domingo, 21 de junho de 2020

POEMA: GESSO - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

Poema: GESSO

              Manuel Bandeira

Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova
— O gesso muito branco, as linhas muito puras —
Mal sugeria imagem de vida
(embora a figura chorasse).
Há muitos anos tenho-a comigo.
O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de pátina
[ amarelo-suja.
Os meus olhos de tanto a olharem,
Impregnaram-na da minha humanidade irônica de tísico.
Um dia mão estúpida
Inadvertidamente a derrubou e partiu.
Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos,
[ recompus a figurinha que chorava.
E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo
[ mordente de pátina…

Hoje esse gessozinho comercial
É tocante e vive, e me fez agora refletir
Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.

Manuel Bandeira.

Entendendo o poema:

01 – A ação do tempo sobre a estátua de gesso é vista pelo poeta como:

a)   O que acabou por torna-la mais vivaz e expressiva, pelo menos até que um acidente a fizesse perder essa vivacidade.

b)   Responsável por danos que levaram uma obra de arte a perder sua pureza e vivacidade originais.

c)   Um elemento que, juntamente com os danos causados por um acidente, dá vida e singularidade ao que era inexpressivo e vulgar.

d)   O causador irremediável do envelhecimento das coisas e da consequente desvalorização dos objetos pessoais mais valiosos.

e)   Capaz de transformar um simples objeto comercial em uma obra de arte que parece ter sido criada por um escultor genial.

02 – “Mal sugeria imagem de vida

        (Embora a figura chorasse)”

        É CORRETO afirmar que a frase entre parênteses tem sentido:

a)   Adversativo.

b)   Concessivo.

c)   Conclusivo.

d)   Condicional.

e)   Temporal.

03 – “Um dia mão estúpida
         Inadvertidamente a derrubou e partiu.
         Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos,
         [ recompus a figurinha que chorava.
         E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo
         [ mordente de pátina…”

         Sobre os versos acima transcritos é INCORRETO afirmar:

a)   Mão estúpida pode ser alusão do poeta a si próprio e carregaria assim algum matiz da raiva que o teria acometido quando derrubou a estátua.

b)   Inadvertidamente tem o sentido de “De modo descuidado”, indicado o caráter acidental do episódio.

c)   Em recompus a figurinha que chorava, o poeta se vale de uma ambiguidade para sugerir o sofrimento da estátua com a queda.

d)   Com a alusão às feridas causadas à estátua, o poeta se refere aos sinais visíveis da junção dos pedaços dela depois de reconstituída.

e)   Com a expressão o sujo mordente da pátina, o poeta alude a transformação da estátua de sofredora em causadora de sofrimento.

 

 


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