Texto: Estão deletando o português
“Lenta
e gradualmente o idioma nacional vai sendo devorado pela aversão à leitura”
Um casal de nerds foi ao shopping,
ficou em dúvida sobre o snack bar ou o fast food, e decidiu dar um look em um
novo point para o happy hour. A frase anterior quer dizer que dois
maluquinhos por computador foram a um centro comercial, não sabiam se tomavam
uma cervejinha nos botecos disponíveis ou uma comidinha rápida, e resolveram
cair fora rumo a um novo local para curtir o final de tarde. Pobre português.
Janeiro é o mês. Junto como verão surge
o vestibular e com ele a imprensa mostrando atrocidades cometidas nas redações,
resultantes das dezenas de cursinhos que vendem o sonho da universidade. É a
hora e a vez de exceção com dois “esses”. História com o “i” substituindo o
“h”, idiota com “n” antes do “d”. Preciosidades como “Fernando
Enrike Cardozzo é o presidente do Brasil” ou “meu çonho é ser enjeiero”. A
maioria da ilustrada “galera” que vem vindo aí atrás, a chamada juventude ou
nova geração, trafega ao largo das mais elementares regras do bom português.
Até porque não tem o saudável hábito da leitura. Paulo Francis morreu, mas
deixou uma verdade: “Quem não lê, não pensa, vira servo”.
Lenta e gradualmente o bravo idioma
nacional vai sendo devorado pela aversão à leitura das queridas novas gerações,
cujo vocabulário vai se resumindo a chavões da moda que, sem perceber, mutilam
cérebros repletos de neurônios sequiosos de serem ativados. São especialistas
em “Wing Commander”, “Rise of the Triad” ou adoram o “Gold Monkey”, este
joguinho onde se dá o caminho das bananas aos macacos.
Não se pense que este escriba tem
saudades da Olivetti, aquela velha e querida senhora, companheira inseparável
de um jornalista com mais de 30. Não, mas esta era da informática repleta de
expressões está catapultando o vernáculo.
A secretária não copia a carta.
Ela printa um letter. O garotão diante do Windows95 não
salva o arquivo, dá um save. Não se tem mais endereço, mas um e-mail.
Qualquer hora dessas, a “gata” vai perguntar ao seu “gato”: “Qual o disco que
você quer do meu drive, o A ou o B?” E ele responderá que seu
disquete não está formatado para invadir o drive.
Num panorama desses, defender o idioma
pátrio está virando coisa de “animal”, de subdesenvolvido, à medida que a
propaganda nas emissoras de rádio propõe um test-drive a compradores
de automóveis do que simplesmente “dar uma voltinha no bólido pretendido”. José
Wilker, no “Jornal do Brasil”, indagou porque MTV vira emi-ti-ví em vez de MTV,
como se lê. Noutro dia, o Sandro Dalpíccolo fez uma belíssima matéria na Globo
sobre as diferentes palavras utilizadas no sul, sudeste e nordeste do país e
que traduzem a mesma coisa. A raia que é pipa ou papagaio, o piá curitibano que
é guri, o menino, garoto em outros cantos, o semáforo que vira sinaleira ou
sinal, o meio fio que é guia, e a singela tradução de um simpático senhor
explicando aos telespectadores o que é vinawurst (salsicha de Viena no curitibês).
Nem vinte por cento das palavras
existentes no dicionário do Aurélio são de uso habitual. Portanto, botemos a
calipígia de molho. Do contrário, além de engolir as telecomunicações, a
energia, a mídia e, de quebra, a Vale do Rio Doce, o Big Brother vai acabar
deletando a língua pátria.
Paraná & Cia, ano
III, n.28, 26 mar. 1997.
Fonte: Livro – Encontro
e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna,
2005 – p. 21, 22, 24.
Entendendo o texto:
01 – Em seu texto, Hélio
Teixeira afirma que estão deletando o português. Você sabe o que ele quis dizer
e por que escolheu “deletando” para se expressar?
Deletar: apagar,
eliminar. Estão “acabando” com a Língua Portuguesa. Usou “deletando” justamente
para exemplificar seu ponto de vista.
02 – É comum usarmos
expressões em inglês, mesmo que existam palavras na nossa língua para dizer o
que pretendemos. Isto é modismo, “gíria” importada ou o quê? Pense e comente.
Resposta pessoal
do aluno.
03 – Comente a frase: “A
maioria da ilustrada ‘galera’ que vem vindo aí atrás, a chamada juventude ou
nova geração, trafega ao largo das mais elementares regras do bom português”.
Resposta pessoal
do aluno.
04 – Comente a frase de Paulo
Francis: “Quem não lê, não pensa, vira servo”.
Resposta pessoal do aluno.
05 – “Do contrário, além de
engolir as telecomunicações, a energia, a mídia e, de quebra, a Vale do Rio
Doce, o Big Brother vai acabar deletando a língua pátria”. Big Brother, ou
Grande Irmão, é personagem de 1984, uma obra de George Orwell. Nessa história,
o Grande Irmão é um terrível ditador que governa o mundo após catástrofes
políticas e sociais. Ele vigia constantemente pensamentos e ações e mantém o
mundo sob um regime de terror e de miséria. No texto, Big Brother é uma
referência às potências internacionais que, gradativamente, vão aumentando o
seu poder econômico e cultural sobre países subdesenvolvidos como o Brasil.
Considerando essas informações, responda: Por que o Big Brother vai acabar
deletando a língua pátria?
Porque, à medida
que a influência econômica das potências internacionais vai aumentando, a
cultura brasileira vai também sofrendo essa influência.
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