Texto: Atas do I Congresso Nacional da ABRALIN – Fragmento
José Luiz Fiorin
É um mito a pretensa possibilidade de
comunicação igualitária em todos os níveis. Isso é uma idealização. Todas as
línguas apresentam variantes: o inglês, o alemão, o francês etc. Também as
línguas antigas tinham variações. O português e outras línguas românicas provêm
do latim, o chamado latim vulgar, muito diferente do latim culto. Além disso,
as línguas mudam. O português moderno é muito distinto do português clássico.
Se fôssemos aceitar a ideia de estaticidade das línguas, deveríamos voltar a
falar latim. Ademais o português provém do latim vulgar, poder-se-ia falar que
ele está todo errado.
A variação é inerente à língua porque
as sociedades são divididas em grupos: há os mais jovens e os mais velhos, os
que habitam numa região ou noutra, os que têm esta ou aquela profissão, os que
são de uma classe social, e assim por diante. O uso de determinada variedade
linguística serve para marcar a inclusão num desses grupos, dá uma identidade
para seus membros. Aprendemos a distinguir a variação.
Quando alguém começa a falar, sabemos
se é do interior de São Paulo, gaúcho, carioca ou português. Sabemos que certas
expressões pertencem à fala dos mais jovens, que determinadas formas se usam em
situação informal, mas não em ocasiões formais. Saber uma língua é conhecer
variedades. Um bom falante é “poliglota” em sua própria língua. Saber português
não é aprender regras que só existem numa língua artificial usada pela escola.
As variantes não são feias ou bonitas,
erradas ou certas, deselegantes ou elegantes; são simplesmente diferentes. Como
as línguas são variáveis, elas mudam. “Nosso homem simples do campo” tem
dificuldade de comunicar-se nos diferentes níveis do português não por causa da
variação e da mudança linguística, mas porque foi barrado o acesso à escola ou
porque, neste país, se oferece um ensino de baixa qualidade às classes
trabalhadoras e porque não se lhes oferece a oportunidade de participar da vida
cultural das camadas dominantes da população.
FIORIN, José Luiz. In:
Atas do I Congresso nacional da ABRALIN. Excertos.
Fonte: Português – José
De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione.
p. 140-141.
Entendendo o texto:
01
– Qual a principal tese defendida por Fiorin sobre a língua?
A principal tese
é que a variação linguística é um fenômeno natural e inerente a todas as
línguas, sendo resultado de fatores sociais e históricos. A ideia de uma língua
pura e imutável é um mito.
02
– Por que Fiorin considera a ideia de uma língua estática como um mito?
Fiorin argumenta
que a ideia de uma língua estática é um mito porque as línguas são dinâmicas e
sofrem constantes mudanças ao longo do tempo. Além disso, as línguas são usadas
por diferentes grupos sociais, cada um com suas próprias características e
necessidades, o que gera a diversidade linguística.
03
– Qual a relação entre a variação linguística e a identidade social?
A variação
linguística está intimamente ligada à identidade social. A escolha de
determinadas variantes linguísticas serve para marcar a inclusão em um grupo
social específico, seja por idade, região, profissão ou classe social.
04
– Por que Fiorin critica a ideia de que existe uma única forma correta de
falar?
Fiorin critica a
ideia de que existe uma única forma correta de falar porque ela desconsidera a
diversidade linguística e a dinâmica das línguas. Ao estabelecer uma norma
única, exclui-se um grande número de falantes e marginalizam-se as variedades
linguísticas consideradas menos prestigiosas.
05
– Qual o papel da escola no ensino da língua?
Segundo Fiorin, a
escola tem um papel fundamental no ensino da língua, mas deve levar em
consideração a variação linguística e a diversidade dos falantes. O ensino de
língua deve promover o contato com diferentes variedades linguísticas e
valorizar a língua dos alunos, em vez de impor uma norma artificial.
06
– Quais os fatores sociais que contribuem para a dificuldade de comunicação de
pessoas de diferentes classes sociais?
A dificuldade de
comunicação entre pessoas de diferentes classes sociais não se deve à variação
linguística em si, mas a fatores sociais como a desigualdade de oportunidades,
o acesso limitado à educação e a falta de contato com diferentes variedades
linguísticas.
07
– Qual a importância de reconhecer e valorizar a diversidade linguística?
Reconhecer e
valorizar a diversidade linguística é fundamental para promover a inclusão
social e a valorização da cultura. Ao aceitar e respeitar as diferentes formas
de falar, contribuímos para a construção de uma sociedade mais justa e
democrática.
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