quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

CRÔNICA: A CASA DE MADRINHA - (FRAGMENTO) - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM GABARITO


Crônica: A casa de madrinha – Fragmento
          
                 Lygia Bojunga Nunes

        [...]
        -- Onde você mora?
        -- No Rio, e você?
        -- De Janeiro?!
        -- É. Moro em Copacabana. Mas fim de semana eu passo em Ipanema.
        Vera ficou olhando espantada para ele. É claro que ela tinha visto que ele não era do lugar, mas nunca tinha imaginado que ele era garoto de Copacabana. Alexandre olhou pra ela:
        -- Conhece Copacabana?
        -- Não. Mas minha prima foi pra lá. Ela morava aqui na roça, o pai dela também plantava flor que nem o meu.
        -- Que flor ele planta?
        -- Cravo, zínia, agapanto e margarida, conhece?
        -- Não.
        -- Depois eu mostro. Mas aí o pai dela vendeu o sítio e foi pra lá. Mora na rua Siqueira Campos, perto de um túnel, conhece?
        -- Conheço.
        -- Pois é. E aí ela me escreveu dizendo que tudo quanto é colega da escola dela nunca viu nem coelho, nem tatu e muito menos uma paca, já pensou? Disse que o garoto que senta do lado dela nunca viu nem uma galinha. Só assada na mesa já pronta para comer. E que ele nunca tinha pensado que antes a galinha andava e voava. E porco também nunca viram.
        -- Lá onde eu moro tem porco.
        -- Em Copacabana?
        -- É.
        -- Mas tem?
        -- Tem uns lugares que tem, sim.
        -- E tatu, coelho e paca, também tem?
        -- Isso eu nunca vi. Aqui tem?
        -- Assim. Depois eu mostro.
        -- E você onde é que mora?
        Vera apontou uma plantação de flor.
        -- A casa é no fundo. Tem um quintal superlegal: vai até o rio.
        -- E o rio também é teu?
        -- Não, é dele mesmo.
        Alexandre riu. Vera não tinha falado pra fazer graça: encabulou; ficou olhando uma formiga no chão. “Será que esse pessoal que nunca viu tatu nem coelho nem galinha viva é assim que nem eu? pensa igual a mim?” Espiou Alexandre de rabo de olho. Ele era mais queimado do que ela, mais alto, falava mais gostoso, tinha roupa velha e pé no chão. Mas o resto não estava parecendo assim tão diferente, não. “Bom, mas ele não é que nem os colegas da minha prima: tem um porco lá onde ele mora”.
        [...].
                                A casa da madrinha. Lygia Bojunga Nunes.
                             Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p.137-9.
Entendendo a crônica:

01 – Alexandre mora em Copacabana. E Vera, onde parece morar? Justifique sua resposta.
      O texto indica que Vera mora no interior, pois mora perto de um rio, de flores e em um local em que há vários animais.

02 – “De Janeiro?!” O que indica a associação entre um ponto de interrogação e um ponto de exclamação?
      Indica espanto.

03 – “E aí ela me escreveu dizendo que tudo quanto é colega da escola dela nunca viu nem coelho, nem tatu e muito menos uma paca, já pensou?”.
a)   O que indica a expressão grifada?
Indica espanto.

b)   A partir da expressão grifada, podemos concluir que Vera achou comum ou raro o fato de as crianças não conhecerem os animais?
Achou incomum.

c)   Por que Vera teve essa reação em relação ao comportamento dos colegas de sua prima?
Porque, para ela, a convivência com os animais é parte da vida.

04 – “Alexandre riu”.
a)   Por que Alexandre riu?
Porque achou que Vera estivesse fazendo piada ao afirmar que o rio pertencia a ele mesmo.

b)   Por que Vera ficou encabulada?
Porque não tinha tentado ser engraçada.

c)   Por que Alexandre achou engraçado o comentário que Vera fez a sério?
Porque os dois têm maneiras diferentes de ver a vida.

05 – “Será que esse pessoal que nunca viu tatu nem coelho nem galinha viva é assim que nem eu?”
a)   O que provocou a reflexão de Vera?
O fato de Alexandre ter rido de sua observação sobre o rio.

b)   Por que Vera achou que ele não era diferente quanto os amigos de sua prima?
Porque havia um porco onde Alexandre morava.

c)   A vida na cidade e a vida no campo são diferentes? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As diferenças de hábitos, costumes, maiores ou menores facilidades para a sobrevivência, diferentes tipos de laser, níveis de violência, poluição, acesso à informação.

06 – A experiência da prima de Vera era diferente da experiência de seus colegas. Assim como eles não conheciam os animais, certamente havia coisas que ela não conhecia.
a)   O conhecimento da prima de Vera podia ser importante para os seus colegas?
Sim, pois ela estava oferecendo novas informações e mostrando a eles a existência de um mundo que não conheciam.

b)   O conhecimento dos colegas da prima de Vera podia ser importante para ela?
Sim, pois poderiam ajudá-la a viver melhor na cidade.

c)   Alexandre mostrou ter uma experiência diferente da experiência de Vera, da experiência de sua prima e também da experiência das crianças da escola. Por quê?
Porque ele tinha visto um porco, um animal que as crianças na escola não tinham jamais visto de perto.

07 – Por ter uma experiência de vida diferente, Alexandre achou a frase de Vera engraçada. Reflita: a interpretação de um texto, assim como a interpretação da vida, pode variar de acordo com a experiência de cada pessoa? Por quê?
      Porque as pessoas diferentes veem de maneira diferente o mundo e que por isso mesmo o texto nunca tem uma só interpretação possível.

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