Crônica: Taboão dos Palmares
Sérgio Vaz
Taboão da Serra é uma cidade de mil
faces e não há como decifrá-las sem devorá-las. Impossível pensá-la sem suas
ladeiras, seus becos e suas vielas. Cada quebrada é um município no meu estado
de espírito. As calçadas são irregulares, por isso, nossa gente anda no meio da
rua, desafiando a arrogância dos carros, buzina pra você ver…
Uma das faces mais bonitas da cidade é
a nossa gente, e da nossa gente, umas das faces mais bonitas é a do João
Barraqueiro, da Kika e da sua família. Gente da pele preta que tem o suor como
marca registrada no rosto.
Não importa o evento, nem o local, é lá
que eles estão. É comum vê-los nas Praças, campos de futebol, shows, favela,
comícios, etc. desfilando a grandeza dos que não se entregam, e se recusam a
ser escravos do parasitismo.
A barraca é o Quilombo dos Palmares
dessa família, tamanha liberdade com que constroem o pão de cada dia. Da mesma
barraca lutam como quem faz uma prece ao céu, ou a terra, adorando um deus
chamado dignidade.
A coragem que exalam das mãos é de
assustar qualquer senhor de engenho ou capitão do mato. Trazem no olhar o
desprezo pela chibata, e no coração, o fogo brando que aquece o caldeirão da
liberdade. Valeu Zumbi!
Com todo o respeito às ancestralidades,
que a mãe África me perdoe, mesmo, mas mãe é aquela que cria, o João e a Kika
são filhos de Taboão da serra, e não por acaso são nossos irmãos. Axé!
Para aqueles que acreditam que o
caráter independe da cor, uma poesia:
“Que a pele escura não seja escudo para
os covardes que habitam na senzala do silêncio.
Porque nascer negro é consequência, ser
é consciência”.
VAZ, Sérgio. Taboão dos Palmares. In: VAZ, Sérgio. Literatura, pão e
poesia. São Paulo: Global, 2012. E-book.
Fonte: Linguagens em
Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas
Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 34.
Entendendo a crônica:
01
– Qual é o tema principal da crônica "Taboão dos Palmares"?
O tema principal
é a celebração da comunidade de Taboão da Serra, especialmente a resistência,
dignidade e força das pessoas negras que habitam o local, simbolizados na
figura de João Barraqueiro, Kika e sua família.
02
– Como Sérgio Vaz descreve a cidade de Taboão da Serra na crônica?
Sérgio Vaz
descreve Taboão da Serra como uma cidade de "mil faces", com
ladeiras, becos e vielas que moldam o estado de espírito dos moradores. Ele
ressalta a irregularidade das calçadas e a coragem das pessoas que andam no
meio da rua, desafiando os carros.
03
– Quem são João Barraqueiro e Kika na crônica, e o que eles representam?
João Barraqueiro
e Kika são descritos como pessoas de pele preta, trabalhadores que sustentam
sua família com dignidade. Eles representam a resistência, a força e a
liberdade, sendo comparados a figuras de um quilombo, como o de Palmares.
04
– O que a barraca de João Barraqueiro e Kika simboliza na crônica?
A barraca é
simbolizada como um "Quilombo dos Palmares", um espaço de liberdade e
resistência onde a família luta para garantir o sustento diário com dignidade e
coragem, enfrentando as dificuldades da vida.
05
– Qual é a visão do autor sobre a relação entre cor da pele e caráter?
O autor defende que o
caráter não depende da cor da pele. Ele sugere que ser negro vai além de uma
condição biológica; é uma questão de consciência e postura diante da vida.
06
– Que elementos da crônica mostram a valorização da ancestralidade africana?
A crônica faz
referência a figuras históricas de resistência, como Zumbi dos Palmares, e
reverencia a mãe África. Apesar disso, o autor também reconhece que João e Kika
são "filhos de Taboão da Serra", valorizando suas raízes e identidade
locais.
07
– Qual mensagem a poesia no final da crônica transmite?
A poesia no final
da crônica transmite uma mensagem de resistência e orgulho negro. Ela destaca
que a pele escura não deve ser usada como um escudo para a covardia, mas sim
ser carregada com consciência e orgulho.
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