terça-feira, 10 de março de 2020

HISTÓRIA: O LIMOEIRO E AS LAGARTAS - NEUZA PEREIRA RODRIGUES - COM GABARITO


História: O limoeiro e as lagartas
        
     Neuza Pereira Rodrigues

  A balança, o brinquedo favorito da menina, ficava num limoeiro que foi tomado por lagartas. Assustada, ela primeiro fugiu, mas aprendeu depois a compartilhar seu espaço com as visitantes

   Quando era menina, por volta dos 6 anos, morava num bairro simples da periferia de São Paulo. Meus irmãos e eu íamos a pé para a escola sozinhos e minha mãe ficava tranquila de que nada nos aconteceria porque sabia que, ao longo da caminhada de 1 quilômetro, encontraríamos muitos conhecidos.
        Não havia como não se sentir bem ali no bairro, pois todas as famílias eram amigas. Meu pai trabalhava numa indústria de vidros e minha mãe era doméstica na casa da dona do empório da esquina. Como o salário deles dava apenas para as despesas com comida – não sobrava para comprar brinquedos –, nós nos contentávamos em brincar de corda, de roda e de passa anel.
        Minha irmã, a quem chamávamos de Dinda, tinha 8 anos. Um pouco retraída, nunca revelava seus sonhos ou suas preferências. Lembro apenas que, às vezes, disputávamos o brinquedo de que eu mais gostava: a balança feita com um pedaço de corda que a patroa da minha mãe dera para esse fim. Meu pai a amarrara num dos galhos do limoeiro do nosso quintal. Mas nós duas não brigávamos pela balança. Eu apenas tinha de esperar minha irmã se balançar: ela logo se cansava e, então, eu podia aproveitar.
        Todas as manhãs, sem exceção, eu ia me balançar. O vento batia em meu rosto e eu, intrigada, tentava entender como de um pé de limão, que dava frutos tão azedos, podiam nascer flores com um perfume tão doce. Muitas vezes, nem sequer notava que o pedaço de tábua ou almofada, que eu colocava para não machucar a perna, tinha caído. Eu já não trocava minha balança por nada. Não entendia como minha irmã podia preferir brincar de casinha, e meu irmão, de bolinha de gude.
        Numa certa manhã, corri para a minha balança. Lembro-me de que chovera na noite anterior e a corda, ainda molhada, deixava marcas na minha roupa. Depois de duas ou três balançadas saltei, espantada, para trás, ao perceber que o tronco do limoeiro estava repleto de lagartas. Fiquei indignada! Aquele era o meu limoeiro! Como aquelas lagartas tinham aparecido? Quando iriam embora? E se uma delas pulasse em cima de mim?
        Senti que perdera meu brinquedo favorito e que meu doce limoeiro me traíra, dando abrigo àqueles vermes. Passei três dias observando, de longe, o que acontecia. As lagartas eram feias, moles, passavam umas por cima das outras mas pareciam nem se importar comigo. Tentei brincar de casinha, assistir à TV, mas nada se comparava à minha balança, onde eu flutuava e me divertia com as dezenas de personagens criadas pela minha imaginação.
        Concluí, então, que eu podia dividir com as lagartas o meu limoeiro porque, se estavam ali, havia alguma razão que só a natureza conhecia. Elas não iriam me expulsar, me fazer abrir mão do único brinquedo que me proporcionava infinitas horas de sonho e prazer. Hoje, trinta anos depois, ainda me lembro com saudades daquele limoeiro e também de suas lagartas, que todos os anos surgiam e com as quais aprendi a compartilhar um precioso espaço da infância.
              Depoimento de Neuza Pereira Rodrigues, São Paulo (SP)
             Revista Cláudia, São Paulo, Abril, 1996.
                            Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 163-5.
Entendendo a história:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Periferia: região distante do centro da cidade.

·        Empório: tipo de comercio de gêneros alimentícios e materiais de limpeza.

·        Retraída: tímida.

·        Proporcionar: oferecer.

·        Infinitas: sem fim.

·        Compartilhar: dividir.

02 – Situe a ação do texto no tempo e no espaço.
      A ação do texto acontece na infância da narradora, na periferia de São Paulo.

03 – Como vimos, uma história pode ser contada das seguintes maneiras: Em primeira pessoa do singular, na segunda pessoa do singular ou na terceira pessoa do singular. Depois de ter lido o texto “O limoeiro e as lagartas”, como você o classificaria quanto ao ponto de vista do narrador?
      É narrado em primeira pessoa pela personagem principal da história.

04 – Por que as crianças se contentavam em brincar de corda, de roda e de passa anel?
      Porque os pais não dispunham de dinheiro para comprar brinquedos.

05 – A balança era o brinquedo preferido da narradora. Quais eram os dos seus irmãos?
      A irmã gostava de brincar de casinha e o irmão, de bolinha de gude.

06 – Como se sente a menina no balanço?
      Ela se sentia muito feliz e nele vivia momentos de encantamento.

07 – Por que as lagartas atrapalhavam a brincadeira da menina?
      A menina sentia ciúmes da árvore e não queria dividir àquele espaço mágico com as lagartas.

08 – Como a menina resolveu o problema das lagartas?
      Ela aprendeu a dividir o limoeiro com as lagartas, pois concluiu que elas faziam parte da natureza.

09 – Como você entendeu: “... ainda me lembro com saudades daquele limoeiro e também de suas lagartas, que todos os anos surgiam e com as quais aprendi a compartilhar um precioso espaço da infância”?
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Copie em seu caderno as afirmações verdadeiras em relação ao texto:
a)   A narradora teve uma infância triste porque sua família era pobre.
b)   A narradora cresceu em ótimo ambiente, protegida pelos amigos e pelos pais.
c)   A irmã da narradora era muito tímida.
d)   A narradora aprendeu a conviver com a natureza.
e)   Havia oito crianças na numerosa família da narradora.
f)    Enquanto se balançava, a narradora criava personagens com a imaginação.

11 – A narradora do texto é uma garotinha bastante observadora. Que observações ela demonstra ter feito a respeito da natureza enquanto brincava?
      Sentia o cheiro das flores do limoeiro e se questionava como um pé de frutas tão azedas podia das flores com um perfume tão doce. Percebe que chovera na noite anterior por encontrar as cordas molhadas do balanço. Verifica que o tronco do limoeiro estava repleto de lagartas.
       

3 comentários:

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