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Espírita: O livro dos Espíritos
ALLAN KARDEC –
Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas
e respostas
Livro Segundo
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
Capítulo III
RETORNO
DA VIDA CORPORAL À VIDA ESPIRITUAL
Separação
da alma e do corpo
154 – A separação da alma e
do corpo é dolorosa?
Não. Frequentemente
o corpo sofre mais durante a vida do que no momento da morte: neste, a alma
nada sente. Os sofrimentos que se experimentam algumas vezes no momento da
morte são prazer para o Espírito, que vê chegar o fim de seu exílio.
Na morte, a que ocorre pelo esgotamento
dos órgãos em consequência da idade, o homem deixa sem o perceber: é uma
lâmpada que se apaga por falta de energia.
Uma vez que os
laços que a retinham são rompidos, ela se desprende.
155.a) A separação se dá
instantaneamente e por uma transição brusca? Há uma linha de demarcação
nitidamente traçada entre a vida e a morte?
Não, a alma se
desprende gradualmente, não escapa como um pássaro cativo que é subitamente
libertado. Esses dois estados se tocam e se confundem; dessa forma, o Espírito
se desprende pouco a pouco dos laços que o prendiam: eles se desatam, não se
rompem.
Durante a vida, o Espírito está unido ao
corpo por seu envoltório semi-material ou períspirito. A morte é a destruição
apenas do corpo, e não desse segundo envoltório, que se separa do corpo quando
nele cessa a vida orgânica. A observação prova que, no instante da morte, o
desprendimento do períspirito não se completa subitamente; opera-se
gradualmente, com uma lentidão muito variável, conforme os indivíduos. Em
alguns, é bem rápido, e pode-se dizer que o momento da morte é o mesmo da
libertação, algumas horas depois. Mas em outros, sobretudo aqueles cuja vida
toda foi exageradamente material e sensual, o desprendimento é muito mais lento
e algumas vezes pode durar dias, semanas e até meses, o que não implica que
haja nos corpos a menor vitalidade, nem a possibilidade de um retorno à vida,
mas uma simples afinidade entre o Espírito e o corpo, que se deve sempre à
importância que o Espírito deu à matéria durante a vida. De fato, é racional
conceber que quanto mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais
ele sofrerá para separar-se dela, ao passo que a atividade intelectual e moral,
a elevação de pensamentos, operam um início de desprendimento, mesmo durante a
vida do corpo, e, quando chega a morte, o desprendimento é quase instantâneo.
Este é o resultado de estudos feitos sobre todos os indivíduos observados no
momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade que em certos
indivíduos persiste entre a alma e o corpo é, às vezes, muito penosa, pois o
Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Esse caso é excepcional e
peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte, mostra-se em
alguns casos de suicidas.
156 – A separação definitiva
da alma e do corpo pode ocorrer antes que a vida orgânica cesse completamente?
Na agonia, a alma às vezes já deixou o
corpo: há somente a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si
mesmo, ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo é uma máquina movida pelo
coração; existe enquanto o coração fizer circular o sangue nas veias, e não
necessita da alma para isso.
157 – No momento da morte, a
alma tem, às vezes, uma aspiração ou êxtase que a faz entrever o mundo no qual
vai entrar?
Frequentemente a alma sente romperem-se
os laços que a prendem ao corpo. Então, ela se esforça ao máximo para
desfazê-los totalmente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro
desenrolar-se à sua frente, e usufrui, por antecipação, do estado de Espírito.
158 – O exemplo da lagarta
que primeiramente rasteja na terra e depois se fecha em seu casulo, numa morte
aparente, para renascer numa existência radiante, pode dar-nos uma ideia da
vida terrena, depois do túmulo e, enfim, de nossa nova existência?
Uma leve ideia. A
figura é boa. Entretanto, seria necessário não a levar ao pé da letra, como
fazeis frequentemente.
159 – Que sensação a alma
experimenta no momento em que se reconhece no mundo dos Espíritos?
Isso depende. Se
tu fizeste o mal impelido pelo desejo de fazê-lo, num primeiro momento te
sentirás envergonhado. Para o justo é bem diferente: a alma sente-se como que
aliviada de um grande peso, pois não teme nenhum olhar perscrutador.
160 – O Espírito reencontra
imediatamente os que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
Sim, conforme sua
afeição mútua; muitas vezes eles vêm recebe-lo na sua volta ao mundo dos
Espíritos, ajudando-o a desligar-se das amarras da matéria. Também ocorre com
frequência de reencontrar os que tinha perdido de vista durante sua vida na
Terra; ele vê os que são errantes; os que estão encarnados, vai visitar.
161 – Na morte violenta e
acidental, quando os órgãos ainda não enfraqueceram pela idade ou por doenças,
a separação da alma e o acessar da vida acontecem simultaneamente?
Geralmente
acontece assim, mas, em todo caso, o instante que os separa é muito curto.
162 – Após a decapitação,
por exemplo, o homem conserva, por alguns instantes, a consciência de si mesmo?
Frequentemente ele a conserva durante
alguns minutos, até que a vida orgânica seja completamente extinta. Porém,
muitas vezes também a apreensão da morte o faz perder essa consciência, antes
do instante do suplício.
Trata-se, aqui, apenas da consciência que
o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e
não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode então
conservá-la por alguns instantes, mas de curtíssima duração, que cessa
necessariamente com a vida orgânica do cérebro. Isso não implica que o
períspirito esteja inteiramente desprendido do corpo, ao contrário: em todos os
casos de morte violenta, quando esta não ocorre pela extinção gradual das
forças vitais, os laços que unem o corpo ao períspirito são mais tenazes, e o
desprendimento completo é mais lento.
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