quinta-feira, 3 de outubro de 2024

POEMA: MEU PENSAMENTO É UM RIO SUBTERRÂNEO - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Poema: Meu pensamento é um rio subterrâneo

             Fernando Pessoa

Meu pensamento é um rio subterrâneo.

Para que terras vai e donde vem?

Não sei... Na noite em que o meu ser o tem

Emerge dele um ruído subitâneo

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO7lkwIur6bSQvaBTUsubuRF6OId4nWUriVCaelq6H44vsXeu7Ik7rd-dOhBb1mFsdxReHk3f0UDKgaVc4omrtwugAfyB_bTps_WYhZShL5dTxzdRu_RQZxtvzDZc-c391bMoRTU8-oqTuoPiYWJqGadcAaM7Mqk2lmSqN_QuGIWDN8-oLOsSOitNFrTQ/s320/RIO.jpg

De origens no Mistério extraviadas

De eu compreendê-las..., misteriosas fontes

Habitando a distância de ermos montes

Onde os momentos são a Deus chegados...

 

De vez em quando luze em minha mágoa

Como um farol num mar desconhecido

Um movimento de correr, perdido

Em mim, um pálido soluço de água...

 

E eu relembro de tempos mais antigos

Que a minha consciência da ilusão

Águas divinas percorrendo o chão

De verdores uníssonos e amigos,

 

E a ideia de uma Pátria anterior

À forma consciente do meu ser

Dói‑me no que desejo, e vem bater

Como uma onda de encontro à minha dor.

 

Escuto‑o... Ao longe, no meu vago tacto

Da minha alma, perdido som incerto,

Como um eterno rio indescoberto,

Mais que a ideia de rio certo e abstrato...

 

E p'ra onde é que ele vai, que se extravia

Do meu ouvi‑lo? A que cavernas desce?

Em que frios de Assombro é que arrefece?

De que névoas soturnas se anuvia?

 

Não sei... Eu perco‑o... E outra vez regressa

A luz e a cor do mundo claro e atual,

E na interior distância do meu Real

Como se a alma acabasse, o rio cessa...

Obra Poética e em Prosa. Vol. I. Fernando Pessoa. (Introdução, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa.) Porto: Lello, 1986. - 1093.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 329.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal metáfora utilizada no poema e o que ela representa?

      A principal metáfora é a comparação do pensamento a um rio subterrâneo. O rio simboliza o fluxo inconsciente dos pensamentos, suas origens misteriosas e seu destino desconhecido. Ele representa a profundidade e a complexidade da mente humana, bem como a busca por respostas a questões existenciais.

02 – Qual a relação entre o pensamento e o tempo no poema?

      O pensamento é apresentado como um fluxo contínuo, que transcende o tempo presente. Ele se conecta a um passado remoto, a um "tempo mais antigo", e se projeta para um futuro incerto. Essa relação com o tempo confere ao pensamento um caráter atemporal e eterno.

03 – Qual o papel do mistério e da incerteza no poema?

      O mistério e a incerteza são elementos fundamentais do poema. O eu lírico busca compreender a origem e o destino de seus pensamentos, mas encontra apenas perguntas sem respostas. Essa busca por respostas insondáveis intensifica a experiência poética e nos convida a refletir sobre a natureza da consciência.

04 – Qual a importância da natureza para a expressão dos sentimentos do eu lírico?

      A natureza, representada pelo rio, pelos montes e pelas águas, serve como um espelho para os sentimentos do eu lírico. As imagens da natureza ajudam a expressar a profundidade e a complexidade das emoções, como a melancolia, a nostalgia e a busca por sentido.

05 – Qual a relação entre o pensamento e a identidade do eu lírico?

      O pensamento é parte intrínseca da identidade do eu lírico. Ele é o que o define, o que o move e o que o conecta com o mundo. Ao explorar as profundezas de seu pensamento, o eu lírico busca uma compreensão mais profunda de si mesmo.

06 – Qual o significado da "Pátria anterior" mencionada no poema?

      A "Pátria anterior" pode ser interpretada como um estado de consciência pré-racional, um lugar de origem onde os pensamentos fluem livremente, sem as limitações da razão. Essa pátria representa a busca por uma identidade mais autêntica e profunda.

07 – Qual a atmosfera geral criada pelo poema?

      O poema cria uma atmosfera de mistério, melancolia e introspecção. A imagem do rio subterrâneo evoca um sentimento de profundidade e de busca interior. A linguagem poética, rica em imagens e metáforas, contribui para a criação de um mundo interior rico e complexo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário