Análise: “A Nova Califórnia”, (PC) é uma breve e diferente forma de se contar história – Fragmento
O jogo brasileiro desenvolvido pela
Game e Arte é uma experiência curta, mas adapta com criatividade um conto
literário para os games.
Por Gilson Peres em
06/12/2017
[...]
Enredo
digno da literatura brasileira
Basicamente o enredo de “A Nova
Califórnia” já existe desde 1910. Originalmente este é um conto de Lima
Barreto, [...]. A história acompanha vários personagens habitantes da cidade
que dá o nome à trama quando a chegada de um novo morador cria um desconforto
geral com suas práticas estranhas e origem desconhecida. Dentro deste núcleo,
temos o Boticário da cidade, que ouve uma ideia mirabolante e questionável
deste novo morador de como fazer dinheiro fácil. A trama toda gira em torno de
mensagens como as de ganância, preconceito e ética.
No jogo, toda essa aura do conto de
Barreto foi devidamente respeitada e adaptada com maestria. Mecânicas de jogo
diferenciadas fazem com que os textos e diálogos tornem-se essenciais para o
avanço da aventura, o que torna a apreensão da história em seus mínimos
detalhes divertida e obrigatória na jogatina. Entretanto, transformar um conto
de duas páginas de 1910 em um jogo independente em 2017 tem seu preço: “A Nova
Califórnia” é extremamente curto. Isso não atrapalha em nada a diversão que o
título proporciona, mas os amantes das várias horas gastas em um único título
podem se frustrar com essa simplicidade.
Um dos pontos mais interessantes das
histórias apresentadas ao longo da jogatina é o extenso conteúdo depositado em
cada um dos simples e rápidos personagens. Com diálogos curtos e resoluções
simples, o game mostra posicionamentos e situações próprias para serem
debatidas em sala de aula ou em rodas de conversa, o que é uma experiência
muito bacana em um jogo, pois aqui a experiência de jogar é livremente
completada pelo jogador, que pode interpretar a história passada de vários
modos e com opiniões diferentes.
Visual
simples com ambientação divertida
Um aspecto curioso de “A Nova Califórnia”
é o fato dele ter sido feito totalmente no RPG Maker. Além disso possibilitar
que o jogo seja acessível para praticamente qualquer configuração de computador
atual e até vários mais antigos, o jogo agrada por uma ambientação com poucos
recursos, mas ótimos detalhes. Elementos como as casas, cidades e até túmulos
que aparecem durante o jogo são bastante fiéis àqueles que existiam na época em
que o enredo do jogo se passa. A técnica de pixel art combinada com
efeitos caricatos para os personagens torna tudo mais leve e engraçado, mesmo
que a temática da história seja um tanto macabra.
O interessante de não se apoiar tanto
no aspecto visual em alta definição para a ambientação foi a abertura para
outras formas de adaptar a história, como através das músicas e dos textos do
jogo. As falas fora da norma culta do português quando os escravos interagem
com os personagens, a cantiga do “marcha soldado” que é cantarolada pelos
policiais quando eles estão marchando pela cidade e outros detalhes deste nível
fazem com que o conteúdo artístico do game se torne ainda mais interessante.
[...]
Mecânicas
de jogo diferenciadas
“A Nova Califórnia” é um game
basicamente de aventura, mas é bem difícil enquadrá-lo nas fórmulas
tradicionais do gênero. Ao contrário da maioria, este é um game com alguns
aspectos de stealth mesclados à aventura, além do já citado foco em
diálogos como parte da resolução de puzzles dentro das fases do jogo.
Existem fases que basicamente o jogador precisa conversar com as pessoas na
cidade e isso acaba se tornando bastante interessante, pois é a partir daí que
a história é de fato contada e você consegue conhecer melhor os personagens.
