Poema: ODE TRIUNFAL – Fragmento
Fernando
Pessoa
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da
fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos
antigos.
[...]
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis, à hora do jantar
Eia aparelhos de todas as espécies, ferros, brutos,
mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triunfar, de cavar,
Engenhos, brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia sem fios, simpatia metálica do
Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio,
engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! Eia-hô eia!
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade!
[...]
PESSOA, Fernando. Ode
Triunfal. In: Pessoa, Fernando. Poemas de Álvaro de Campos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000011.pdf.
Acesso em: 6 jun. 2020.
Fonte: Linguagens em
Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas
Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 200.
Entendendo o poema:
01 – Qual é o principal tema abordado no poema "Ode
Triunfal – Fragmento"?
O poema aborda o
triunfo da modernidade e da industrialização, exaltando as máquinas, a
eletricidade, e o progresso tecnológico. O eu lírico celebra o poder
transformador da modernidade, ainda que essa transformação venha acompanhada de
uma sensação de febre, inquietação e alienação.
02
– Como o eu lírico se relaciona com a modernidade no poema?
O eu lírico se
mostra fascinado pela modernidade, descrevendo-a com entusiasmo e reverência.
Ele sente-se integrado à maquinaria moderna, ao ponto de se identificar com o
calor mecânico e a eletricidade. No entanto, há também um tom de febre e
frenesi, sugerindo um certo desconforto ou alienação diante do ritmo acelerado
da industrialização.
03
– Como o poeta contrasta o passado e o presente no poema?
O poeta contrasta
o passado e o presente ao exaltar a modernidade como algo totalmente
desconhecido pelos antigos. Através da repetição da palavra "eia",
ele celebra os avanços tecnológicos e a nova realidade, ao mesmo tempo em que
afirma que todo o passado está contido no presente e que o futuro já está sendo
gestado no agora.
04
– O que simboliza a eletricidade no poema?
A eletricidade simboliza a
energia vital e dinâmica da modernidade, sendo descrita como os "nervos
doentes da Matéria". Ela representa o poder transformador e onipresente da
tecnologia moderna, que permeia e altera todos os aspectos da vida cotidiana.
05
– Qual é o tom predominante no poema e como ele reflete a visão do eu lírico
sobre o progresso?
O tom
predominante é de exaltação e entusiasmo, com um ritmo quase frenético. Esse
tom reflete a visão ambígua do eu lírico sobre o progresso: por um lado, ele
celebra o avanço tecnológico e o poder da modernidade; por outro, esse entusiasmo
é tingido por uma sensação de febre e alienação, sugerindo que o progresso traz
consigo uma desumanização ou perda de identidade.
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