TEXTO: Os filhos da bolha
Superprotegidos,
jovens dos condomínios fechados mostram despreparo para o mundo real
Quando os primeiros condomínios
fechados surgiram, na década de 70, muitos pais de classe média de São Paulo e
do Rio de Janeiro viram nesses empreendimentos uma ótima chance de proporcionar
a seus filhos uma infância e juventude livres da poluição e da violência. Nada
mais legítimo. Em São Paulo, o fenômeno concretizou-se na forma de bairros
afastados, cheios de casas bacanas, que oferecem todos os tipos de serviço e
tentam reproduzir o estilo de vida dos pacatos subúrbios americanos que se veem
nos filmes. No Rio, os condomínios fechados assumiram a forma de conjuntos de
edifícios de alto padrão, localizados na Barra da Tijuca e circundados também
por uma rede de lojas e escolas exclusivas para seus moradores. Nessas
verdadeiras bolhas sócio-econômicas, crianças e jovens crescem despreocupados.
Como nem tudo é perfeito, eles também acabam isolados da realidade complexa das
grandes metrópoles brasileiras. Não é apenas o apartheid social que revela
seus efeitos – afinal ele é produto da diferenciação de classes, e não da
localização geográfica. Esse é um problema de toda a sociedade brasileira. Os
jovens “filhos da bolha” tendem a mostrar também despreparo para as tarefas
mais simples da vida na cidade. E aí há motivos para os pais ficarem
preocupados e pensarem se não está na hora de aproximar suas crianças do mundo
real.
A maioria dos jovens do topo da pirâmide
social que vivem em bairros não isolados também mal conhece o mapa da sua
cidade – em geral, saem pouco do percurso escola – clube – shopping center. Mas
não se pode dizer que entrariam em pânico ao enfrentar situações corriqueiras,
como pegar um ônibus ou metrô. Num caso imprevisto, dificilmente passariam
horas perdidos se fossem deixados no centro ou em qualquer outro lugar distante
de casa. Para os adolescentes de condomínios, os desafios são maiores. Muitos
deles confessam que ficariam perto do desespero na hipótese de ser obrigados a
se virar sozinhos.
Ângela Klinke, in revista Veja, 21 jun. 1995.
Fonte: Livro- Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento,
7ª Série. Editora Moderna, 1ªedição,1998.p.14/15
Entendendo o texto
1)
Qual a intenção dos pais, ao criar seus
filhos em condomínios fechados? Por quê?
Tentam proteger seus filhos dos perigos e da violência urbana. O
índice de violência vem aumentando nos grandes centros, o que assusta muito as
famílias.
2)
Que consequências essa atitude traz para a
vida dos adolescentes?
Eles ficam isolados de outros jovens e do mundo real, que existem
fora do restrito espaço em que vivem.
3)
Explique o sentido da expressão “bolhas
sócio-econômicas”.
Representam os espaços fechados que surgem em função do nível social
e econômico das pessoas, que precisam se proteger da violência em virtude de
seu padrão de vida mais elevado.
4)
Que diferenças de comportamento existem entre
os jovens de classe alta, de acordo com o texto?
Os que vivem em condomínios isolados, os “filhos da bolha”, não
sabem como agir fora de seu mundo, e os jovens também ricos, moradores de
bairros mais centrais, mas presos à rotina, não conhecem a cidade apesar de
terem mais traquejo que os outros.
5)
Em sua opinião, que outras opções teriam os
pais, para dar maior segurança a seus filhos?
Resposta pessoal. Sugestão: Morar em cidades menores, com menos
violência, para deixá-los viver mais livremente ou educa-los para se defender
do mundo real.
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