segunda-feira, 23 de março de 2020

REPORTAGEM: FILHOS INVERTEM PAPÉIS E PATRULHAM PAIS - CLÁUDIA FONTOURA - COM GABARITO

Reportagem: Filhos invertem papéis e patrulham pais
          

 Fumar, usar roupa brega ou namorar estão na lista dos vetos impostos pela garotada
                                                         Cláudia Fontoura

        Basta o empresário Ivan Frug, de 40 anos, pegar o maço de cigarros para que seus filhos Pedro, de 15 anos, Gabriel, de 13, e Manuela, de 5, comecem uma encenação. Se estavam rindo, passam a fazer caretas e fingem que se sentem mal e com tosse. “Antes de acender o cigarro, preciso me esconder na varanda para evitar reclamações”, conta ele. “É o único lugar onde ele pode fumar”, avisa Gabriel.
        A patrulha dos Frug se repete em outras famílias. Há filhos que policiam as saídas noturnas, os namorados e o modo de se vestir dos pais. Nem mesmo a quantidade de café que consomem por dia escapa. Preocupação com a saúde, ciúme e a necessidade de controlar os gostos dos pais são os motivos da vigilância, que não é relaxada nem no Dia da Criança. Pelo contrário. É uma época de reforçar as cobranças.
        Os irmãos Frug detestam cigarro. Incansáveis nas tentativas de convencer o pai a deixar o vício, os meninos decidiram delimitar a área de fumantes da casa. “No nosso quarto ele não entra com cigarro e só fuma nos outros lugares se não estivermos perto”, diz Gabriel.
        Com a professora Valéria Moura da Costa, o controle é outro. Seu filho Felipe, de 11 anos, fica uma fera por causa da quantidade de café que ela toma. Valéria teve de reduzir o consumo. “Eu tomava seis cafezinhos por dia e diminui para dois”.
        Felipe tem um motivo que considera concreto para vigiar a mãe. “O café estraga o estômago e ela passa mal”, diz. Para evitar que Valéria tenha dores de estômago, Felipe já fez de tudo. “Até joguei o café na pia”, conta. “Ela ficou muito brava”.
        Brega – A roupa que a mãe ou o pai vão vestir também é um forte motivo para que alguns filhos sintam-se no direito de criticar. Saia curta demais, peças bregas, enfeitadas ou decotadas são os argumentos mais usados para fazer a mãe voltar ao guarda-roupas em busca de outra produção.
        Quase todos os dias, antes de sair para o trabalho, a professora Vera Busch Rigo Neves Bezerra enfrenta as críticas da filha Carolina, de 16 anos. “Mãe, você não tem uma roupinha mais básica?”, pergunta Vera, imitando a filha. “Para ela, tenho de usar jeans, camiseta e tênis”.
        Vera não é uma pessoa extravagante, mas Carolina detesta os acessórios que a mãe insiste em usar. “Ela usa brincos maiores do que ela mesma”, implica Carolina. “Fica muito brega”. Para Vera, não é fácil agradar aos filhos. “O que eles acham bonito não combina com o meu modo de ser”.
        Camila Militello, de 12 anos, está segura do bom gosto da mãe, Telma Anauate, mas fica atenta a suas minissaias. Se Telma abusa do comprimento, a filha é categórica. “Ela diz que fica ridículo e que eu não deveria sair de casa daquele jeito”, conta a mãe. “Acho que fico com ciúme porque ela chama atenção”, justifica Camila.
        A administradora de empresas Rosaura de Oliveira enfrenta patrulha um pouco mais complicada. A filha Fernanda, de 7 anos, é capaz das maiores cenas para deixar claro que não está disposta a ver a mãe namorando. “Quando recebo a visita de um namorado, ela não o cumprimenta e ainda faz cara feia”. Sair à noite para ir ao cinema ou jantar com amigos também aborrece a menina. “Se pudesse, ela me trancaria na gaveta”.
        Para Fernanda, a mãe só deveria se interessar por programas que a incluam e a palavra namorado deveria ser cortada do vocabulário. “Não gosto que ela namore, pois fico com ciúmes”. Rosaura acredita que Fernanda esteja passando por uma fase comum da infância e tenta lidar com o problema com paciência e carinho. “Acho comum os filhos sentirem necessidade de exclusividade nessa fase”, diz. “Procuro explicar e não deixo de fazer o que tenho vontade”.

                 O Estado de São Paulo, 8 out. 1995.
                              Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 215-7.
Entendendo a reportagem:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Encenação: ato de agir como se estivesse representando no palco.

·        Policiar: fiscalizar, regular ou manter em ordem.

·        Relaxado: descuidado, negligente, desmazelado.

·        Incansável: ativo, laborioso; infatigável.

·        Delimitar: fixar os limites de, demarcar.

·        Concreto: relativo a realidade, real, efetivo; material de construção feito com cimento, areia, pedra britada e água.

·        Brega: diz-se da pessoa ou coisa que revela mau gosto; deselegante, fora de moda, “cafona”.

·        Exclusividade: especial, privativo, restrito.

02 – O texto que você leu é uma reportagem ou uma notícia?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É uma reportagem, pois não apresenta um fato que seja notícia, mas sim expõe um assunto.

03 – Qual é o tema?
      O relacionamento entre pais e filhos hoje em dia e a dificuldade dos pais em respeitar os desejos dos filhos, sem passar por cima dos seus próprios.

04 – O que existe de curioso no comportamento dos filhos no texto?
      O curioso é que os filhos buscam controlar a vida dos pais, quando habitualmente acontece o contrário.

05 – Na sua opinião, os filhos estão certos ao chamar a atenção dos pais? Faça um comentário a respeito.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Quais as atitudes que você condenaria nos pais presentes no artigo? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Você faz com seus pais o mesmo que as crianças do texto? Como eles reagem aos seus comentários?
      Resposta pessoal do aluno.

08 – O que você acha do comportamento dessas crianças?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Crie outro título para esse texto.
      Resposta pessoal do aluno.


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