terça-feira, 13 de agosto de 2024

HISTÓRIA: O GÊNIO DO CRIME - (FRAGMENTO) - JOÃO CARLOS MARINHO - COM GABARITO

 História: O GÊNIO DO CRIME – Fragmento – Capítulos 1 – 2 e 3.

Capítulo 1

        Era um mês de outubro em São Paulo, tempo de flores e dias nem muito quentes nem muito frios, e a criançada só falava no concurso das figurinhas de futebol.

        Deu mania, mania forte, dessas que ficam comichando o dia inteiro na cabeça da gente e não deixa pensar em mais nada. Quem enchia o álbum ganhava prêmios bons e jogava-se abafa pela cidade: [...].

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIk-61llOqUlUf66XkBTH8aa5eijLv5zPYQ2WC9tQlongckholeNVhSjcO-uaPlU1qZUydOHE3y9tId6Un6QlFNUQQdlmfle8ikuMC0IRtNdJYEv5fgZKBQN87szAmdQfYHUhNaFESodDYbQJrp3E1Ko09InQbgVvzeuvxZg0dq8bXDgiy5BU63M8M7OA/s320/GENIO.jpg


        Na Escola Primária Três Bandeiras o sino anunciou o recreio e o Edmundo saiu voando da classe para encontrar o Pituca no pátio. Os dois estudavam na admissão, mas o Edmundo estava no 5º ano A e o Pituca no 5º ano B, e não tinham podido conversar ainda naquela manhã. Edmundo estava aflito: faz dois meses que só faltava o Rivelino para encher o álbum e poder ir lá na fábrica receber o prêmio. Comprara toneladas de envelopinhos e o Rivelino não saía [...].

        Finalmente o Pituca veio com a novidade: disseram que no Largo de São Bento tinha um cambista que vendia as figurinhas abertas; o fulano encomendava a figurinha que queria e no dia seguinte o cambista trazia. Custava caro mas era garantido. [...] Encontrou o Pituca risonho embaixo do abacateiro do pátio.

        — Como é, encomendou o Rivelino?

        — Tive sorte, nem precisou encomendar para amanhã. Sobrou um de um cliente que não veio buscar e comprei. Está aqui.

        — Iupi! — Edmundo deu um pulo. Tirou o álbum da bolsa e queria colar imediatamente a figurinha. [...].

Capítulo 2

      Depois da aula Edmundo e Pituca foram direto para a fábrica sem nem pensar no almoço. Tomaram o ônibus e desceram numa praça onde perguntaram ao sorveteiro se sabia o lugar da fábrica. O sorveteiro não sabia, mas três meninos, que jogavam abafa na calçada, ali perto, sabiam, e se ofereceram para levar Edmundo e Pituca. No caminho foram conversando.

        — Você vai escolher que camisa?

        — Corinthians.

        — E depois que entregam o prêmio, eles ficam com o álbum?

        — Não. Tem um velhinho que carimba todas as figurinhas e devolve.

        — Bonito que é o álbum cheio. Vocês encheram de sociedade?

        — É só meu. O Pituca tem o dele, mas faltam quatro figurinhas.

        Quando dobraram a terceira esquina apareceu a placa vermelha e amarela: FÁBRICA DE FIGURINHAS ESCANTEIO.

        Era um prédio velho, de dois andares, com jardim na frente e um portão de ferro. O jardim estava um ajuntamento de crianças, para mais de cem, e pareciam desiludidos. Edmundo puxou conversa numa rodinha e ficou sabendo que a fábrica interrompera a entrega dos prêmios. [...].

        Pararam um pouco para pensar, discutiram, e resolveram ir no advogado. Aquela turminha de álbum na mão encheu dois ônibus e foram parar na Rua Barão de Itapetininga, subiram no décimo quinto andar dum arranha-céu, e o que coube entrou na sala do advogado, o resto ficando na sala de espera e pelo corredor. Contaram o caso e o advogado falou:

        — A Fábrica de Figurinhas Escanteio prometeu um prêmio a quem enchesse o álbum; vocês encheram e ela tem que cumprir a promessa. A lei obriga as pessoas a cumprirem o que prometem. Vou fazer uma petição ao juiz; deixem seus nomes e endereços com minha secretária.

        Daí a cinco dias todos receberam uma carta marcando hora para se reunirem no escritório.

        — É — disse o advogado. — O caso está resolvido. Logo que o dono da fábrica soube que ia ser denunciado, veio aqui e falou que os prêmios estão à disposição de vocês. Podem ir buscar. [...].

Capítulo 3

        — Edmundo, desça aqui embaixo que tem visita para você. Era a voz do pai. Edmundo fechou o caderno de português, trocou o chinelo pelo sapato e desceu.

        — Boas-noites, meu bom menino.

        Quem cumprimentou foi um senhor baixo gordo careca sentado no sofá e que fumava um charuto comprido. Edmundo não conhecia.

        — Sou o seu Tomé, dono da Fábrica de Figurinhas Escanteio. Descobri seu endereço pela relação do advogado.

