quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ARTIGO DE OPINIÃO: A UTOPIA DA DESCONEXÃO - RONALDO LEMOS - COM GABARITO

 Artigo de opinião: A Utopia da Desconexão

        Talvez seja preciso ser um bilionário para se dar ao luxo de não ter um smartphone

        Esteve no Brasil na semana passada o escritor Yuval Noah Harari, conhecido mundialmente por seus livros “Sapiens” e “Homo Deus”. Tive a oportunidade de conversar com ele em três eventos distintos, incluindo um realizado no Congresso Nacional, com presença massiva de parlamentares. Em uma das conversas, ele confessou que “não tem smartphone”.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivCTOEpXkSzjQwkUBMdp1KhmSxxS3tFLqWPlW9CPiSw-C2_jw5D0ZaapFxYf6TFwCQ0LrXbePT-AEk4t5a_5h0MKUiNzfIXyqPwoVyMi2UkDGOq1h7xVlnUkue-XZ6OJKXodAXfrZhOssK3iU62WMvSTy9zM7qFPYFcQaaMwqX3eFGun_dRKXhNGImCwo/s320/smartphone-qualidade.jpg


        Essa revelação leva a pensar o que significa no mundo de hoje – para quem tem condições de pagar por conexão – não ter um smartphone.

        Uma resposta a essa indagação pode ser encontrada involuntariamente no documentário sobre a vida de Bill Gates [...]. O documentário é interessante. No entanto, o que mais me chamou a atenção é o fato de que Gates vive praticamente desconectado. Ele lê livros em papel (muitos!) e dá a impressão de que raramente chega perto de um computador ou de um smartphone.

        Isso ilustra o fato de que no mundo de hoje talvez seja preciso ser um bilionário do nível de Bill Gates para se dar ao luxo de não ter um smartphone.

        Como disse Harari quando perguntei sobre isso: “O maior símbolo de status no mundo de hoje é a desconexão. Se você tem um smartphone, significa que você tem um chefe. Pode ser seu marido, seus filhos ou colegas de trabalho. Podem ser também os próprios aplicativos. Por meio do aparelho você está condicionado a ser acionado por alguém a qualquer momento”.

        Harari diz que, apesar de não ter smartphone, seu marido tem. E isso o protege das infinitas demandas que vêm através do aparelho, segundo ele “abrindo tempo para que ele possa pensar e escrever”.

        Perguntei também o que ele recomendaria nesse contexto de overdose de informação. Sua resposta foi justamente a importância de buscar proteger espaços de desconexão. Criar “santuários” mentais. Momentos em que temos autonomia e tranquilidade para deixar a mente livre.

        Esse é, aliás, um dos principais pontos enfatizados por Harari. A humanidade nos últimos séculos teve um progresso imenso na área de saúde, com a invenção das vacinas e dos antibióticos e avanços em medicina e prevenção. Não por acaso, a expectativa de vida era de 49 anos nos Estados Unidos no início do século 20 e hoje é de 78 anos.

        O problema é que, se avançamos em saúde física, em saúde mental não se pode dizer o mesmo. Especialmente por causa da velocidade da mudança atual, casos de ansiedade ou depressão estão se tornando cada vez mais visíveis.

        Harari lida com isso meditando duas horas por dia, além de partir uma vez por ano para um retiro isolado de ao menos um mês. Soluções que usualmente não são acessíveis à maioria das pessoas.

        No mundo em desenvolvimento, a situação é ainda mais paradoxal. Há ao mesmo tempo o desafio de conectar os desconectados e de reparar os excessos da ultraconexão. Tarefa cada vez mais difícil em um mundo em que a sobrevivência depende cada vez mais de estar conectado o tempo todo.

        No Brasil conheço apenas uma pessoa que, tendo dinheiro, optou por não ter smartphone. E você, quantas pessoas conhece?

        Reader

        Já era: Esquecer que 40% dos brasileiros até 2018 nunca usaram um    computador.

        Já é:  Trabalhar para conectar 100% do país e especialmente as escolas públicas.

        Já vem:  Cultivar autonomia para se desconectar.   

Lemos, Ronaldo. A utopia da desconexão. Folha de S. Paulo, 11 nov. 2019.  

Fonte: Linguagens em Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 182-183.

Entendendo o artigo:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Paradoxal: algo contraditório.

·        Utopia: projeto de natureza ideal, irrealizável ou impossível.

02 – Qual é o principal argumento de Yuval Noah Harari sobre o uso de smartphones?

      Harari argumenta que o maior símbolo de status no mundo atual é a desconexão. Ele sugere que ter um smartphone significa estar constantemente à disposição de alguém, seja um chefe, um familiar, ou até mesmo dos próprios aplicativos, limitando a autonomia pessoal.

03 – Por que Harari não usa smartphone?

      Harari opta por não usar smartphone para se proteger das infinitas demandas que o aparelho traz, o que lhe permite ter tempo para pensar e escrever. Ele acredita que essa desconexão é crucial para manter a saúde mental.

04 – Como Harari lida com a overdose de informações e o excesso de conexão?

      Harari lida com a overdose de informações e o excesso de conexão meditando duas horas por dia e participando de retiros isolados de pelo menos um mês, uma vez por ano. Essas práticas o ajudam a criar “santuários” mentais para manter a tranquilidade e a autonomia.

05 – Qual é o paradoxo da conectividade no mundo em desenvolvimento mencionado no artigo?

      No mundo em desenvolvimento, existe o paradoxo de que, ao mesmo tempo que há o desafio de conectar os desconectados, há também a necessidade de reparar os excessos da ultraconexão, o que se torna cada vez mais difícil em um mundo onde a sobrevivência depende de estar sempre conectado.

06 – Como Bill Gates exemplifica a ideia de desconexão no artigo?

      Bill Gates é citado como um exemplo de alguém que vive praticamente desconectado. Ele lê livros em papel e raramente usa computadores ou smartphones, ilustrando que é preciso ser bilionário para se dar ao luxo de não ter um smartphone e manter essa desconexão.

07 – Quais são os avanços mencionados no artigo em relação à saúde física e mental?

      O artigo destaca que a humanidade fez enormes progressos em saúde física nos últimos séculos, como a invenção de vacinas e antibióticos, que aumentaram a expectativa de vida. No entanto, a saúde mental não acompanhou esses avanços, com casos crescentes de ansiedade e depressão devido à velocidade das mudanças tecnológicas e sociais.

08 – O que Harari recomenda para lidar com o excesso de conexão e a sobrecarga de informações?

      Harari recomenda a criação de “santuários” mentais, ou seja, momentos de desconexão que permitam à mente estar livre de interferências, proporcionando autonomia e tranquilidade essenciais para o bem-estar mental.

                

 

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