terça-feira, 19 de novembro de 2019

CRÔNICA: RITINHA DOS SONHOS DOS OUTROS - HARDY GUEDES - COM GABARITO

CRÔNICA: Ritinha dos sonhos dos outros
                     Hardy Guedes

        Quando Ritinha tinha 8 anos, sua madrinha perguntou:
        -- O que é que você vai ser quando crescer, Ritinha?
        -- Não sei ainda, Dindinha!
        -- Eu acho que você devia ser professora. Já imaginou, você ensinando uma porção de crianças a ler e escrever?
        -- É, Dindinha! Acho que vou ser professora.
        -- Depois, isso é que é profissão boa para uma moça.
        A partir desse dia, toda vez que alguém perguntava a Ritinha o que ela ia ser quando crescesse, ela respondia:
        -- Vou ser professora! A Dindinha falou que é bom.
        Mas a tia Vilma, que era professora, quando ouviu a Ritinha dizendo isso, falou:
        -- Eu acho que a sua Dindinha não sabe o que diz. Isso lá é conselho que se dê? Olhe só para a sua tia. Eu sou professora. Sou obrigada a aturar um bando de desordeiros, tenho sempre um montão de cadernos para corrigir, carrego um peso danado e, no fim do mês, ganho uma miséria. Se eu fosse você, Ritinha, ia ser artista de teatro ou de televisão.
        -- Ser artista é bom, titia?
        -- Bom, não, é ótimo! Viaja para diversos lugares, fica famosa, ganha muito dinheiro.
        -- Então, vou ser artista.
        Um dia, o pai de Ritinha pegou a menina em frente ao espelho, fazendo poses e trejeitos, usando pintura.
        -- O que é que você está fazendo, menina?
        -- Estou treinando para ser artista!
        -- E eu, por acaso, quero filha artista?
        -- A tia Vilma disse que é legal.
        -- Legal, que nada! Artista não tem paradeiro. É igual a cigano. Além do que, todo artista é malfalado. Trate de tirar essa pintura do rosto e essas ideias da cabeça.
        -- O que é que eu vou ser então?
        -- Dona de casa. Quando você crescer o bastante, vai aparecer um bom rapaz na sua vida. Você vai se casar, ter filhos e cuidar da sua casa, que é o lugar certo para a mulher.
        -- Então é isso que eu vou ser: uma boa dona de casa!
        Ritinha foi pra cozinha e começou a mexer nas panelas.
        -- Ritinha! Saia já daí! Quer se queimar?
        -- Foi o papai que mandou, mamãe. Ele quer que eu seja uma dona de casa, igualzinha à senhora.
        -- E isso lá é vida que se deseje pra alguém? A mulher, hoje em dia, tem que ser independente. Trabalhar fora, ter a sua profissão, ganhar o seu próprio dinheiro... Se eu fosse você, ia ser tudo, menos dona de casa. Olhe só para as minhas mãos! Estão ásperas de tanto lavar roupa, lavar louça...
        Ritinha se sentia perdida. Cada pessoa queria que ela fosse algo que as outras não queriam. O que fazer? A quem agradar?
        Ritinha foi ficando triste, muito triste. Sempre pensativa.
        Um dia, o vô Almir notou a sua inquietação.
        -- O que é que você tem, Ritinha?
        -- Ai, vô! Não sei o que faço da vida...
        -- Por que, queridinha?
        -- A Dindinha quer que eu seja professora! A tia Vilma quer que eu seja artista. O pai não pode nem ouvir falar nisso. Quer que eu seja dona de casa. A mãe só reclama da vida de dona de casa...
        -- E o que é que você quer ser?
        -- Agora é que eu não sei mesmo, vô.
        -- Ritinha, você é muito nova ainda para se preocupar com essas coisas. Não ligue para o que as pessoas falam ou querem. Você tem tempo para escolher.
                                                 Hardy Guedes.
Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 109-12.
Entendendo o texto:

01 – O narrador é também personagem? Justifique.
      Não. O narrador apenas conta o fato. Ele não participa da história.

02 – “-- Depois, isso é que é profissão boa para uma moça.”
a)   Substitua a palavra boa por uma palavra ou expressão sem alterar o sentido do texto.
Adequada, ideal.

b)   Houve um tempo em que as mulheres não podiam sequer sonhar em ser médicas, engenheiras, arqueólogas, motoristas de táxi, etc. Essa ideia ainda é válida hoje? Justifique sua resposta.
Não. Esse conceito já está ultrapassado.

03 – “Já imaginou, você ensinando uma porção de crianças a ler e escrever?”.
a)   Saber ler e escrever é importante para as pessoas? Justifique sua resposta.
Sim. Porque permite a comunicação pela linguagem escrita e o acesso a inúmeras informações.

b)   O comentário da madrinha de Ritinha leva a crer que ser professor é bom ou ruim?
Leva a crer que é bom.

04 – “Eu sou professora. Sou obrigada a aturar um bando de desordeiros, tenho sempre um montão de cadernos para corrigir, carrego um peso danado e, no fim do mês, ganho uma miséria.”

a)   Qual o significado de desordeiro?
Aquele que aprecia ou cria a desordem.

b)   Todos os alunos são desordeiros? Tome como base você mesmo e a sua sala de aula.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: nem todos os alunos são desordeiros.

c)   Com base nas respostas do exercício 2, responda: O texto mostra aspectos positivos ou negativos da profissão de professor?
De acordo com o texto, ele mostra tanto aspectos positivos e negativos da profissão. 

05 – Segundo o texto, a tia Vilma é professora, não é artista. Mas ela demonstra ter uma opinião formada sobre os artistas.
a)   Qual a opinião de tia Vilma sobre a vida de artista?
Ela acha que é uma vida boa, em que há muitas viagens, fama e dinheiro.

b)   Tia Vilma diz que, se fosse Ritinha, ia ser artista. O que podemos concluir dessa afirmação?
Podemos concluir que ser artista é o sonho de tia Vilma.

06 – O pai de Ritinha não concorda com a opinião de tia Vilma. Compare as opiniões dos dois.
·        Tia Vilma: artistas viajam muito, artistas são famosos.
·        Pai de Ritinha: artistas não têm paradeiro, artistas são malfalados.

     Observe que viajar muito é considerado bom por tia Vilma e ruim pelo pai de Ritinha. Ser uma pessoa conhecida é considerado bom por tia Vilma. Já o pai de Ritinha acha que de um artista só se pode falar mal.

a)   O que podemos concluir então sobre a profissão de artista?
Que ela pode ser boa para alguns, mas é ruim para outras.

b)   A conclusão do item a vale para outras profissões?
Sim.

07 – O pai de Ritinha sugere que ela se torne uma dona de casa. Essa sugestão pode ser comparada à sugestão de Dindinha de duas maneiras. Identifique-as:
a)   Em relação ao papel da mulher na sociedade.
Tanto a Dindinha quanto o pai de Ritinha têm opiniões ultrapassadas sobre o papel da mulher na sociedade.

b)   Em relação à opção profissional sugerida.
Assim como a Dindinha não conhece a vida de professora, o pai de Ritinha nunca esteve no papel de dona de casa.

08 – A atitude da mãe de Ritinha é semelhante à atitude de tia Vilma. O que as duas mulheres têm em comum?
      Ambas estão insatisfeitas com suas vidas.

09 – Por que cada personagem oferece um sonho para Ritinha?
      Porque cada uma oferece à menina o seu próprio sonho.

10 – Considerando-se as respostas do exercício 6, responda: Por que o sonho de uma personagem não agrada à outra?
      Porque cada um tem uma maneira diferente de ver a vida.

11 – O título, “Ritinha dos sonhos dos outros”, parece ser coerente com o texto? Justifique sua resposta.
      Sim, pois durante a narrativa cada personagem fala sobre o sonho que tinha para si mesma e que tenta transferir para Ritinha.


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