Poema: Alguns Toureiros
João Cabral de Melo Neto
Eu vi Manolo Gonzáles
e Pepe Luís, de Sevilha:
precisão doce de flor,
graciosa, porém precisa.

Vi também Julio Aparício,
de Madrid, como Parrita:
ciência fácil de flor,
espontânea, porém estrita.
Vi Miguel Báez, Litri,
dos confins da Andaluzia,
que cultiva uma outra flor:
angustiosa de explosiva.
E também Antonio Ordóñez,
que cultiva flor antiga:
perfume de renda velha,
de flor em livro dormida.
Mas eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
mais mineral e desperto,
o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra
o da figura de lenha
lenha seca de caatinga,
o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria,
o que à tragédia deu número,
à vertigem, geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,
sim, eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:
como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida,
e como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor,
sem poetizar seu poema.
João Cabral de Melo Neto. Antologia poética. 7. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1989. p. 156.
Fonte: Lições de texto.
Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática –
4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 126-127.
Entendendo o poema:
01
– Qual é a temática central do poema?
O poema explora a
arte da tourada, contrastando diferentes estilos de toureiros e destacando a
figura de Manolete como um exemplo de precisão e controle.
02
– Como o poeta descreve Manolete em comparação com os outros toureiros?
Manolete é
descrito como o mais "deserto", "agudo",
"mineral" e "desperto", com "nervos de madeira" e
"punhos secos de fibra". Ele é retratado como um toureiro que domina
a arte com precisão e controle, aproximando-se da morte com frieza calculada.
Os outros toureiros são descritos com a utilização de adjetivos como: doce,
graciosa, fácil, espontânea, angustiosa e antiga.
03
– Qual a metáfora principal utilizada no poema?
A metáfora
central é a da "flor", que representa a arte da tourada e a
habilidade de cada toureiro em lidar com o perigo e a emoção. Cada toureiro
cultiva sua flor de uma forma diferente.
04
– O que significa a expressão "roçava a morte em sua fímbria"?
Essa expressão
significa que Manolete se aproximava da morte de forma precisa e calculada,
como se estivesse tocando apenas a borda do perigo.
05
– Qual a relação entre a poesia e a tourada no poema?
O poema estabelece um
paralelo entre a arte da tourada e a arte da poesia, mostrando como ambas
exigem controle, precisão e a capacidade de dominar a emoção. Manolete é
apresentado como um exemplo para os poetas de como trabalhar a "flor"
(a poesia) com "mão certa, pouca e extrema".
06
– Como o poema descreve a arte de Manolete?
O poema descreve
a arte de Manolete como algo que "dá número à tragédia" e
"geometria à vertigem", sugerindo uma abordagem precisa e calculada
da tourada.
07
– O que o poema revela sobre a visão de João Cabral de Melo Neto sobre a arte?
O poema revela a
visão de João Cabral de Melo Neto sobre a arte como algo que exige controle,
precisão e a capacidade de dominar a emoção. Ele valoriza a objetividade e a
contenção, em contraste com a expressão excessiva de sentimentos.
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