Poema: Juízo anatômico da Bahia
Juízo anatómico dos achaques que padece
o corpo da República, em todos os seus membros, e inteira definição do que em
todos os tempos é a Bahia.
Que falta nesta cidade?............... Verdade.
Que mais por sua desonra?......... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?....... Vergonha.
O Demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade, onde falta
Verdade, honra e vergonha.
Quem a pôs neste necrócio?.......... Negócio.
Quem causa tal perdição?.............. Ambição
E no meio desta loucura?............... Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio, e sandeu,
Que não sabe, o que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quais são seus doces objectos?.......... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?.......... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?....... Mulatos.
Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos?........... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?................ Guardas.
Quem as tem nos aposentos?............... Sargentos.
Os círios lá vêm aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
E que justiça a resguarda?.................... Bastarda.
É grátis distribuída?............................... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?............. Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa.
O que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
Gregório de Matos http://www.bib.virt.futuro.usp.br/
Fonte: Português – José
De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora
Scipione. p. 363-364.
Entendendo o poema:
01 – Qual a principal crítica
feita por Gregório de Matos à Bahia em seu poema?
Gregório de Matos
faz uma crítica ferrenha à sociedade baiana de sua época, denunciando a
corrupção, a falta de valores morais e a desigualdade social. O poeta utiliza
uma linguagem irônica e contundente para expor os vícios e mazelas daquela
sociedade.
02 – Quais os principais
vícios e mazelas da sociedade baiana denunciados no poema?
O poema denuncia
uma série de vícios e mazelas, como a falta de verdade, honra e vergonha, a
corrupção, a ambição, a usura, a exploração da mão de obra escrava, a injustiça
e a desigualdade social. Gregório de Matos pinta um quadro sombrio da sociedade
baiana, marcada pela decadência moral e pela busca desenfreada por poder e
riqueza.
03 – Qual a função das
repetições e enumerações no poema?
As repetições e
enumerações servem para reforçar a ideia de que os vícios e mazelas denunciados
são generalizados e arraigados na sociedade baiana. Ao enumerar os diversos
problemas, o poeta cria um efeito de acumulação que intensifica a crítica e
torna a denúncia mais contundente.
04 – Qual o papel da ironia na
construção do poema?
A ironia é um
recurso fundamental na construção do poema. Ao utilizar um tom irônico,
Gregório de Matos subverte as expectativas do leitor, revelando a hipocrisia e
a falsidade da sociedade que critica. A ironia torna a crítica mais incisiva e
eficaz, permitindo que o poeta expresse sua indignação sem ser explícito.
05 – Qual a relação entre o
título do poema e seu conteúdo?
O título
"Juízo anatômico da Bahia" já antecipa a intenção do poeta de fazer
uma análise profunda e crítica da sociedade baiana. A palavra
"anatômico" sugere uma dissecação dos males que acometem a cidade,
revelando seus órgãos doentes e suas funções corrompidas.
06 – Como o poeta retrata a
figura do povo baiano?
O poeta retrata o
povo baiano de forma ambivalente. Por um lado, ele denuncia a ignorância e a
passividade do povo, que se deixa explorar e corromper. Por outro lado, ele
expressa compaixão pelos sofrimentos causados pela injustiça e pela
desigualdade social.
07 – Qual a importância
histórica do poema "Juízo anatômico da Bahia"?
O poema
"Juízo anatômico da Bahia" é considerado um dos mais importantes da
poesia brasileira, pois representa uma denúncia contundente dos problemas
sociais e políticos da época. A obra de Gregório de Matos serve como um
testemunho histórico da realidade colonial brasileira e continua a ser
relevante para a compreensão da sociedade brasileira contemporânea.
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