quarta-feira, 13 de novembro de 2024

POEMA: O CORVO - (FRAGMENTO) - EDGARD ALLAN POE - COM GABARITO

 Poema: O CORVO – Fragmento

             Edgar Allan Poe

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipGcUt4JT05ur9UMKW1TEUQZ7VmdULJB4so5flWFWm087eArDd4IAUpinvchEzJkd47fAG0JRN1HrsBRXWiF0rbhv2bNotcymTI7R7Y_eWufkqhYftd3jTb8RSN__mN2Qp7X6DS9CwDWnQrMl20CTcxEIewRzh-tALKGLhu5W9FY-JgE1ZmhhGDhtpjsE/s320/Corvus-brachyrhynchos-001.jpg 


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Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu’ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P’ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais –
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

[...]

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
“Maldito”, a mim disse, “deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!”
Disse o Corvo, “nunca mais”.

[...]

“Profeta”, disse eu, “profeta – ou demônio ou ave preta! –
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida, se no Éden de outra vida,
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o Corvo, “Nunca mais”.

“Que esse grito nos aparte, ave ou diabo”, eu disse. “Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!”
Disse o Corvo, “Nunca mais”.

E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda,
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais.
E a minh’alma dessa sombra que no chão há de mais e mais,
Libertar-se-á… nunca mais!

POE, Edgar Allan. Três poemas e uma gênese com traduções de Fernando Pessoa. Lisboa: & etc. Você encontra o texto original, em inglês, e a tradução completa de Fernando Pessoa no endereço http://www.lsi.usp.br/art/pessoa/coligidas/trad/theraven.html No endereço http://thorns.com.br/HTM_Noticias/EdgarAllanPoeHistoria.htm você encontra a tradução de Fernando Pessoa e a de Machado de Assis.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 298-299.

Entendendo o poema:

01 – Qual a atmosfera predominante no início do poema? Como o poeta a constrói?

      A atmosfera predominante no início do poema é de melancolia, solidão e mistério. Poe a constrói através da descrição de uma noite escura e tempestuosa, da leitura de livros antigos e obscuros, e da evocação da figura da amada falecida. A escolha de palavras como "agreste", "triste", "ancestrais", "morrendo negro" e "umbrais" contribui para criar esse clima sombrio e introspectivo.

02 – Qual o papel do corvo na história? O que representa para o narrador?

      O corvo representa um símbolo da morte, da perda e da melancolia para o narrador. Sua aparição na escuridão da noite e sua insistente repetição da frase "nunca mais" intensificam a angústia do protagonista, que busca em vão um alívio para sua dor. O corvo pode ser interpretado como uma personificação da própria morte, que atormenta o narrador com a lembrança da amada perdida.

03 – Qual a importância da repetição da frase "nunca mais" no poema?

      A repetição da frase "nunca mais" tem um efeito hipnótico e obsessivo, reforçando a ideia de que o narrador está preso a um ciclo de dor e sofrimento do qual não consegue escapar. Essa repetição também enfatiza a irreversibilidade da morte e a impossibilidade de reencontrar a amada.

04 – Como a figura da amada falecida é representada no poema? Qual o seu papel na história?

      A amada falecida é representada como uma figura idealizada e inalcançável. Seu nome não é revelado, o que a torna ainda mais misteriosa e desejada. A presença da amada na memória do narrador intensifica sua solidão e sofrimento, e a impossibilidade de reencontrá-la o leva a uma profunda depressão.

05 – Quais as emoções predominantes no narrador? Como elas se manifestam no poema?

      As emoções predominantes no narrador são a tristeza, a angústia, a solidão e a desesperança. Essas emoções se manifestam através de suas reflexões sobre a morte da amada, da busca por um alívio para sua dor e da interação com o corvo. A linguagem poética, marcada por imagens sombrias e vívidas, contribui para transmitir a intensidade dessas emoções.

06 – Qual o papel da atmosfera gótica na construção do poema?

      A atmosfera gótica, caracterizada por elementos como o mistério, o terror, a morte e o sobrenatural, desempenha um papel fundamental na construção do poema. Ela cria um clima de suspense e angústia, intensificando as emoções do narrador e do leitor. A presença do corvo, da noite escura e da figura da amada falecida são elementos típicos do gótico que contribuem para a construção dessa atmosfera.

07 – Qual a mensagem principal do poema?

      A mensagem principal do poema pode ser interpretada como uma reflexão sobre a natureza da dor, da perda e da morte. Poe explora a intensidade do sofrimento humano diante da finitude e da impossibilidade de controlar o destino. A história do narrador serve como um alerta sobre os perigos da obsessão e da melancolia, e a importância de buscar um significado para a vida mesmo diante da dor.

 

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