Reportagem científica: O que dizem os cientistas sobre as mudanças climáticas? – Fragmento
Segundo relatório do IPCC, o
planeta está atingindo temperaturas críticas, que podem afetar desde paisagens
naturais a sistemas econômicos e humanos
Divulgado em agosto [de 2019], o relatório
especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla
em inglês) apontou uma situação alarmante: se o aumento de temperatura da Terra
passar de 2ºC enfrentaremos crises ambientais alarmantes nos próximos anos.
Oriundas de processos naturais, as mudanças climáticas passaram a ocorrer com
mais frequência devido à interferência humana, iniciada com o processo de
industrialização.
“Quando falamos de mudanças climáticas,
englobamos tanto aquelas de origem natural quanto as de origem antropogênica”,
explica Paola Bueno, meteorologista e mestranda do Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP). “[...]
[As mudanças] ocorriam de forma muito lenta, ao longo de centenas a milhares de
anos. No último século houve aumento abrupto da temperatura média, de forma
muito rápida e intensa. E a principal responsável foi a atividade humana, que
tem atuado até mais do que as variabilidades naturais”.
O aumento das temperaturas globais se
dá pela intensificação do efeito estufa, um fenômeno natural causado por
moléculas – como CO2, H2O e CH4 – que absorvem
radiação solar infravermelha, transferindo e aquecendo as camadas atmosféricas
mais baixas. De acordo com o físico e professor da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Renato Ramos, [...] “É possível observar essa tendência
de aquecimento ao longo do tempo pelo aumento das temperaturas meteorológicas,
pela diminuição da quantidade de gelo nos polos (derretimento), por dados
coletados pelas boias marinhas etc.”.
Por conta desse cenário, esforços
internacionais estão dando origem a tratados, como o Acordo de Paris, para
tentar conter as temperaturas globais. [...].
Os acordos, metas e tratados
internacionais são elaborados com base nos relatórios do IPCC, órgão da ONU
responsável por analisar e sintetizar as informações obtidas por diversos
estudos e modelos climáticos. As produções mais recentes são um documento de
2018 sobre as tendências de temperaturas do aquecimento global, e outro de 2019
acerca dos impactos no oceano e na criosfera.
O relatório especial de 2018, dedicado
ao aquecimento global, [...] estimou que as atividades humanas causaram cerca
de 1°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais. Além disso, é
provável que as temperaturas atinjam 1,5°C entre os anos 2030 e 2052, caso
continuem a aumentar no ritmo atual.
O estudo também listou que os riscos
atuais associados ao clima, tanto para os sistemas naturais como para a
humanidade, dependem da magnitude e do ritmo de aquecimento, da localização
geográfica, dos níveis de desenvolvimento e de vulnerabilidade, além da
implementação de opções de adaptação e mitigação. Para os cientistas
responsáveis pelo documento, atingir e sustentar níveis zero de emissões
globais de gases do efeito estufa (GEE) interromperiam o aquecimento global
antrópico, mas ainda assim a acumulação de emissões persistirá por séculos e
milênios, e continuará causando mudanças a longo prazo no sistema climático.
[...] Para o cientista [Paulo Nobre,
Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] o processo de dúvida
sobre as mudanças climáticas também é consequência de um discurso publicado sem
respaldo científico. “[...] Nos invernos muito mais rigorosos, particularmente
na Europa e nos Estados Unidos, alguns tabloides publicaram fotos daquele
montão de neve e perguntaram: cadê as mudanças climáticas? E o aquecimento
global? Mas [...] ficaram quietos quando viram aquelas ondas de calor que
mataram milhares de pessoas na França, depois na Rússia, ou os incêndios
florestais [...]”.
O especialista conclui [...]. “[...] A
sociedade tem o pensamento de que a Terra é muito grande, e não vai acabar, mas
esse modo de viver, multiplicado por 8 bilhões de pessoas, exaure a quantidade
de água potável, e materiais disponíveis. A chamada sociedade de consumo não é
uma sociedade durável”.
REVADAM, Rafael; LIMA, Júlia Ramos de; SILVA, Adriele Eunice da. O que
dizem os cientistas sobre as mudanças climáticas? ComCiência, 11 nov. 2019.
Disponível em: http://www.comciencia.br/0-que-dizem-os-cientistas-sobre-as-mudancas-climaticas. Acesso em: 30 ago. 2020.
Fonte: Linguagens em
Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas
Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 141-143.
Entendendo a reportagem:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Antrópico: relativo à ação do ser humano.
·
Antropogênico: ação ou fator causado pela ação do ser humano, diferente das
causas naturais, sobre o planeta.
·
CO2, H2O e CH4: as siglas são,
respectivamente, de moléculas de dióxido de carbono, vapor de água e metano.
·
Criosfera: camada da superfície
terrestre, formada pela água que se encontra permanentemente no estado sólido.
·
Mitigação: ação de aliviar.
·
Modelo
climático: técnica
metodológica que usa métodos quantitativos para simular as interações da atmosfera
e entender as dinâmicas do clima do presente e do passado ou projetar cenários
climáticos do futuro.
02
– O que o relatório do IPCC divulgado em agosto de 2019 alerta sobre as
mudanças climáticas?
O relatório
aponta que o planeta está atingindo temperaturas críticas, e se o aumento de
temperatura global ultrapassar 2ºC, enfrentaremos crises ambientais graves nos
próximos anos.
03 –
Como a atividade humana tem influenciado as mudanças climáticas?
Segundo a
meteorologista Paola Bueno, a atividade humana, principalmente após o processo
de industrialização, acelerou drasticamente o aumento da temperatura média
global, superando as variações naturais que ocorriam ao longo de centenas a
milhares de anos.
04
– O que é o efeito estufa e como ele está relacionado ao aumento das
temperaturas globais?
O efeito estufa é
um fenômeno natural em que moléculas como CO2, H2O e CH4 absorvem radiação
solar infravermelha, aquecendo as camadas mais baixas da atmosfera. A
intensificação desse efeito, devido às atividades humanas, é responsável pelo
aumento das temperaturas globais.
05
– Quais são alguns dos sinais observáveis do aquecimento global mencionados no
fragmento?
O aquecimento
global pode ser observado pelo aumento das temperaturas meteorológicas, pela
diminuição da quantidade de gelo nos polos, e por dados coletados por boias
marinhas, entre outros indicadores.
06
– Qual é a importância dos tratados internacionais, como o Acordo de Paris, no
contexto das mudanças climáticas?
Tratados
internacionais, como o Acordo de Paris, são essenciais para tentar conter as
temperaturas globais, e são baseados nos relatórios do IPCC, que sintetizam
informações de diversos estudos e modelos climáticos.
07
– Qual foi a estimativa do relatório de 2018 do IPCC sobre o aumento da
temperatura global?
O relatório de
2018 estimou que as atividades humanas já causaram cerca de 1°C de aquecimento
global acima dos níveis pré-industriais, e que as temperaturas podem atingir
1,5°C entre 2030 e 2052, se continuarem a aumentar no ritmo atual.
08
– Por que há resistência ou dúvida na sociedade sobre as mudanças climáticas,
segundo Paulo Nobre?
Paulo Nobre
aponta que a resistência ou dúvida sobre as mudanças climáticas se deve, em
parte, à divulgação de informações sem respaldo científico, como as reportagens
de tabloides que questionam o aquecimento global em invernos rigorosos, mas
ignoram as ondas de calor e outros eventos extremos que confirmam a mudança
climática.
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