Poema: Cromo e nota de pé de página
Alípio
Freire
O céu é de um azul tão transparente
e alto e puro e limpo
que os flocos de nuvens
não temem brincar de carneirinhos
travessos e pacíficos
apascentados pela brisa suave
cavalgando os raios
do mais dourado sol de primavera.
Quando este cessa
concluindo o ciclo do dia
é a vez da lua de prata
cheia ou apenas sorridente
reinar entre as estrelas
E a Via Láctea dança para todos nós
sua dança noturna
desvendando seus sete véus
para pasmo do Sete Estrelos
e júbilo da mecânica celeste.
Cá em baixo
oceanos de turmalinas
enseadas de águas-marinhas
habitados por todas as espécies do mar
plantas e animais
do tempo em que os bichos falavam
contando estórias de príncipes e princesas
das sereias e da Mãe d’Água.
Depois são as areias
brilhando ouro ao sol
brilhando prata à lua.
Em seguida
as terras propriamente ditas
jardins das delícias com aleias cravejadas de brilhantes.
Há também as florestas com suas feras mansas
corolas de flores beijadas por borboletas
frutas maduras a enternecer pássaros
voos rasantes de libélulas sobre rios e lagos.
Por todos os lados
horizontes
amplos, infinitos, apaziguantes.
O bicho homem constrói suas casas
suas máquinas, suas vidas
em perfeita harmonia entre si
e com a natureza
Reconciliados.
As crianças de todas as raças
são coradas e sadias
todos os adultos são seus pais e mães
e o saber e a inteligência
são repartidos igualmente
como o pão e o vinho
o leite e o mel.
Há sobretudo uma alegria imensa
uma liberdade infinita
e o amor e a paixão são acessíveis a todos
(sem discriminação de raça, sexo, credo ou estado civil).
Tem até o trenzinho caipira
e o bonde da nossa infância
transportando todas as possibilidades de sonhos e querenças
transitando por quermesses ingênuas
cujas prendas têm o sabor de doces
que nossas mães prepararam para alimentar nossas alegrias.
Ah, meu camarada,
como dói a vida!
FREIRE, Alípio. Estação
Paraíso. São Paulo: Expressão Popular, 2007. p. 41-45.
Fonte: Maxi: Séries
Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas
de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 71-72.
Entendendo o poema:
01
– Qual a principal característica do mundo descrito no poema?
O mundo descrito
no poema é idealizado, caracterizado pela perfeição, harmonia e ausência de sofrimento.
A natureza é retratada como um paraíso, e a sociedade é justa e igualitária.
02
– Como o poeta contrasta a natureza com a sociedade humana?
O poeta estabelece uma
relação de harmonia entre a natureza e a sociedade humana idealizada. A natureza
é vista como um modelo de perfeição, e a sociedade humana busca imitar essa
perfeição, vivendo em equilíbrio com o meio ambiente.
03
– Quais são os elementos que compõem a sociedade idealizada no poema?
A sociedade
idealizada é composta por elementos como igualdade, fraternidade, harmonia,
ausência de conflitos, acesso igualitário a bens e serviços, e uma profunda
conexão com a natureza.
04
– Qual a função da última frase do poema ("Ah, meu camarada, como dói a
vida!")?
A última frase do
poema cria um forte contraste entre o mundo idealizado descrito nos versos
anteriores e a realidade dolorosa da vida. Ela revela a consciência do poeta da
impossibilidade de realizar esse ideal e expressa a dor causada pela distância
entre o desejo e a realidade.
05
– Que tipo de crítica social pode ser inferido do poema?
O poema pode ser
interpretado como uma crítica às desigualdades sociais, à violência, à
exploração e à alienação presentes na sociedade real. A visão idealizada serve
como um contraponto para denunciar as injustiças do mundo real.
06
– Qual o papel da natureza no poema?
A natureza
desempenha um papel fundamental no poema, servindo como metáfora para a
perfeição e a harmonia. Ela representa um estado ideal a ser alcançado pela
humanidade, e seus elementos são utilizados para simbolizar valores como
pureza, beleza e equilíbrio.
07
– Como o poema pode ser interpretado à luz do contexto histórico em que foi
escrito?
A interpretação
do poema pode variar dependendo do contexto histórico em que foi escrito. É
importante considerar as condições sociais, políticas e econômicas da época
para compreender as motivações do poeta e as possíveis críticas sociais
implícitas no texto.
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