quarta-feira, 2 de abril de 2025

POESIA: LI HOJE QUASE DUAS PÁGINAS - XXVIII - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poesia: Li hoje quase duas páginas – XXVIII

             Fernando Pessoa 

Li hoje quase duas páginas

Do livro dum poeta místico,

E ri como quem tem chorado muito.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjs-3aqZa2yr-CLlWZwai6-_cqMoviDg41K2VXLVt_PgcclRx3cfIRdcNc2Fd7baGOUxkt7JhXyy9s8-zMDdgnr_JeksPU_aIVgeRlAyKbnAbN92erKQKxS5O6Vzj8Qz51_7UyOyKaAlXp2RzSTZ-ngurY15JsKqSfV_d6m5YaJ-CV93IjdY1OGxFT8NsU/s320/maomc3a9-e-o-anjo-gabriel.jpg

Os poetas místicos são filósofos doentes,

E os filósofos são homens doidos.

 

Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem

E dizem que as pedras têm alma

E que os rios têm êxtases ao luar.

 

Mas as flores, se sentissem, não eram flores,

Eram gente;

E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não eram pedras;

E se os rios tivessem êxtases ao luar,

Os rios seriam homens doentes.

 

É preciso não saber o que são flores e pedras e rios

Para falar dos sentimentos deles.

Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,

É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.

Graças a Deus que as pedras são só pedras,

E que os rios não são senão rios,

E que as flores são apenas flores.

 

Por mim, escrevo a prosa dos meus versos

E fico contente,

Porque sei que compreendo a Natureza por fora;

E não a compreendo por dentro

Porque a Natureza não tem dentro;

Senão não era a Natureza.

PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1986. p. 153.

Fonte: Português. Série novo ensino médio. Volume único. João Domingues Maia – Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 422.

Entendendo a poesia:

01 – Qual a crítica central do poema em relação aos poetas místicos?

      A crítica central é que os poetas místicos antropomorfizam a natureza, atribuindo sentimentos e características humanas a elementos como flores, pedras e rios. Para Caeiro, essa visão é uma "doença filosófica" que distorce a realidade.

02 – Como o eu lírico define a sua relação com a natureza?

      O eu lírico afirma que compreende a natureza "por fora", ou seja, de forma objetiva e factual. Ele rejeita a ideia de uma natureza com "dentro", com sentimentos ou alma, defendendo uma visão concreta e imediata do mundo.

03 – Qual o significado da frase "Graças a Deus que as pedras são só pedras"?

      Essa frase expressa a satisfação do eu lírico com a realidade objetiva das coisas. Ele celebra a simplicidade e a concretude da natureza, livre de interpretações místicas ou sentimentais.

04 – Como a linguagem do poema contribui para a expressão da visão do eu lírico?

      A linguagem do poema é direta, clara e concisa, refletindo a objetividade e a racionalidade do eu lírico. Ele utiliza frases curtas e afirmativas, evitando metáforas complexas ou ambiguidades.

05 – Qual a importância deste poema dentro da obra de Fernando Pessoa?

      Este poema é fundamental para compreender a visão de mundo de Alberto Caeiro, um dos heterônimos mais importantes de Fernando Pessoa. Caeiro representa uma filosofia da objetividade e da simplicidade, em contraste com a complexidade e a introspecção de outros heterônimos como Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

 

 

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