Conto: A Cartomante
Hamlet observa a Horácio que há mais
cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação
que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869,
quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a
diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não
acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da
consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as
cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que
sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me
que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você
soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria
de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para
ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de
criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era
ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas
casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao
entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na rua da Guarda Velha;
não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas coisas?
perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que
traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e
verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a
cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranquila
e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas
reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e
ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a
mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair
toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como
tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo
depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não
poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo
mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante
do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais
que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a
estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a
repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era
na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu
pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu
pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela,
Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens.
Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a
carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do
pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada,
até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou
Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a
magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os
lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— É o senhor? exclamou Rita,
estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do
senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura.
Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do
Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos
gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que
ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis.
Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher,
enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a
ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns
para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe
intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi,
os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos
sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o
faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube
ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua
enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita.
Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para
incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e
passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela
mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a
ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele,
que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes
insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de
presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi
então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do
bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos,
deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a
mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim
são as coisas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já
não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo,
fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou
atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de
mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não
tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços
dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada
mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e
estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta
anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de
todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as
visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o
motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências
prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse
também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do
marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita,
desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira
causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a
confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda
algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão
apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum
pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas,
formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem
papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais
sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então
sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os
sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se
alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo
Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita
deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é
que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe
ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer
depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia
acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se
corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição,
recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso
falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua,
advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa?
Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão,
afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da
véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso
falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha
de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e
escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo.
Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso
repugnava-lhe a ideia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a
casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou
nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe
cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria
pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A
mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto
fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso.
Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas;
ou então, — o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a
própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem
demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e
ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção
crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a
crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado,
considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo
depois rejeitava a ideia, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na
direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou
seguir a trote largo.
— Quanto antes, melhor, pensou ele; não
posso estar assim...
Mas o mesmo trote do cavalo veio
agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o
perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua
estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o
obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda,
ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez,
e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas
fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do
incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não
ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas
morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as
superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir
por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para
fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a ideia de ouvir a
cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas;
desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu
outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua,
gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o
obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do
marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já,
já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele.
As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu
opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe
repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de
Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que
sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé da porta;
disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a
escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas
ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve ideia
de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes
latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher;
era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali
subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em
cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados
do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes
aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da
mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a
pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou
um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava,
rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma
mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e
agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz
aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto
afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe
acontecerá alguma coisa ou não...
— A mim e a ela, explicou vivamente
ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só
que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos
dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma,
duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela,
curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma
as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada
aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante,
era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor
que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante
acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao
espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da
cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
—
Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador,
tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e
levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com
passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando
duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a
mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como
pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele
afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu
ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis,
e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosta muito
dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranquilo. Olhe a escada,
é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota
na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo
despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a
cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo
achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as
outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais.
Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta
de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe
descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em
demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao
cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao
amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar
o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos,
reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o
objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não
adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas
e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o
mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si
mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a
exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da
despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com
os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e
impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao
passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até
onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do
futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela.
Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava
silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta
abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que
há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as
feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando,
Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava
Rita morta e ensanguentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de
revólver, estirou-o morto no chão.
ASSIS, Machado de. Contos.
Sel. de Deomira Stefani. São Paulo, Ática, 1996. p. 91-8.
Fonte: Linguagem
Nova. Faraco & Moura. Editora Ática. 8ª série. p. 182-192.
Entendendo o conto:
01 – Todo conto é uma
narrativa e, como tal, apresenta personagens e enredo. Esses fatos acontecem
num determinado lugar (espaço) e num determinado tempo.
a)
Quais são as personagens que aparecem nessa
história? Qual é a relação entre eles?
Vilela e Rita – casados; Camilo – amante de Rita e amigo de infância
de Vilela; e a cartomante.
b)
Resuma em poucas linhas o enredo do conto.
Resposta pessoal do aluno.
c)
Onde se passa a história?
Na cidade do Rio de Janeiro.
d)
Em que época?
Em 1869, isto é, segunda metade do século XIX.
02 – O que você entende da
frase dita por Hamlet e mencionada no texto: “Há mais coisas no céu e na terra
do que sonha a nossa filosofia”?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Há muitos mistérios na vida; a vida é muito mais do que
podemos entender; nem tudo na vida é passível de nossa compreensão.
a)
Em que momentos do conto aparece essa
citação?
No início e no momento em que Camilo esperava a cartomante.
b)
Na sua opinião, por que o autor escolheu
essas situações para colocar a frase de Shakespeare?
A frase é a introdução do conto, pois todo o desenvolvimento e o
desfecho nada mais são do que a comprovação dessa tese. Com isso o autor cria
um certo clima de suspense. Na segunda situação, a frase aparece quando Camilo
está muito angustiado; para aliviar-se, mesmo duvidando, recorre à cartomante.