        — Muito prazer. — Assisti aquela bagunça da janela do segundo andar; se não fosse você incendiavam minha fábrica.

        Seu Tomé contou o reboliço para seu Cláudio e dona Elvira e elogiou muito a coragem do Edmundo, [...].

        — Os senhores não imaginam o que está acontecendo comigo. Esta vida; vemos as desgraças acontecerem aos outros e não imaginamos que um dia. . . bom, vamos ao assunto: existe por aí uma fábrica clandestina falsificando minhas figurinhas difíceis. Fazem exatamente iguais às minhas e vendem para a criançada.

        Fez uma pausa olhando a subida da fumaça do charuto.

        — No meu, como em qualquer concurso, o número de prêmios deve ser limitado — não poderia entregar um jogo de camisas a cada colecionador. Por isso as figurinhas difíceis são produzidas em menor quantidade. Mas agora, com esse derrame de figurinhas falsas, o número de álbuns cheios ficou maior que a minha capacidade de comprar prêmios.

        — Compreendo por que havia tantos meninos com álbuns cheios — disse seu Cláudio.

        — Aí é que está. Tive que tomar dinheiro emprestado para comprar os prêmios que entreguei. A senhora vê, o senhor vê, passar esta vergonha na minha idade, ser chamado de caloteiro, o que que é.

        A empregada serviu um cafezinho na bandeja e, ao pegar o pires, viram que seu Tomé estava muito nervoso, com a mão tremendo; a xícara deu três pulinhos e quase derrama. Tomou o café e continuou.

        — Os falsários vendem as figurinhas abertas, não tem nem graça, cada um encomenda a que quer. Vendem caro, levam o dinheiro e quem paga o prêmio sou eu. E são perfeitas, é impossível diferenciá-las das de verdade. Vou é à falência, não aguento mais.

        — Vamos seu Tomé — disse seu Cláudio. — A polícia há de prender esses falsários.

        — Não adianta, já tentei. As figurinhas falsas são vendidas por cambistas, no centro da cidade. . .

        — O Pituca comprou no Largo de São Bento — interrompeu Edmundo. — Lá tem um cambista.

        Seu Tomé prosseguiu:

        — A polícia já prendeu três cambistas. No dia seguinte aparece outro vendendo figurinha em lugar diferente.

        — Os cambistas presos podem ser forçados a dar o endereço da fábrica clandestina.

        — Impossível. Nenhum deles nunca viu a fábrica clandestina e nem o seu dono.

        — E onde vão buscar as figurinhas que vendem?

        — Recebem-nas por sistemas diferentes, é uma coisa muito bem feita. O cambista não vê a pessoa que lhe entrega a figurinha e nem a que recebe o dinheiro. E, cada vez que um cambista é preso, mudam o sistema. Topei com um gênio do crime, um supercérebro. [...].

MARINHO, João Carlos. O gênio do crime. São Paulo: Global, 2019, p. 15-23.

Entendendo a história:

01 – Qual era o principal assunto entre as crianças no início do livro?

      As crianças estavam obcecadas com o concurso de figurinhas de futebol, onde quem completasse o álbum ganhava prêmios.

02 – Por que Edmundo estava tão ansioso no primeiro capítulo?

      Edmundo estava ansioso porque só faltava a figurinha do Rivelino para completar seu álbum e ganhar o prêmio.

03 – Como Edmundo conseguiu a figurinha que faltava para completar seu álbum?

      Pituca comprou a figurinha de um cambista no Largo de São Bento, que vendia figurinhas abertas.

04 – Por que Edmundo e Pituca foram até a fábrica de figurinhas?

      Eles foram até a fábrica para receber o prêmio por terem completado o álbum de figurinhas.

05 – O que Edmundo e Pituca encontraram ao chegar na fábrica de figurinhas?

      Encontraram um grupo de mais de cem crianças desiludidas porque a fábrica havia interrompido a entrega dos prêmios.

06 – Como o advogado ajudou as crianças que tinham completado o álbum?

      O advogado disse que a fábrica era obrigada a cumprir a promessa e fez uma petição ao juiz. Após isso, o dono da fábrica se comprometeu a entregar os prêmios.

07 – Quem visitou Edmundo em sua casa no capítulo 3?

      Seu Tomé, o dono da Fábrica de Figurinhas Escanteio, visitou Edmundo.

08 – Qual foi a preocupação de Seu Tomé ao visitar Edmundo?

      Seu Tomé estava preocupado porque uma fábrica clandestina estava falsificando suas figurinhas difíceis, o que estava arruinando sua fábrica.

09 – O que Seu Tomé explicou sobre as figurinhas difíceis no concurso?

      Ele explicou que as figurinhas difíceis eram produzidas em menor quantidade para limitar o número de prêmios, mas a fábrica clandestina estava fazendo cópias perfeitas dessas figurinhas, prejudicando o concurso.

10 – Por que a polícia não conseguia acabar com a fábrica clandestina?

      A polícia já havia prendido cambistas, mas a organização criminosa era muito sofisticada, mudava de método a cada vez, e os cambistas não conheciam o dono ou a localização da fábrica clandestina.

 

 

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