Além disso, existem fases nas quais o
protagonista precisa roubar e arrombar túmulos, fugindo dos moradores,
policiais e outros elementos. Estes são os ápices de ação do jogo e o torna
ainda mais divertido. Entretanto, existe um problema aqui: como ele possui um
único nível de dificuldade, os ávidos por desafios podem se frustrar bastante,
pois o game é demasiadamente fácil de se superar. Claro que o foco é o “contar
uma história’, mas um nível de desafio maior nas missões de arrombar túmulos
seria bem-vinda para a jogatina.
[...]
Prós
·
História bem
adaptada;
·
Cenários bem feitos,
mesmo que com pouca iluminação;
·
Trilha sonora boa;
·
Missões criativas e
adaptadas ao conto original;
·
Mecânicas de jogo diferenciadas;
·
Visual caricato
agrada;
·
Indicado para
aplicação em escolas;
·
Controles simples o
tornam bastante acessível.
Contras
·
Nível de dificuldade
baixo demais;
·
Navegação pelo mapa
confusa em alguns momentos;
·
Menu simplista pode
desagradar alguns.
“A Nova Califórnia” — PC — Nota: 8.0
PERES, Gilson. Análise: “A Nova Califórnia” (PC) é
uma breve e diferente forma de se contar história. Disponível em: https://www.gameblast.com.br/2017/12/analise-nova-california.html. Acesso em: 23 abr. 2020.
Fonte: Linguagens em
Interação – Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Juliana Vegas
Chinaglia – 1ª edição, São Paulo, 2020 – IBEP – p. 53-55.
Entendendo a análise:
01 – Qual é a origem do enredo
do jogo "A Nova Califórnia"?
O enredo de
"A Nova Califórnia" é baseado em um conto homônimo de Lima Barreto,
escrito em 1910. O jogo adapta essa história para o formato de jogo digital,
mantendo temas como ganância, preconceito e ética.
02 – Como o jogo "A Nova
Califórnia" se destaca em termos de mecânicas de jogo?
O jogo se destaca
por suas mecânicas diferenciadas, mesclando elementos de stealth com aventura e
focando em diálogos como parte essencial da resolução de puzzles. Essas
mecânicas tornam o jogo único dentro de seu gênero.
03 – Quais são as principais
críticas negativas mencionadas na análise sobre o jogo?
As principais
críticas são relacionadas ao baixo nível de dificuldade, que pode frustrar
jogadores que buscam desafios, e à navegação confusa pelo mapa. Além disso, o
menu simplista pode desagradar alguns jogadores.
04 – Por que "A Nova
Califórnia" é considerado um jogo curto, e como isso impacta a
experiência?
"A Nova
Califórnia" é considerado curto porque adapta um conto literário de apenas
duas páginas, resultando em uma experiência de jogo breve. Apesar disso, a análise
aponta que essa curta duração não compromete a diversão, mas pode frustrar
jogadores que preferem títulos mais longos.
05 – Como o jogo "A Nova
Califórnia" aborda a ambientação e o visual?
O jogo utiliza
pixel art e foi desenvolvido no RPG Maker, resultando em um visual simples, mas
detalhado, que recria de forma fiel os cenários da época em que a história se
passa. A combinação de efeitos caricatos com uma temática macabra cria uma
atmosfera leve e divertida.
06 – De que forma o jogo
"A Nova Califórnia" pode ser utilizado em ambientes educacionais?
O jogo é indicado
para aplicação em escolas devido ao seu conteúdo rico e à forma como ele
promove discussões sobre os temas abordados. A interação com os personagens e a
interpretação livre da história tornam-no uma ferramenta educativa valiosa.
07 – Quais aspectos artísticos
do jogo "A Nova Califórnia" são destacados na análise?
A análise destaca
a trilha sonora, os diálogos autênticos e a ambientação como aspectos
artísticos notáveis. Detalhes como as falas fora da norma culta do português e
a cantiga “marcha soldado” cantada pelos policiais enriquecem a experiência
artística do jogo.
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