quarta-feira, 17 de junho de 2020

CONTO: O POMBO ENIGMÁTICO - PAULO MENDES CAMPOS -COM GABARITO

Conto: O POMBO ENIGMÁTICO

                                            Paulo Mendes Campos

        Na inelutável necessidade do amor (era quase primavera) pombo e pomba marcaram um encontro galante quando voavam e revoavam no azul do Rio de Janeiro. Era bem de manhãzinha.

        -- Às quatro em ponto me casarei contigo no mais alto beiral – disse o pombo.

        -- Candelária? – perguntou a noiva.

        -- Do lado norte – respondeu ele.

        Pois, às quatro azul em ponto, a pomba pontualíssima pousava pensativamente no beiral. O pombo? O pombo não.

        A pombinha, que era branca sem exagero, arrulhava, humilhada e ofendida com o atraso, contemplando acima do campanário todas as possibilidades da rosa-dos-ventos. Mas na paisagem do céu voavam só velozes andorinhas garotas porque as andorinhas mais velhas enfileiravam-se nas cornijas, pensando na morte, como gente fina, lá dentro nos dias solenes de missa de réquiem.

        Quatro e dez. Quatro e um quarto. Uma pomba sozinha, à mercê quem sabe de um gavião, lendário mas possível. Sol e sombra. Como custa a passar um quarto de hora para uma noiva que espera o noivo no mais alto beiral. Como a brisa é triste. Como se humilha em revolta a noiva branca.

        Ah, arrulhou de repente a pomba, quando distinguiu, indignada, o pombo que chegava, o pombo que chegava caminhando pelo beiral mais alto, do outro lado, lá onde, um pouco além, gritavam esganadas as gaivotas do mar pardo do mercado. Irônica, perguntou a pomba:

        -- Perdeste a noção do tempo?

        -- Perdão, por Deus, perdão – respondeu o pombo: – Tardo mas ardo. Olha que tarde...

        -- Que tarde? – perguntou a pomba.

        -- Que tarde! Que azul! Que tarde azul!

        -- Mas e eu?! – disse a pomba. – Sozinha aqui em cima!

        -- A tarde era tão bonita – disse o pombo gravemente – a tarde era tão bonita, que era um crime voar, vir voando...

        -- Mas e eu?! Eu?! – queixava-se a pomba.

        -- A tarde era tão bonita – explicou o pombo com doce paciência – que eu vim andando, que eu tinha de vir andando, meu amor.

                                       Paulo Mendes Campos.

Entendendo o conto:

01 – A pomba transfere para o ambiente toda a sua angustia. Copie a frase que revela isso.

      “[...] Como a brisa é triste. Como se humilha em revolta a noiva branca”.

02 – Assinale a palavra que encerra a ideia que melhor se relaciona com a “primavera” em relação ao texto:

a)   Inelutável.

b)   Azul.

c)   Amor.

d)   Necessidade.

03 – O que pode significar a expressão “as quatro azul em ponto”?

      As quatro horas da tarde pontualmente.

04 – Além do efeito da rima, pode se encontrar explicação para a presença de “ardo” no trecho: “Tardo mas ardo. Olha que tarde! ...” seria:

a)   Exprime a força do amor.

b)   Traduz o calor da tarde.

c)   É sinônimo de casar.

d)   É apenas um jogo de palavras com tarde.

05 – “Quatro e dez. Quatro e um quarto” (Frequentemente você é chamado a responder ao célebre “Que horas são”? Assinale, dentre as opções abaixo, a que contém erro:

a)   São quatro e um quarto.

b)   Já deve ser uma e quarenta.

c)   Já é meio-dia e meio.

d)   Faltam quinze para o meio-dia.

06 – “Como custa a passar um quarto de hora para uma noiva que espera o noivo no mais alto beiral. Qual o significado da expressão destacada?

      Significa quinze minutos.

07 – O prefixo “re”, em revoavam traduz uma ideia de repetição. Assinale a única palavra abaixo em que o “re” NÃO denota a mesma ideia:

a)   Regredir.

b)   Rever.

c)   Reler.

d)   Reencontrar.

08 – Em “Perdeste a noção do tempo?” Ocorre um (a):

a)   Trocadilho, juntando as noções de tempo e lugar.

b)   Erro tipográfico, deveria ser “Perdeste a noção do tempo?”

c)   Expressão antiga para dar sabor de ironia à pergunta.

d)   Um engano da pombinha, que trocou a palavra “tempo” por “templo”.

09 – Qual poderia ser a intenção do autor ao dizer que a pombinha contemplava “todas as possibilidades da rosas-dos-ventos”?

      A intenção era dizer que ela olhava para todos os sentidos a procura do pombo.

10 – Na sua opinião, o fato da pombinha não se empolgar com a tarde azul, assim como se empolgou o namorado, significa que ela é menos romântica que ele? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

11 – Qual é o tema principal do texto?

      Fala da convivência de um casal e que um atraso causou desentendimento entre eles.

 

 


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