NOTÍCIA: Menino-escritor rejeita
rótulo de gênio
O paulistano Gustavo Bolognani Martins, 14, lança nesta semana seu quinto livro
infantil
Armando Antenore
Ele tem a cara que se espera de um
menino prodígio: cabelos desgrenhados, óculos redondos de aro vermelho. Mas é
só a cara.
O tênis de cano alto e a bermuda de
skatista não deixam ninguém suspeitar que Gustavo Bolognani Martins, 14, já
escreveu cinco livros, todos para crianças.
Publicou o primeiro aos 9 anos. O
quinto, A Arca de Noésio, está lançando no próximo sábado, pela Ateliê
Editorial, com tiragem de 3.000 exemplares.
Desde que descobriu a literatura,
perdeu o direito de habitar o “mundo dos normais”. Mal se recorda de quantas
vezes jornais e revistas o tomaram por “superdotado” e até por “cê-dê-efe”.
“Não gosto que me rotulem assim.
Sinto-me excluído. Fico parecendo um cara de outro planeta”, confessa – para,
em seguida, apontar o paradoxo:
“Se sou superdotado, preciso estudar
menos que a maioria das pessoas, certo? Então, como é que podem me chamar de
cê-dê-efe?”
Gustavo admite que possui, sim, “certa
facilidade para a raciocínio lógico”. “Mas, no futebol, não sou nem um pouco brilhante”.
De fato. Durante o campeonato escolar
do ano passado, o são-paulino jogou como goleiro. Engoliu 30 “frangos” em três
partidas.
E “inteligência emocional”, o menino
tem? “Já ouvi falar, embora não entenda direito o que é. Se significa arranjar
amigos e frequentar festas, posso dizer que quebro um bom galho em inteligência
emocional.”
No amor, entretanto, nem tudo são
flores. Gustavo, por ora, está sem namorada. “Atravesso uma fase ruim.”
Típico adolescente de classe média, o
jovem escritor mora numa casa de dois dormitórios em São Caetano do Sul (ABC
paulista).
Costumava partilhar o quarto com Tomás,
o irmão mais velho. De repente, “deu vontade de separar”. Levou a cama para o
escritório e passou a dormir lá.
Desejo de ser mais independente? “Não.
Nunca tive esses conflitos existenciais. Saí do quarto porque o Tomás roncava.”
Quem pensa que o garoto reserva muito
tempo para escrever se engana. De manhã, vai à escola (cursa a oitava série). Á
tarde, estuda inglês e guitarra.
“Toco há um ano. Estou no estágio ‘dá
pra enganar’, conhece?” Traduzindo: já sabe dedilhar “Stairway to Heaven”, o
hit de 11 entre 10 guitarristas-mirins.
Também aprende japonês com a “vódrasta”
Mikiko, segunda mulher de seu avô materno.
Às quartas-feiras, comanda o programa
“A Hora do Lanche” na Rádio Vitrola FM, uma emissora comunitária de São
Caetano.
Divide o microfone com o amigo Dennis.
O lema da dupla é: “Mais música e menos falação. Até porque a gente não tem
nada a dizer”.
O programa – que ocupa a faixa das 15h
às 17h – abre espaço para o rock do Nirvana, Ramones, Deep Purple e Titãs.
Entre uma “pauleira” e outra, os
locutores arriscam “piadas infames”. Exemplo: o que é um ponto amarelo no meio
do mar? É um Fandango suicida. E quem vai salvar? Rufles, a batata da onda.
“Guinness
Book”
A carreira literária de Gustavo começou
em 92, quando o garoto fez três redações escolares com temas propostos pela
professora.
O pai – Plínio Martins Filho, diretor
editorial da Edusp (Editora da USP) – leu, gostou e resolveu reunir as
histórias num livro-xerox, para consumo familiar.
Outros dois editores se interessaram
pelo produto. Nasceu assim, “Gustavo & Marina”, da Ars Poética e Giordano.
Com a publicação, o menino ganhou
espaço na edição nacional do “Guinness Book”, o livro dos recordes, como o
autor mais jovem do Brasil.
Desde então, não parou de escrever,
sempre a máquina (só passa o texto para o computador depois que o considera
pronto).
O novo trabalho – uma releitura da
história bíblica de Noé – é todo em rima, por influência dos best-sellers de
Ziraldo, que Gustavo devorava.
O próximo, ainda sem data de
lançamento, deverá brincar com os Três Porquinhos. “Vou transformá-los em
sem-terra. O lobo mau atacará de latifundiário.”
Por mais que tente, Gustavo não sabe
explicar de onde tira inspiração para tantos livros. “Não sei, mas poderia
imitar o Carlinhos Brow e dizer que a inspiração vem do nada e que o nada é
tudo”.
Folha
de São Paulo. 18 mar. 1997. Ilustrada.
Fonte:
Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto
Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 226-7.
Entendendo a reportagem:
01 – Cite um trecho do texto em que a fala é do próprio
Gustavo.
Sexto parágrafo:
“Se sou superdotado, preciso estudar menos que a maioria das pessoas, certo?
Então, como é que podem me chamar de cê-dê-efe?”
02 – Cite um trecho em que a
fala é do jornalista.
“Às
quartas-feiras, comanda o programa “A Hora do Lanche” na Rádio Vitrola FM, uma
emissora comunitária de São Caetano.”
03 – Que semelhança você vê
entre Gustavo e outros adolescentes da mesma idade?
Não é tão bom nos
esportes, cursa a 8ª série, estuda inglês e guitarra.
04 – O que faz dele
“notícia”?
O fato de ter
escrito alguns livros nessa idade e tê-los publicado.
Resposta pessoal do aluno.
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