03 – Quando uma pessoa não
acredita em nada, diz-se que ela é cética. O ceticismo está bastante presente
nos textos machadianos. Nesse conto, de que maneira aparece esse ceticismo?
No conto, a cartomante é totalmente
desacreditada.
04 – Em que linha do conto o
leitor toma conhecimento de que Rita e Camilo são amantes? por quê?
Linha 21. Porque
Camilo faz referência a Vilela.
05 – No início do conto, o
narrador limita-se a contar a história sem dar explicações. Em que linha o
narrador começa a comentar as origens das personagens? Transcreva a frase que
comprova sua resposta.
Linha 52.
“Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das
origens. Vamos a ela.”
06 – Descreva física e
psicologicamente o triângulo amoroso do conto.
Rita: 30 anos,
formosa, graciosa, olhos astutos, boca fina e interrogativa, viva nos gestos,
mas torta.
Vilela: advogado, 29 anos, porte grave,
parecia mais velho do que Rita.
Camilo: 26 anos, ingênuo, faltava-lhe
experiência e intuição.
07 – Quem, segundo o
narrador, é o responsável pela continuidade do envolvimento de Rita e Camilo?
Rita.
a)
Que comparação ele utiliza para se referir ao
comportamento de Rita?
Compara-a a uma serpente que estala os ossos de Camilo e pinga-lhe
veneno na boca.
b)
Qual é sua opinião sobre essa maneira de
analisar o sexo feminino?
Resposta pessoal do aluno.
08 – Que fato desencadeia a
mudança de comportamento de Camilo?
A carta anônima que recebe.
09 – Ao receber o bilhete de
Vilela, pedindo para ir à cada dele com urgência, Camilo ficou muito nervoso e
anteviu todo o drama. A essa altura da história você achava que o final seria
tão trágico? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.
10 – “Dir-se-ia a morada do
indiferente Destino.” (Linha 187).
a)
A que o narrador se refere?
O narrador se refere à casa da cartomante.
b)
Por que ele emprega o adjetivo indiferente?
Todas as janelas das outras casas estão abertas, cheias de curiosos
vendo o acidente, exceto as da cartomante, que parece estar alheia a tudo.
Camilo pensa também em seu destino, que continua uma incógnita.
11 – A angústia de Camilo
aumentava a cada instante. Enquanto andava de tílburi, que detalhe contribuiu
para aumentar mais o seu desespero?
O trote do
cavalo.
12 – O conflito interno por
que passou Camilo, antes de decidir-se a entrar na casa da cartomante, acabou
com uma impressão e duas lembranças. Que impressão e lembranças são essas?
Impressão: a casa
da cartomante parecia olhar para ele.
Lembranças: os casos que a mãe contava e
a frase de Hamlet.
13 – “... mistério
empolgava-o com as unhas de ferro”.
a)
Que figuras de linguagem estão presentes
nessa frase?
Metáfora: unhas de ferro; Antítese: empolgar com garras de ferro.
b)
Como você relaciona essa frase com o que
Camilo sentia naquele momento?
Essa antítese é reveladora do conflito que vivenciava: ficava
animado com as palavras da cartomante e ao mesmo tempo antevia o drama.
c)
Que frase do parágrafo seguinte reforça esse
conflito de Camilo?
“O coração ia alegre e impaciente”.
ÓTIMO, MUITO OBRIGADA!
ResponderExcluirO que levo os dois se apaixonar
ResponderExcluirComo daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita.
ExcluirMuito obrigada, me ajudou muito!!!
ResponderExcluirObrigadaaaaa
ResponderExcluirque caracteristica de rita chama a atenção de Camilo?
ResponderExcluirO conto é heterodiegético ou homodiegético?
ResponderExcluirHeterodiegético.
ExcluirMuito obrigado, minha colega de ofício, Jaqueline!
ResponderExcluirObrigadoooooooooooo[
ResponderExcluirMuito obrigada, ajudou muito!!
ResponderExcluirSó uma duvida isso tá certo pq é um trabalho
ResponderExcluirMuito obg ajudou e muito ♥️🙌
ResponderExcluirQuem, Segundo o narrador, é responsável pela continuidade do envolvimento de Rita e Camilo?
ResponderExcluirUma dúvida: porque Vilela acolheu Camilo em sua casa ?
ResponderExcluirA previsão do futuro: Leia a passagem do conto "A cartomante" de Machado de Assis, em que Camilo se consulta com a cartomante. Depois destaque no texto todas as expressões que dizem respeito ao lugar e que o caracterizam.
ResponderExcluirImagem sem legenda
Como essas expressões destacadas na questão anterior contribuem para o desenvolvimento da narrativa?
:)
ResponderExcluirObrigado
ResponderExcluirMe ajudou muitooo
ResponderExcluirO que ameaçou o romance de camilo e rita?
ResponderExcluirO conto diz qué camilo era cético explique?
ResponderExcluirAi gente isso me ajudou bastante tenho um trabalho pra entregar terça - feira 29 e isso me deu quase todas as respostas... Grata por existir esses tipos de sites que ajudam as pessoas nessas horas de sufoco🥰🤗
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