Qual é o contraste entre a morte do sapo cururu e o coro dos outros animais?

      Enquanto o sapo cururu é devorado pela serpente, o "coro imenso" dos outros animais continua cantando, alheio ao que aconteceu. Esse contraste destaca a indiferença da natureza diante da morte individual e a continuidade do ciclo da vida.

 

 

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