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terça-feira, 1 de agosto de 2017

TEXTO: NARRAÇÃO E NARRATIVAS - SAMIRA N. MESQUITA - COM GABARITO


TEXTO:NARRAÇÃO E NARRATIVAS

        Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do homem. Pessoas de todas as condições socioculturais têm prazer de ouvir e de contar histórias. Um romancista e ensaísta inglês, E. M. Forster, chama essa atividade de atávica, isto é, transmitida desde a idade mais remota da humanidade, ligada aos rituais pré-históricos do Homem de Neanderthl, força de vida e de morte, conforme sua capacidade de manter acordados ou de adormecer os membros de um grupo, nas noites dos primeiros dias... O mesmo autor cita ainda a protagonista de As mil e uma noites, Xerazade, que se salvou da morte contando histórias que, a cada noite, eram interrompidas em momentos de calculado suspense, a fim de motivar a curiosidade do sultão. A tal ponto chegou a habilidade da narradora, que, depois de mil e uma noites, o poderoso rei não só não a mandou matar, como também apaixonou-se e com ela se casou. Lembra o autor que todos nós somos como o sultão. Interessamo-nos intensamente pelo desenrolar de uma história bem contada. (Estão aí as novelas de TV, impondo a milhares de pessoas em todo o país, e até no exterior, um tipo massificante de lazer, num horário igualmente imposto).
        Todas as atividades que o inventar/narrar, ouvir/ler histórias envolvem podem ser associadas também à natureza lúdica do homem. O jogo é uma atividade muito presente em todas as situações do homem em sociedade. Sob as mais diversas formas, o fenômeno lúdico mantém um dignificado essencial. É um recorte na vida cotidiana, tem função compensatória, substitui os objetos de conflito por objetos de prazer, obedece a regras, tem sentido simbólico, de representação. Com realização, supõe agenciamentos manipulações, mecanismo, movimentos, estratégias.
        Constituir um enredo é começar um jogo. O narrador é um jogador, e forma, com o leitor e o próprio texto, o que se pode chamar uma comunidade lúdica.
        No ritual de se pegar um livro para ler ou de se sentar à volta ou diante de um narrador, uma tela de cinema ou de TV, para ler/ouvir contar-se uma história, desenrolar-se um enredo, tal como no exercício do jogo, há a busca de prazer, há tensão, competição, há a máscara, a simulação, pode haver até a vertigem.
                                           MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo.
                                                            São Paulo, Ática, 1986. p. 7-8.

1 – Podemos dizer que a primeira afirmação do texto é de caráter histórico?
     SIM. Pois coloca a questão abordada numa perspectiva temporal.

2 – Generalização é a “extensão de um princípio ou de um conceito a todos os casos a que se pode aplicar”. Podemos dizer que no início do texto é apresentada uma generalização? Explique.
     SIM. Pois os dois primeiros períodos do texto estendem o prazer de contar e ouvir histórias ao homem de todas as épocas e de todas as condições socioculturais.

3– Explique o significado da palavra atávica a partir do próprio texto.
     Atávico é aquilo que permanece no homem desde as origens da espécie humana.

4– O texto se refere a E. M. Forster para comprovar suas primeiras colocações. De que forma os fatos indicados pelo escritor inglês se relacionam com os dois primeiros períodos do texto?
     O caráter atávico da atividade narrativa, apontado por Forster, liga-se à afirmação de caráter histórico que abre o texto; já a alusão a Xerazade e ao sultão relaciona-se diretamente com o segundo período do texto, que estende a atividade narrativa a todas as camadas sociais. O aluno deve observar como a citação das proposições de Forster está simetricamente relacionada com o início do texto.

5 – Xerazade é caracterizada, no texto, por duas palavras. Aponte-as e explique seus significados.
     Protagonista: personagem principal de uma narrativa.
     Narradora: aquela que, numa narrativa, conta a história. São palavras que serão muito utilizadas no capítulo.

6 – Qual é, na sua opinião, a função do trecho colocado entre parênteses no final do primeiro parágrafo?
     Há uma função óbvia, que é a exemplificação; ao lado dela, percebe-se, no entanto, uma evidente intenção crítica. Foi provavelmente essa a razão pela qual a autora optou pelo uso dos parênteses.

7 – Relacione as ideias de suspense, história bem contada e novelas de TV.
     As novelas de TV são histórias bem contadas quando consideradas do ponto de vista das interrupções e momentos de calculado suspense.

8 – Explique o significado da expressão natureza lúdica a partir do próprio texto.
     É a parte da natureza humana ligada ao jogo, à brincadeira, à diversão.

9 – Qual o significado essencial das atividades lúdicas?
     É a sua capacidade de substituir os objetos de conflito por objetos de prazer, ou seja, aquilo que, na vida cotidiana, causa conflitos, disputas, insegurança é substituído, durante o jogo, por motivos de alegria e fruição.

10 – Explique o último período do segundo parágrafo, relacionando-o com o período que o antecede.
     A realização dos jogos gera a necessidade de manipulações, de mecanismos, de estratégias de ação; essa necessidade já está anunciada no período anterior, quando se fala das regras e do valor simbólico e representativo das atividades lúdicas.

11 – Explique o que é uma comunidade lúdica.
     É um conjunto de seres humanos e de instrumentos empenhados num jogo. No caso do jogo narrativo, compreende o narrador, o leitor e o próprio texto.

12 – Releia atentamente o texto e elabore um esquema capaz de mostrar o encadeamento das ideias colocadas pela autora. Para facilitar seu trabalho, procure extrair de cada parágrafo a ideia ou as ideias principais. A seguir, comente a importância da palavra também no segundo parágrafo.
     1º parágrafo: “Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do homem. Pessoas de todas as condições socioeconômicas têm prazer de ouvir e de contar histórias”.
     2º parágrafo: “Todas as atividades que o inventar/narrar... podem ser associadas também à natureza lúdica do homem”.
     3º parágrafo: “Constituir um enredo é começar um jogo”.
     4º parágrafo: Nas atitudes narrativas, há todas as manifestações típicas das atividades lúdicas.
     É a palavra também que conecta os dois momentos principais do texto: Aquele em que predomina a visão histórica e social da narração, e aquele em que a narração é vista como atividade essencialmente lúdica.

13 – Você concorda com a afirmação final do texto? Como tem sido sua experiência de jogador nas comunidades lúdicas de que participa.

     O aluno deve procurar refletir sobre sua vivência como emissor e receptor de textos narrativos na prática cotidiana. Deve-se observar que os adolescentes têm por hábito contar suas experiências uns aos outros, às vezes em grupos que atravessam noites narrando.

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