Poema: Vocação
do poeta
Murilo
Mendes
Não nasci no começo deste século:
Nasci no plano eterno,
Nasci de mil vidas superpostas,
Nasci de mil ternuras desdobradas
Vim para conhecer o mal e o bem
E para separar o mal e o bem.
Nasci no plano eterno,
Nasci de mil vidas superpostas,
Nasci de mil ternuras desdobradas
Vim para conhecer o mal e o bem
E para separar o mal e o bem.
Vim para amar e ser desamado.
Vim para ignorar os grandes e consolar os pequenos
Não vim para construir a minha própria riqueza
Nem para destruir a riqueza dos outros.
Vim para reprimir o choro formidável
Que as gerações anteriores me transmitiram.
Vim para experimentar dúvidas e contradições.
Vim para sofrer as influências do tempo
E para afirmar o princípio eterno de onde vim.
Vim para distribuir inspiração às musas.
Vim para anunciar que a voz dos homens
Abafará a voz da sirene e da máquina,
E que a palavra essencial de Jesus Cristo
Dominará as palavras do patrão e do operário.
Vim para conhecer Deus meu criador, pouco a pouco,
Pois se O visse de repente, sem preparo, morreria.
MENDES,
Murilo. “Vocação do poeta”. In: Poesia e prosa completa. Rio de Janeiro, Nova
Aguilar, 1994. p. 248.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio –
Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 357.
Entendendo o poema:
01 – Segundo as palavras de
Cristo, “Todo aquele pois que se fizer pequeno, como este menino, esse será
grande no reino dos céus” (Mateus; XVIII,4). Em que verso pode-se perceber a
presença dessa passagem bíblica?
“Vim para consolar os grandes e ignorar
os pequenos”.
02 – Relendo a 2ª estrofe,
você diria que os objetivos do eu lírico são materiais ou espirituais?
Justifique com um verso da estrofe em questão.
Espirituais. “Não vim para construir
minha própria riqueza”.
03 – Diante de um mundo em
que prevalece a mecanização, qual a esperança do eu lírico?
Para o eu lírico,
“a voz dos homens abafará a voz da sirene e da máquina”.
04 – Segundo o eu lírico, o
que poderá eliminar definitivamente o conflito entre os homens, entre o capital
e o trabalho, entre patrões e operários?
“A palavra
essencial de Cristo”.
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