Reportagem: Caça ao tesouro ameaça
indígenas
O quintal dos índios nambiquara foi
invadido por milhares de homens à procura de ouro. Os garimpeiros, como são
chamados, chegaram à terra nambiquara há três meses e hoje já são 10 mil.
Os nambiquara vivem no oeste do Estado
do Mato Grosso, perto da fronteira com a Bolívia.
Até 1960, eles tiveram pouco contato
com brasileiros não-índios. Desde então, com a chegada das fazendas e das
estradas, a terra nambiquara vem sendo ameaçada.
O garimpo de ouro é um trabalho que
atrai muita gente muito rápido.
As pessoas vão para os garimpos porque
ouvem falar de outros que ficaram ricos escavando a terra e os rios.
Há histórias de gente que achou 300
gramas de ouro em um só dia.
O garimpo avança pela floresta,
principalmente pelas beiras de rios e córregos desviados. Máquinas fazem o
trabalho pesado de lavar e dragar (chupar) o solo que fica no fundo dos rios.
Os garimpeiros procuram ouro em meio à lama que é retirada.
Para agregar (juntar) as pedras de ouro
e separá-las do barro, é preciso usar mercúrio, um metal líquido que polui rios
onde índios pescam.
Os garimpeiros também trazem doenças
como malária e diarreia, a que os índios tem baixa resistência.
Em 1972, após contato com os homens da
cidade, mais da metade dos nambiquara morreu doente de sarampo.
Colaborou Rubens
Valente, free-lance para a Agência Folha, na reserva Sararé (MT)
Nambiquara
caem no conto da madeira
da
Redação
A floresta dos nambiquara vem sendo
derrubada por comerciantes de madeira. Eles invadem a reserva dos índios à
noite e roubam árvores enormes para depois vender.
O mogno, uma madeira escura que serve
para fazer móveis de luxo, é a árvore mais procurada.
A exploração do mogno é controlada por
lei, além de ser proibida em reservas de índios.
Os nambiquara usam a floresta para
caçar, colher e plantar.
Existe um órgão, chamado Funai
(Fundação Nacional do Índio), que ajuda a proteger o território dos nambiquara.
Mas os fiscais são poucos e têm
dificuldades para localizar os madeireiros, que usam uma técnica especial para
conquistar os indígenas.
Eles costumam dar presentes, como
enlatados, gasolina e armas, em troca de permissão para cortar madeira.
Só agora, com a destruição de sua
floresta, os índios perceberam que entraram numa encrenca. (FR)
Reserva é para manter costumes
Hoje a maioria dos índios mora em
reservas como a dos nambiquara, criada em 1985.
Reservas são territórios onde não se
pode construir cidades nem montar fazendas. Lá só usam a terra os indígenas,
isto é, os nativos da terra.
As reservas são necessárias pois os
indígenas precisam de espaço para caçar, pescar ou mudar suas aldeias de lugar.
As reservas também evitam que os índios
tenham de alterar seu modo de vida. Se fossem trabalhar em sítios, garimpos ou
fábricas, não saberiam. Além disso, perderiam seus costumes, que são a
contribuição mais importante que dão aos outros povos. (FR)
Criança nunca apanha dos pais
A criança nambiquara tem um
grande privilégio: nunca apanha dos pais.
Os adultos perdoam seus filhos quando
eles aprontam, pois são considerados “apenas crianças”. Só aos grandes são
dadas responsabilidades.
A brincadeira preferida dos
nambiquarinha é imitar gente grande, principalmente os pais. Eles também nadam
no rio e brincam com pequenos animais do mato, como macaquinhos e quatis.
O funcionário da Funai Ariovaldo J.
Santos, que viveu 12 anos com os índios, conta que as crianças aprendem na
escola muitas brincadeiras da cidade.
“O jogo de futebol virou passatempo em
várias aldeias. Quando vão à escola, fora da aldeia, as crianças nambiquara
brincam de cantiga de roda e pique. Elas gostam de toda brincadeira que tenha
música ou canto”, diz.
Na escola, os nambiquara aprendem a ler
e escrever sua língua e também o português. É na sala de aula que as crianças
da aldeia ficam conhecendo como vivem os outros brasileiros. (FR)
Folha
de São Paulo, 3 jan. 1997. Folhinha.
Fonte: Português – Linguagem
& Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas –
Ed. Saraiva, 1999, p. 153-5.
Entendendo a reportagem:
01 – Onde vivem os índios
nambiquara?
A oeste do Mato
Grosso, na fronteira com a Bolívia.
02 – O que são reservas? Por
que são importantes para os índios?
Reservas são
territórios demarcados pelo governo para os indígenas viverem. São necessárias
para os índios manterem seus hábitos culturais como caçar, pescar ou mudar suas
aldeias de lugar, sem alterar seu modo de vida.
03 – De que maneira o
garimpo tem ameaçado a vida dessa tribo?
Em primeiro
lugar, as aldeias se viram ameaçadas com a chegada das fazendas e das estradas.
Depois, os garimpeiros invadiram as terras em busca do ouro, poluíram os rios e
levaram às tribos doenças contra as quais os índios não tem defesas orgânicas.
04 – Além do garimpo, os
índios enfrentam também a derrubada das matas em busca da madeira. Explique
essa afirmação.
Os comerciantes
de madeira tem invadido a reserva dos índios, derrubando as florestas, roubando
árvores enormes à noite para depois vende-las.
05 – Por que a Funai
(Fundação Nacional do Índio) não consegue controlar essas invasões?
Porque os fiscais
são poucos para o espaço ocupado pelos invasores, além do fato de muitos índios
se deixarem seduzir por presentes como gasolina, enlatados e armas em troca da
permissão para invadir sua reserva.
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