terça-feira, 18 de março de 2025

POEMA: ALGUNS TOUREIROS - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

 Poema: Alguns Toureiros

             João Cabral de Melo Neto

Eu vi Manolo Gonzáles
e Pepe Luís, de Sevilha:
precisão doce de flor,
graciosa, porém precisa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7hfhPqUJycHaEit95DJHWlqlNBkJFlBWQCURmXxaKo1m0eWjiAc751kbjLL4JSglj6pDZA8X9oN8hb5XGfNrmxueAQ2mJShqQcnkxPbWoz7-_5cvGmI65u8GHh7z1AyCD4sRuQaHShwn2MyPZdf5XRI-VX-Usz_02rvXu-88xL5wiiRDlcRJLBS2c_40/s320/Aparicio+firma.Torrestrella.jpg



Vi também Julio Aparício,
de Madrid, como Parrita:
ciência fácil de flor,
espontânea, porém estrita.

Vi Miguel Báez, Litri,
dos confins da Andaluzia,
que cultiva uma outra flor:
angustiosa de explosiva.

E também Antonio Ordóñez,
que cultiva flor antiga:
perfume de renda velha,
de flor em livro dormida.

Mas eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
mais mineral e desperto,

o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra
o da figura de lenha
lenha seca de caatinga,

o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria,

o que à tragédia deu número,
à vertigem, geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,

sim, eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:

como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida,

e como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor,
sem poetizar seu poema.

João Cabral de Melo Neto. Antologia poética. 7. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989. p. 156.

Fonte: Lições de texto. Leitura e redação. José Luiz Fiorin / Francisco Platão Savioli. Editora Ática – 4ª edição – 3ª impressão – 2001 – São Paulo. p. 126-127.

Entendendo o poema:

01 – Qual é a temática central do poema?

      O poema explora a arte da tourada, contrastando diferentes estilos de toureiros e destacando a figura de Manolete como um exemplo de precisão e controle.

02 – Como o poeta descreve Manolete em comparação com os outros toureiros?

      Manolete é descrito como o mais "deserto", "agudo", "mineral" e "desperto", com "nervos de madeira" e "punhos secos de fibra". Ele é retratado como um toureiro que domina a arte com precisão e controle, aproximando-se da morte com frieza calculada. Os outros toureiros são descritos com a utilização de adjetivos como: doce, graciosa, fácil, espontânea, angustiosa e antiga.

03 – Qual a metáfora principal utilizada no poema?

      A metáfora central é a da "flor", que representa a arte da tourada e a habilidade de cada toureiro em lidar com o perigo e a emoção. Cada toureiro cultiva sua flor de uma forma diferente.

04 – O que significa a expressão "roçava a morte em sua fímbria"?

      Essa expressão significa que Manolete se aproximava da morte de forma precisa e calculada, como se estivesse tocando apenas a borda do perigo.

05 – Qual a relação entre a poesia e a tourada no poema?

      O poema estabelece um paralelo entre a arte da tourada e a arte da poesia, mostrando como ambas exigem controle, precisão e a capacidade de dominar a emoção. Manolete é apresentado como um exemplo para os poetas de como trabalhar a "flor" (a poesia) com "mão certa, pouca e extrema".

06 – Como o poema descreve a arte de Manolete?

      O poema descreve a arte de Manolete como algo que "dá número à tragédia" e "geometria à vertigem", sugerindo uma abordagem precisa e calculada da tourada.

07 – O que o poema revela sobre a visão de João Cabral de Melo Neto sobre a arte?

      O poema revela a visão de João Cabral de Melo Neto sobre a arte como algo que exige controle, precisão e a capacidade de dominar a emoção. Ele valoriza a objetividade e a contenção, em contraste com a expressão excessiva de sentimentos.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário